Nem as condições mais adversas são capazes de frear migrantes na região. Perigos enfrentados vão de imprevistos geográficos e meteorológicos, até extorsão, tráfico humano e violência sexual.
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Nada deteve a migração na América Latina: nem o endurecimento das condições de ingresso nos diferentes países, nem as condições geográficas adversas, nem os contratempos meteorológicos, nem a pandemia de covid-19. A migração inclusive se intensificou, impulsionada por precariedade econômica, problemas de segurança e crises políticas. Só a situação na Venezuela já gerou mais de 5 milhões de migrantes, 4,6 milhões dos quais assumidos por outros países da região.
"Embora a pandemia tenha interrompido muitas facetas da nossa vida diária, não deteve os conflitos, a insegurança e outras razões que obrigam as pessoas a fugir de seus lares. De fato, nas Américas, em 2020 o número total de refugiados e migrantes cresceu cerca de 8% em relação ao ano anterior", declarou à DW William Spindler, porta-voz para a América Latina do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
Dentro da região se identificam dois movimentos principais: um em direção ao norte, partindo da ou passando pela América Central, cruzando o México, cujo destino final são os Estados Unidos. O outro é interregional, entre os países latino-americanos e o Caribe e que, nos últimos anos, tem sido marcado sobretudo por venezuelanos, mas também inclui colombianos e outras nacionalidades.
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Perigos de todo tipo na travessia
Se os migrantes não podem atravessar legalmente as passagem de fronteira entre os países, usam caminhos ilegais, conhecidos como trochas (atalhos), muitas vezes com risco extremo de vida.
"Muitos se movem a pé, utilizando cruzamentos fronteiriços irregulares e atravessando rios, selvas, montanhas e desertos, assim como cruzando o mar em embarcações não adequadas a esse fim. Muitos perdem a vida nessas travessias ou se expõem a graves riscos, incluindo sequestros e tráfico humano, violência sexual e de gênero, exploração laboral e extorsão por gangues e grupos criminosos", alerta Spindler.
Os guias, apelidados coyotes, chuteros, chamberos ou trocheros, costumam exigir tarifas exorbitantes para orientar os migrantes durante o trajeto. Em seu desespero, estes pagam, embora muitas vezes sem conseguir êxito em seu objetivo.
"Únicos caminhos seguros são os oficiais"
Há pontos de passagem conhecidos por sua dureza singular, como na fronteira da Colômbia com o Panamá, através do Tampão de Darién, uma área selvagem e pantanosa, escondendo numerosos perigos. Não há vias terrestres que atravessem essa barreira natural entre os dois países.
"O Tampão de Darién é a parte mais perigosa da travessia até os EUA. Basicamente todos os migrantes que se dirigem à América Central devem atravessá-lo. Lá há quadrilhas que assaltam, agressões sexuais e cheias súbitas do rio que arrastam os viajantes e os afogam", relata Jessica Bolter, analista do Migration Policy Institute, sediado em Washington.
"Muitos ficam sem provisões, e em sua travessia pela selva podem ficar feridos ou ser abandonados pelo grupo com que viajam, se não são capazes de caminhar tão rápido como os demais."
Spindler adverte que as únicas passagens fronteiriças seguras são as oficiais. "Nos últimos meses, diversos países da região reabriram gradualmente suas fronteiras a refugiados e migrantes. O Acnur continua pedindo aos EUA que permitam o acesso a seu território e aos procedimentos de asilo para os que deixaram seus países devido a perseguição, violência, violações de seus direitos e conflitos."
Mundo em fuga
Cerca de 68 milhões de pessoas se encontram atualmente em fuga: pelo mar, pelas montanhas, pelas estradas. A migração afeta todos os continentes. As rotas de fuga são as mais diversas. E todas são desoladoras.
Foto: Imago/ZUMA Press/G. So
Fuga por caminhão
O mais recente movimento migratório tem origem na América Central. Violência e fome levam milhares de pessoas a fugir de Honduras, Nicarágua, El Salvador e Guatemala. O destino: os Estados Unidos da América. Mas lá, o presidente Trump se mobiliza contra os imigrantes indesejados. A maioria dos refugiados permanece na fronteira mexicano-americana.
Foto: Reuters/C. Garcia Rawlins
Refugiados terceirizados
O governo conservador em Camberra não quer ter refugiados no país. Aqueles que conseguem chegar ao quinto continente são rigorosamente deportados. A Austrália assinou acordos com vários países do Pacífico, incluindo Papua Nova Guiné e Nauru, para alocar ali os refugiados em campos, cujas condições são descritas por observadores como catastróficas.
Foto: picture alliance/AP Photo/Hass Hassaballa
Os refugiados esquecidos
Hussein Abo Shanan tem 80 anos. Ele vive há décadas como refugiado palestino na Jordânia. O reino tem apenas dez milhões de habitantes. Entre eles, estão 2,3 milhões de refugiados palestinos registrados. Eles vivem, em parte, desde 1948 no país – após o fim da guerra árabe-israelense. Além disso, existem atualmente cerca de 500 mil imigrantes sírios.
Foto: Getty Images/AFP/A. Abdo
Tolerado pelo vizinho
A Colômbia é a última chance para muitos venezuelanos. Ali, eles vivem em acampamentos como El Camino, nos arredores da capital, Bogotá. As políticas do presidente Nicolás Maduro levaram a Venezuela a não conseguir mais suprir seus cidadãos, por exemplo, com alimentos e medicamentos. As perspectivas de volta a seu país de origem são ruins.
Foto: DW/F. Abondano
Fuga no frio
Pessoas em fuga, como estes homens na foto, tentam repetidamente atravessar a fronteira da Bósnia-Herzegovina para a Croácia. Como membro da União Europeia, a Croácia é o destino dos migrantes. Especialmente no inverno, essa rota nos Bálcãs é perigosa. Neve, gelo e tempestades dificultam a caminhada.
Foto: picture-alliance/A. Emric
Última parada Bangladesh?
Tempo de chuva no campo de refugiados de Kutupalong em Bangladesh. Mulheres da etnia rohingya, que fugiram de Myanmar, protegem-se com seus guarda-chuvas. Mais de um milhão de muçulmanos rohingya fugiram da violência das tropas de Myanmar para o vizinho Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo e que está sobrecarregado com a situação. Este é atualmente o maior campo de refugiados do planeta.
Foto: Jibon Ahmed
Vida sem perspectiva
Muitos recursos minerais, solos férteis: a República Centro-Africana tem tudo para estabelecer uma sociedade estável. Mas a guerra no próprio país, os conflitos nos países vizinhos e governos corruptos alimentam a violência na região. Isso faz com que muitas pessoas, como aqui na capital, Bangui, tenham que viver em abrigos.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Blackwell
Chegada à Espanha
Refugiados envoltos em cobertores vermelhos são atendidos pela Cruz Vermelha após sua chegada ao porto de Málaga. 246 imigrantes foram retirados do mar pelo navio de resgate Guadamar Polimnia. Cada vez mais africanos evitam agora a Líbia. Em vez disso, eles tomam a rota do Mediterrâneo Ocidental, a partir da Argélia ou Marrocos.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/J. Merida
Refugiados sudaneses no Uganda
Por muito tempo, Uganda foi um país dilacerado pela guerra civil. Atualmente, a situação se estabilizou em comparação com outros países africanos. Para esses refugiados do Sudão do Sul, a chegada a Kuluba significa, sobretudo, segurança. Centenas de milhares de sul-sudaneses encontraram refúgio no Uganda.