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A missão impossível de Carlo Cottarelli na Itália

28 de maio de 2018

Ex-economista do FMI é incumbido de formar governo mesmo com oposição de M5S e Liga, que têm maioria parlamentar e são duros críticos das ideias do premiê designado. Na prática, escolha prepara terreno para nova eleição.

Italien Rom Carlo Cottarelli mit Regierungsbildung beauftragt
Foto: Reuters/T. Gentile

O ex-economista do Fundo Monetário Internacional (FMI) Carlo Cottarelli foi incumbido nesta segunda-feira (28/05) de uma missão impossível pelo presidente da Itália, Sergio Mattarella: formar um governo mesmo com a oposição declarada dos dois partidos que detêm, juntos, a maioria dos assentos no Parlamento: os populistas Movimento Cinco Estrelas (M5S) e Liga.

Pelo que seria a ordem natural das coisas, Cottarelli formaria um governo interino, do qual seria o primeiro-ministro e que manteria o país funcionando ao menos por alguns meses, até que houvesse uma nova eleição, antecipada. Para isso, recorreria a um expediente já comum na Itália: o governo de tecnocratas, ou seja, especialistas sem ligação partidária.

Só que, sem o aval do Parlamento, nada disso sairá do papel. Analistas afirmam que Mattarella está ciente de que será muito difícil para Cottarelli receber o voto de confiança do Parlamento, mas sua indicação permitirá ao menos que o país se encaminhe para novas eleições de maneira controlada.

Cottarelli logo abordou a dificuldade inerente à sua tarefa. Depois de se reunir com Mattarella, ele declarou à imprensa que, se não obtiver a confiança dos parlamentares, eleições antecipadas deverão ocorrer já em agosto. Do contrário, a data prevista é o início de 2019. O único a apoiá-lo, até agora, foi o progressista Partido Democrata (PD).

Reverter essa oposição será muito difícil. Cottarelli foi um dos principais críticos do programa econômico apresentado pela coalizão entre o MS5 e a Liga, que fracassou depois de o presidente italiano vetar o nome por eles apresentado para o Ministério da Economia, o do economista de 81 anos Paolo Savona.

Savona é, de certa forma, a antítese de Cottarelli: enquanto este é um defensor de cortes no orçamento italiano, em linha com o que defende a União Europeia, aquele teria expressado ao presidente a intenção de que a Itália abandonasse a zona do euro.

Com o veto presidencial, o então premiê designado, Giuseppe Conte, renunciou à incumbência de formar um governo, na prática implodindo a coalizão forjada a duras penas pelo Movimento Cinco Estrelas e pela Liga. Estes, por sua vez, atacaram com virulência o presidente italiano, acusando-o de "fazer o jogo" de Bruxelas.

Quem é Carlo Cottarelli?

Cottarelli, de 64 anos, é um firme defensor do euro e da necessidade de a Itália cortar seu elevado endividamento público. Em 2013, ele trabalhou para o curto governo do premiê Enrico Letta e identificou cerca de 35 bilhões de euros em possíveis cortes no orçamento italiano, o que lhe valeu o apelido de "Senhor Tesoura".

Em suas primeiras declarações, Cottarelli buscou afastar temores e acalmar os parceiros europeus da Itália, assegurando que seu governo fará uma gestão prudente da dívida italiana. Equivalente a 132% do Produto Interno Bruto (PIB), ela é a mais pesada da União Europeia, atrás apenas da Grécia.

O seu governo de transição será politicamente "neutro", assegurou Cottarelli, acrescentando que será também "decididamente europeu". O economista disse ainda que, na condição de país fundador da União Europeia, o papel da Itália na união é essencial, assim como sua participação na zona do euro.

Durante sua experiência no breve governo de Letta, quando foi encarregado de identificar áreas onde gastos do governo poderiam ser cortados, Cottarelli propôs 35 bilhões de euros em cortes, mas acabou frustrado quando o governo mudou de mãos diante dos obstáculos que encontrou na burocracia italiana.

Cottarelli é graduado em economia e bancos pela Universidade de Siena e mestre pela London School of Economics. Ele trabalhou sete anos no Banco da Itália e depois um ano na petroleira Eni, ambos em cargos de pesquisa, antes de ir para o FMI, onde trabalhou por 25 anos, especializando-se em política monetária, mercado de capitais e assuntos fiscais. Desde outubro, ele dirige o Observatório de Contas Públicas na Universidade Católica de Milão, onde administra uma conta no Twitter com 15 mil seguidores.

Recentemente, Cottarelli publicou um livro, Os sete pecados capitais da economia italiana, que pode ser lido como uma declaração de sua missão para um novo governo. Os pecados, segundo ele, são a corrupção, a evasão fiscal, a burocracia, o ritmo lento da justiça, a baixa taxa de natalidade, a diferença entre o norte e o sul, e a difícil aceitação do euro.

Cottarelli apareceu frequentemente na mídia italiana para avaliar os planos fiscais da coalizão entre o M5S e a Liga. Há duas semanas, disse à Radio Radicale que o erro primário de ambos era "fazer as pessoas acreditarem que, sem o euro, todos os problemas desapareceriam. Agora eles estão tentando dizer que somos geneticamente incompatíveis com o euro".

Ele afirmou que a Itália não é estruturalmente mais fraca do que a Alemanha, mas que era preciso ressaltar que, "se quisermos compartilhar uma moeda, precisamos nos comportar de uma maneira diferente". Ele observou que o nível de inflação da Itália está abaixo do da Alemanha, tornando a Itália mais competitiva industrialmente. "Abandonar tudo neste momento me parece um erro", acrescentou.

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