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A missão da Nasa ao asteroide que pode colidir com a Terra

Zulfikar Abbany (fc)8 de setembro de 2016

Aterrissar no asteroide Bennu, recolher uma amostra e trazê-la de volta é um desafio e tanto. Numa jornada de sete anos, a sonda OSIRIS-REx deve explorar o corpo celeste "próximo" à Terra.

Desenho computadorizado mostra como seria o pouso da OSIRIS-REx na superfície do asteroide Bennu
Desenho computadorizado mostra como seria o pouso da OSIRIS-REx na superfície do asteroide BennuFoto: picture-alliance/dpa/NASA/Goddard

Há alguns dias a Agência Espacial Europeia (ESA) anunciou que finalmente encontrara o robô Philae no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Correu mundo a tocante imagem do robozinho numa escura fissura do cometa, dois anos depois de concluir com (relativo) sucesso o primeiro pouso num cometa.

Philae estava encarregado de uma série de experimentos científicos no 67P, tendo conseguido realizar 80% da tarefa antes que sua bateria acabasse. A sonda Rosetta, que o transportara, orbitou o cometa para estudar seu núcleo e cercanias. Feito isso, e com Philae localizado um mês antes do fim da missão, Rosetta deverá se chocar contra a superfície do cometa em 30 de setembro. Que jeito de terminar.

Agora é a vez da Nasa. Só que a agência espacial americana quer ir mais um passo adiante: sua sonda OSIRIS-REx voará até o asteroide "próximo à Terra" Bennu e – se um monte de coisas derem certo – trará uma amostra para os cientistas a estudarem na Terra.

O que é OSIRIS-REx e qual é sua missão?

OSIRIS-REx é uma nave espacial. Seu nome significa Origins Spectral Interpretation Resource Identification Security – Regolith Explorer. Ela está prestes a começar uma missão de sete anos no asteroide próximo à Terra Bennu, anteriormente conhecido como 1999 RQ36.

A sonda espacial vai orbitar o Sol por um ano, antes de usar o campo gravitacional da Terra para se aproximar do Bennu. Usando uma "série de pequenos propulsores de foguete", ela vai alinhar sua velocidade com a do asteroide e realizar o pouso.

A OSIRIS-REx passou por testes sobre vibração e abalo para certificar que ela conseguirá resistir ao lançamentoFoto: picture-alliance/dpa/NASA/D.Gerondidakis

Quando a OSIRIS-REx será lançada?

O lançamento da sonda a partir do Cabo Canaveral, Flórida, está previsto para as 19h05 desta quinta-feira (08/09) (20h05 em Brasília). Esse é apenas o início da temporada de lançamentos que dura 34 dias.

O foguete Atlas V 411 leva a OSIRIS-REx para o espaço. Ele é um "veículo de lançamento avançado descartável" operado pela United Launch Alliance, uma joint ventureda Lockheed Martin e da Boeing.

Quando chegará ao Bennu?

A OSIRIS-REx deve alcançar o asteroide Bennu em 2018 e está programada para retornar à Terra em 2023, sete anos após o início da missão.

Quais são os objetivos científicos da missão?

Está tudo explicado no nome:

Origins: a Nasa conta que a OSIRIS-REx retornará à Terra trazendo uma amostra do asteroide "intocada e rica em carbono".

Spectral Interpretation: ela deve fornecer observações para dados telescópicos de toda a população de asteroides.

Agência Espacial Europeia comemora localização de robô

01:17

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Resource Identification: mapear a química e a mineralogia de um asteroide primitivo rico em carbono.

Security: deve medir o Efeito Yarkovsky, da luz solar sobre a órbita de um pequeno asteroide. Um asteroide como o Bennu recebe um "empurrãozinho" ao absorver a luz e reemitir a energia na forma de calor.

Regolith Explorer: coletar dados da camada de material externo solto conhecida como regolito.

E por que o Bennu?

O Bennu é o que se denomina um "objeto próximo à Terra" (NEO, em inglês), os asteroides que ficam mais perto a nosso planeta. "Próximo" é para ser entendido aqui de forma relativa: os NEOs orbitam a até 1,3 AU (unidade astronômica) do Sol, ou cerca de 193 milhões de quilômetros (a distância entre a Terra e o Sol é de 1 AU).

Para a missão OSIRIS-REx ser viável, a Nasa tinha que escolher um asteroide situado entre 0,8 AU e 1,6 AU, com órbita semelhante à terrestre. Quando Bennu foi selecionado havia 7 mil NEOs desconhecidos, mas apenas 192 atendiam aos critérios iniciais.

Outro pré-requisito era o diâmetro do asteroide, que deveria ser superior a 200 metros. Asteroides menores do que isso giram tão rápido que qualquer material solto – o regolito que a OSIRIS-REx espera recolher e analisar – pode ser lançado para longe. Além disso, o asteroide tinha que ser grande o suficiente para permitir à nave espacial fazer contato. Só esse critério reduziu os 192 candidatos a 26.

Finalmente, a escolha se deu também devido à composição do asteroide. A missão tem como objetivo coletar uma amostra rica de carbono de um "objeto primitivo" – ou seja, que tenha sofrido o mínimo possível de alterações, por exemplo, por colisões, desde que o sistema solar se formou, há cerca de 4 bilhões de anos.

Os asteroides contêm moléculas orgânicas e outros elementos que se acredita terem trazido a vida à Terra, inclusive água. Dos 26 candidatos restantes, a composição de apenas 12 era conhecida, e só cinco eram primitivos e ricos em carbono.

O robô Philae foi recentemente encontrado numa cratera escura do cometa 67P/Churyumov-GerasimenkoFoto: picture-alliance/dpa/Foto: ESA/ATG medialab

Então, por que o Bennu ganhou dos outros?

O felizardo Bennu é um asteroide tipo B, com diâmetro de cerca de 500 metros. Ele é um dos "objetos mais negros" no sistema solar, portanto a Nasa acredita que seja coberto por material carbônico, os "blocos de montar da vida".

E, falando de vida, a cada seis anos o Bennu passa incrivelmente perto de nosso planeta, a cerca de 0,002 AU. Assim, ele tem "grande probabilidade de colidir com a Terra no fim do século 22". O que já é uma boa razão para sabermos mais sobre ele. E bem rápido.

O que a OSIRIS-REx leva como carga?

A OSIRIS-REx tem cinco instrumentos científicos para explorar o Bennu por detecção por sensor e varredura remota da superfície. Há um conjunto de câmeras, incluindo uma MapCam para mapear a superfície; uma PolyCam (um tipo de telescópio) que vai fotografar o asteroide a uma distância de 2 milhões de quilômetros: e uma SamCam para registrar o momento em que a nave coletar a amostra do Bennu.

Espectrômetros vão medir temperatura, luz visível e infravermelha, e o espectro de raios-x, para determinar os elementos presentes no Bennu e sua quantidade. Se e quando chegaram à Terra, todas as amostras serão distribuídas e examinadas por equipes de todo o mundo.

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