Copa 2014
15 de setembro de 2011O número é simbólico: em mil dias, o Brasil precisa estar pronto para sediar a Copa do Mundo de Futebol. Diante da pressão e olhares internacionais críticos ao ritmo dos preparativos, uma legião de ministros brasileiros veio a público nesta quarta-feira (14/09) para garantir que o país cumprirá suas metas a tempo.
Orlando Silva, ministro dos Esportes, disse que as obras nos estádios de todas as 12 cidades-sedes já começaram. Depois da prolongada polêmica sobre qual arena esportiva sediaria os jogos em São Paulo e dos bate-bocas via imprensa com a Fifa, Silva declarou: "Consideramos o assunto 'estádio' uma questão resolvida. Nove dos doze estarão prontos até 2012 e todos os demais serão finalizados até 2013".
Só para esse setor, o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) colocou 400 milhões de reais à disposição de cada cidade-sede. Até agora, o banco já liberou 2,3 bilhões de reais para serem usados na construção e reformas de estádios, segundo números do governo. No ranking das obras mais caras, a reforma do Maracanã aparece em primeiro lugar: 931 milhões de reais. Em segundo, vem o Itaquerão, com construção estimada em 820 milhões de reais.
Chegadas e partidas
Sobre as obras de infraestrutura, outro item controverso na agenda governamental pré-Copa, Wagner Bittencourt, secretário da Aviação Civil, anunciou um reforço financeiro para a modernização dos aeroportos. O investimento para reformas nos terminais saltou de 5,6 bilhões para 6,4 bilhões de reais.
Dos 13 aeroportos listados para receber visitantes do megaevento esportivo, oito estão com obras em andamento, com financiamento 100% estatal. Somente em Viracopos, na cidade de Campinas, as melhorias já foram finalizadas, diz o governo.
Quanto aos portos, meio pouco tradicional de chegada de turistas ao Brasil, são esperadas reformas em terminais turísticos de sete cidades, mas em apenas quatro delas o edital já foi publicado.
A Fifa foi consultada sobre o acompanhamento dos preparativos no país-sede do próximo Mundial, mas não respondeu à reportagem da Deutsche Welle.
Muito dinheiro
Embora o governo brasileiro fale em 23,4 bilhões de reais, a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) estima uma cifra bem superior para os custos da Copa: 113,26 bilhões de reais. O órgão de classe mantém, desde 2008, uma cooperação técnica com o governo federal e com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Em março de 2009, a Abdib entregou aos parceiros o estudo que conduziu nas 12 cidades-sedes, onde foram identificados 872 projetos, informou Paulo Godoy, presidente da associação. As áreas analisadas, no entanto, compreendem nove segmentos, incluindo rede hospitalar, segurança pública, saneamento básico e rede hoteleira.
"Os investimentos visam contribuir com a organização da Copa do Mundo em 2014, mas, acima de tudo, objetivam também atender a demandas da sociedade e da economia em virtude do crescimento econômico", ressaltou Godoy.
Meios duvidosos
O chamado Regime Diferenciado de Contratações (RDC), criado por meio de Medida Provisória, flexibilizou as regras de licitação para a Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016, e também levantou uma onda de protestos.
Na semana passada, Roberto Gurgel, procurador-geral da República, entrou com uma ação de inconstitucionalidade contra a lei no Supremo Tribunal Federal (STF), alegando que a lei põe em risco o patrimônio público e a segurança jurídica para a realização das obras. "O Ministério Público não quer inviabilizar a Copa, mas quer que o evento se realize sem grandes prejuízos ao erário", declarou Gurgel em visita ao Senado.
O procurador lembrou experiências caras na história recente do Brasil: "Por ocasião dos Jogos Pan-americanos de 2007, a União, o Estado e o município do Rio de Janeiro não conseguiram se organizar e identificar as obras e serviços que deveriam ser realizados. Essa foi uma das razões para que o orçamento inicial do evento, de 300 milhões de reais, tenha sido absurdamente ultrapassado, com um gasto final da ordem de 3 bilhões de reais".
O ministro dos Esportes não vê risco algum. "Temos convicção da constitucionalidade do Regime Diferenciado de Contratações. Ele representa a modernização das compras governamentais e será uma boa experiência a médio prazo, podendo ser generalizado para outros setores", disse em Brasília.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer