No pior momento da epidemia, Queiroga afirma que país precisa fazer seu "dever de casa" e seguir recomendações de prevenção à covid-19, como uso de máscaras e distanciamento, "deixando medidas extremas para outro caso".
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Enquanto o Brasil continua a registrar recordes de mortes por covid-19, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou neste sábado (03/04) que a "a ordem é evitar o lockdown" no país, mas para isso o país precisa fazer seu "dever de casa".
"Precisamos nos organizar para fazer com que evitemos medidas extremas e consigamos garantir que as pessoas continuem trabalhando, ganhando seu salário e renda, fazendo com que a economia funcione, deixando essas medidas extremas para outro caso. Evitar lockdown é a ordem, mas temos que fazer nosso dever de casa", disse o ministro em coletiva de imprensa.
Segundo Queiroga, esse dever é não só dos governos federal, estaduais e municipais, mas "de cada um dos cidadãos". Ele se referia a medidas de prevenção contra o avanço da covid-19, como o uso de máscaras e o distanciamento físico.
As declarações foram feitas após a primeira reunião do ministro com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, da qual também participou a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no Brasil, Socorro Gross.
Queiroga disse ainda que a pasta está trabalhando em um protocolo para orientar a população que usa o transporte público "a fazer isso de forma mais ordenada, a fim de evitar o fechamento de nossa economia". A intenção é evitar aglomerações, afirmou.
Por mais que resista à ideia de um lockdown, seguindo a postura do presidente Jair Bolsonaro, Queiroga defendeu a importância de medidas preventivas contra a covid-19, em contraste com o discurso do chefe de Estado, que durante a pandemia desprezou tais ações.
Neste sábado, o ministro fez um apelo para que a população use máscaras, higienize sempre as mãos, pratique o distanciamento social e evite aglomerações.
"Aproveito a oportunidade para, nessa época de Páscoa, solicitar a cada um dos brasileiros que use máscara. Aproveitem o feriado para não fazer aglomerações, é fundamental, assistimos muitas vezes a população fazendo festas, sem máscaras. Isso não é adequado, precisamos que cada um colabore", declarou Queiroga.
"Não é fácil a adesão da população. Por mais que a gente fale, vocês [jornalistas] falam todo dia na TV, e nós não conseguimos fazer com que a população tenha adesão a essas medidas que parecem simples, mas são eficientes", acrescentou.
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"Somos contra o fecha tudo"
O isolamento social, o fechamento da economia e a restrição à circulação de pessoas são promovidos por autoridades internacionais de saúde como algumas das medidas mais eficientes de combate ao coronavírus, e vêm sendo implementados pela maioria dos governos mundo afora.
Contudo, na contramão do resto do mundo, Bolsonaro minimizou a gravidade da doença e atacou essas medidas restritivas ao longo da pandemia, preferindo, em vez disso, apostar em drogas que se comprovaram ineficazes contra o vírus, como a cloroquina.
Neste sábado, o presidente fez um passeio ao lado do novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, em que aparece sem máscara durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais. Em visita à Casa de Maria Beth Myriam, em Brasília, Bolsonaro comeu sopa e voltou a criticar regras impostas por governadores a favor do distanciamento. "Somos contra o fecha tudo."
O Brasil vive hoje o pior momento da epidemia de covid-19, com recordes sucessivos de mortes diárias e os hospitais em colapso. Na semana passada, o país chegou a registrar 3.869 óbitos em apenas 24 horas, o número mais alto desde o início da crise. Ao todo, mais de 330 mil pessoas morreram no país em decorrência da doença.
ek (ots)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.