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A paz incompleta de Oslo

Diana Hodali rk
12 de setembro de 2018

Em 1993, a assinatura dos acordos entre israelenses e palestinos, sob mediação norueguesa, foi vista como triunfo após décadas de conflito. O processo, porém, selou mais divisões do que fronteiras. E hoje está congelado.

Bill Clinton, ao centro, sorri enquanto abre os braços que coloca nas costas do premiê israelense Yitzhak Rabin, à esquerda, de terno escuro e óculos, e o líder da Organização para a Libertação da Palestina, Yasser Arafat, do lado direito da foto e cuja cabeça está coberta com um lenço palestino branco e preto. A foto foi tirada enquanto os dois sorridentes líderes estendem as mãos para se cumprimentarem
Yitzhak Rabin (e.) dá a mão ao líder da OLP, Yasser Arafat, em encontro histórico mediado por Bill Clinton (c.)Foto: picture-alliance/CPA Media

Jan Egeland descreve o clima entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) como descontraído e bom no momento em que representantes das respectivas delegações se encontraram, em 1993, para negociar o que ficaria conhecido como Acordos de Oslo. O pacto foi, durante muito tempo, considerado um marco no processo de paz no Oriente Médio, mas hoje está congelado.

Atualmente à frente do Conselho Norueguês de Refugiados e ex-secretário-geral adjunto para Assuntos Humanitários das Nações Unidas, o diplomata lembra bem de sua primeira grande tarefa internacional, aos 36 anos: organizar conversas secretas entre representantes israelenses e palestinos em Oslo, como facilitador e mediador.

Do lado israelense, os encarregados das negociações eram o então primeiro-ministro Yitzhak Rabin e o diplomata Uri Savir. Do lado palestino, participaram Yasser Arafat, então líder da OLP (e que foi considerado terrorista por Israel durante muito tempo) e Ahmed Kureia, também integrante da organização.

"Eles se conheceram e percebemos que eles começaram, lentamente, a confiar uns nos outros", conta o diplomata, que também atua como coordenador especial da ONU para a Síria. Passo a passo, diz Egeland, foi possível enxergar como os esforços de aproximação iam rendendo frutos.

Nove meses e muitos encontros depois, representantes israelenses e palestinos concordaram em assinar uma base de acordos que pavimentou o caminho para a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e também para o reconhecimento oficial, pela primeira vez, entre Israel e a OLP. Os Acordos de Oslo estavam elaborados.

De repente, a paz tão sonhada entre israelenses e palestinos parecia palpável quando, no dia 13 de setembro de 1993, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat apertaram as mãos nos jardins da Casa Branca – sob os olhares da opinião pública mundial.

O então ministro das Relações Exteriores Noruguês, Johan Jorgen Holst, também compareceu para presenciar o histórico gesto de reconciliação entre dois inimigos mortais, que se apresentaram como parceiros devido ao apoio da Noruega.

O então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, agradeceu ao país escandinavo em seu discurso. Havia sido a Noruega – e não os EUA, que durante anos mediaram o conflito – que havia tornado possível o acordo que previu a formação de um governo palestino que cooperaria com Israel em questões econômicas e de segurança. Em troca, a OLP se comprometia a abandonar o objetivo de destruir Israel.

Atualmente, a cena de 25 anos atrás lembra mais um filme de ficção científica cujas invenções nunca se tornam reais: os dois parceiros temporários estão tão afastados como quase nunca estiveram nas últimas décadas. Para muitos escandinavos, porém, o processo de paz de Oslo ainda é visto como uma conquista.

"Esse sentimento não é mais tão forte como antes, mas muitos noruegueses veem o processo como sucesso", diz Hilde Waage, historiadora na Universidade de Oslo. De 1992 a 1993, Waage presidiu o Instituto de Pesquisas de Paz de Oslo e, em 2001, recebeu do Ministério do Exterior a incumbência de examinar o papel da Noruega durante as negociações de paz.

Não foi por acaso que os noruegueses entraram no processo de paz do Oriente Médio. Sua mediação foi, antes de tudo, consequência da manutenção intensa de contatos. Há tempos, já existia uma relação muito estreita entre os partidos Trabalhistas norueguês e israelense.

