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Arquitetura

A praça mais cinza de Berlim

7 de janeiro de 2019

Ponto turístico, a nova Potsdamer Platz foi planejada para ser moderna, ignorando seu passado e arquitetura gloriosos. Hoje é um espaço de concreto sem charme e originalidade.

Potsdamer Platz
Potsdamer Platz é um dos principais pontos turísticos da cidadeFoto: picture-alliance/Global Travel

A primeira vez que estive em Berlim foi como turista. Na época, havia me informado sobre o que ver na capital alemã em guias turísticos. Uma das atrações mais populares era a Potsdamer Platz. Lembro de ter descido nesta praça, tirado fotos e caminhado em direção ao Portão de Brandemburgo. Fiquei impressionada com as imagens da região completamente destruída depois da Segunda Guerra Mundial e do vazio ocupado pelo Muro que passava justamente por ali.

Ainda hoje a Potsdamer Platz é um dos principais pontos turísticos, mas me pergunto por quê? Não consigo entender o culto a essa região, afinal, a praça, apesar de toda sua história, é um dos lugares mais cinzas e feios de Berlim (inclusive no verão).

Além dos prédios modernos, a Potsdamer Platz é marcada por um trânsito intenso e não há sequer um banco para pedestres sentarem e observarem a “paisagem”. Os restaurantes e bares da região nem têm nada de original e não costumam ser frequentados por berlinenses. Falta vida e originalidade naquele monumento de concreto.

Para mim, a praça é hoje muito mais um lugar de passagem e nada remete ao seu passado glorioso da década de 1920, com cafés e restaurantes, pontos de encontro da elite intelectual. Um objeto histórico, porém, permanece na Potsdamer Platz: o primeiro semáforo instalado na Europa, de 1924.

A Potsdamer Platz nos anos 1930Foto: picture-alliance/dpa/Stiftung Deutsches Technikmuseum Berlin/Historisches Archiv

A gloriosa praça perdeu seu encanto depois da Segunda Guerra Mundial, virando ruínas. Devastada, fez parte do traçado do Muro e abrigou a "faixa da morte" mais extensa da cidade  – a região desértica entre as duas barreiras do Muro entre a parte ocidental e oriental, composta por torres de observação e cercas. Nessa faixa era proibida a circulação de pessoas, e nem é preciso dizer por que ela ganhou esse apelido.

Para essa finalidade, o que restou de construções na Potsdamer Platz foi demolido, e os escombros, levados para outros locais. De 1961 até o fim da Guerra Fria, permaneceu um terreno vazio. Em 1990, a região foi o palco escolhido por Roger Waters para o show “The Wall”, um dos maiores da história do rock.

Com a queda do Muro e a reunificação da Alemanha, a praça se tornou um grande canteiro de obras. O novo projeto da Potsdamer Platz optou pela modernidade e por deixar para trás todo o seu charme e glória do passado. Ignorou a antiga praça e sua arquitetura para dar vida a um espaço futurístico, imaginado na década de 1990, sem graça e, no fim, sem vida.

A inauguração da atual Potsdamer Platz, com seus prédios modernos, completou 20 anos em outubro de 2018. Até hoje, ainda há obras para ocupar o antigo espaço.

Atualmente, o grande momento da praça é a Berlinale. O local é o centro do Festival de Cinema de Berlim. No resto do ano, a Potsdamer Platz é ocupada majoritariamente por turistas e por berlinenses que optaram por ir a algum de seus cinemas. Além dos que trabalham na região. Mas fora isso não há muito o que fazer ali.

Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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