"E, após o fim da Guerra Fria, decidimos estimular medidas para estabelecer a confiança entre israelenses e palestinos", recorda Egeland.

Aparentemente, empenhar-se no conflito israelo-palestino foi uma consequência lógica para a Noruega, que logrou sucesso depois que o estabelecimento de contatos diretos entre israelenses e palestinos havia fracassado nos anos anteriores.

Mas, mesmo com as ambições do país escandinavo, foi a OLP que recorreu primeiro à Noruega. Foi por causa – e não apesar – da relação estreita com Israel que Arafat já enxergava os nórdicos como mediadores adequados e atraentes em 1979.

Em 1994, Arafat (e.), Rabin (c.) e Shimon Peres (d., ex-ministro israelense do Exterior) recebem Nobel da Paz em OsloFoto: Getty Images

Segundo a historiadora Hilde Waage, naquela altura, os Estados Unidos pediram à Noruega que fornecesse petróleo a Israel porque o Irã havia interrompido o abastecimento do combustível fóssil no âmbito da Revolução Islâmica. Mas Oslo não quis atender ao pedido antes que a OLP fosse informada sobre o assunto.

O motivo: em 1978, a Noruega havia enviado cerca de mil soldados para integrar a missão de observação Unifil, da ONU, no Líbano, palco de uma guerra civil da qual também participaram combatentes da OLP. Preocupados com ataques aos próprios soldados, Oslo informou o líder da OLP. "Arafat não tinha problemas com as remessas de petróleo a Israel", afirma Waage.

Pelo contrário: ele aproveitou a situação e pediu à Noruega que abrisse um canal de comunicação com Israel, esclarece a pesquisadora. Segundo ela, Arafat precisava de um "amigo de Israel" para negociar a criação de um Estado palestino.

Com uma longa tradição em ajuda humanitária, a Noruega se sentiu compelida a se dedicar à resolução de conflitos. O fato de não ter um passado colonial e ter uma independência econômica histórica ajudou a fortalecer a credibilidade do país como intermediário.

Mas, na verdade, não aconteceu praticamente nada no processo de paz do Oriente Médio durante uma década. "Israel se negava a falar com a OLP", relembra Jan Egeland. "Apenas em 1992, quando o Partido Trabalhista israelense assumiu o governo, Israel se abriu para a nossa diplomacia pacificadora", acrescenta. Segundo o diplomata, Israel reconheceu que não fazia sentido ter um vizinho que o odiava.

Já Hilde Waage vai além: a Primeira Intifada tinha acabado há pouco, Arafat tinha apostado no cavalo errado (Saddam Hussein) durante a Guerra do Golfo em 1990-91, perdendo o apoio do Kuwait, e estava em dificuldades financeiras.

"Arafat e a OLP estavam fracos nesse momento", avalia Hilde Waage. E Israel, segundo ela, sabia dessa debilidade e que, por isso, Arafat estaria disposto a mais compromissos. "Israel, simplesmente, era a parte mais forte. Já a OLP estava sob pressão. Queria alcançar projeção e lutar por um Estado palestino", argumenta.

Em 2001, a historiadora investigou qual era a margem de manobra numa relação de poder tão assimétrica e chegou à conclusão de que o mais forte sempre dá as cartas. "A Noruega sabia disso e cedeu nesse ponto. Eles sabiam que as negociações tinham que favorecer Israel – caso contrário, não teria havido acordo", constata Waage, para quem o país nórdico foi um "mediador parcial". Além disso, os Acordos de Oslo teriam consolidado essa assimetria de poder, diz a especialista.

Porém, ela está convencida de que as intenções da Noruega eram boas e que o país se via como "construtor de pontes", acreditando que a paz poderia ser alcançada gradualmente.

Já Jan Egeland, que mediou os encontros, também não nega a força de Israel no processo. "Mas isso significa que ter um acordo é pior do que não ter? Na época, sempre dissemos que uma paz incompleta é melhor que uma guerra perfeita."

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