Ponto turístico, a nova Potsdamer Platz foi planejada para ser moderna, ignorando seu passado e arquitetura gloriosos. Hoje é um espaço de concreto sem charme e originalidade.
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A primeira vez que estive em Berlim foi como turista. Na época, havia me informado sobre o que ver na capital alemã em guias turísticos. Uma das atrações mais populares era a Potsdamer Platz. Lembro de ter descido nesta praça, tirado fotos e caminhado em direção ao Portão de Brandemburgo. Fiquei impressionada com as imagens da região completamente destruída depois da Segunda Guerra Mundial e do vazio ocupado pelo Muro que passava justamente por ali.
Ainda hoje a Potsdamer Platz é um dos principais pontos turísticos, mas me pergunto por quê? Não consigo entender o culto a essa região, afinal, a praça, apesar de toda sua história, é um dos lugares mais cinzas e feios de Berlim (inclusive no verão).
Além dos prédios modernos, a Potsdamer Platz é marcada por um trânsito intenso e não há sequer um banco para pedestres sentarem e observarem a “paisagem”. Os restaurantes e bares da região nem têm nada de original e não costumam ser frequentados por berlinenses. Falta vida e originalidade naquele monumento de concreto.
Para mim, a praça é hoje muito mais um lugar de passagem e nada remete ao seu passado glorioso da década de 1920, com cafés e restaurantes, pontos de encontro da elite intelectual. Um objeto histórico, porém, permanece na Potsdamer Platz: o primeiro semáforo instalado na Europa, de 1924.
A gloriosa praça perdeu seu encanto depois da Segunda Guerra Mundial, virando ruínas. Devastada, fez parte do traçado do Muro e abrigou a "faixa da morte" mais extensa da cidade – a região desértica entre as duas barreiras do Muro entre a parte ocidental e oriental, composta por torres de observação e cercas. Nessa faixa era proibida a circulação de pessoas, e nem é preciso dizer por que ela ganhou esse apelido.
Para essa finalidade, o que restou de construções na Potsdamer Platz foi demolido, e os escombros, levados para outros locais. De 1961 até o fim da Guerra Fria, permaneceu um terreno vazio. Em 1990, a região foi o palco escolhido por Roger Waters para o show “The Wall”, um dos maiores da história do rock.
Com a queda do Muro e a reunificação da Alemanha, a praça se tornou um grande canteiro de obras. O novo projeto da Potsdamer Platz optou pela modernidade e por deixar para trás todo o seu charme e glória do passado. Ignorou a antiga praça e sua arquitetura para dar vida a um espaço futurístico, imaginado na década de 1990, sem graça e, no fim, sem vida.
A inauguração da atual Potsdamer Platz, com seus prédios modernos, completou 20 anos em outubro de 2018. Até hoje, ainda há obras para ocupar o antigo espaço.
Atualmente, o grande momento da praça é a Berlinale. O local é o centro do Festival de Cinema de Berlim. No resto do ano, a Potsdamer Platz é ocupada majoritariamente por turistas e por berlinenses que optaram por ir a algum de seus cinemas. Além dos que trabalham na região. Mas fora isso não há muito o que fazer ali.
Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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A capital alemã é muitas coisas: sede do governo, metrópole cultural, centro de vida noturna. Mas, acima de tudo, ela é eletrizante, uma cidade em constante mutação. Talvez, por isso, os turistas gostem tanto dela.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Vista do alto
A torre "Fernsehturm", com seus 368 metros de alturam é a estrutura mais alta da Alemanha. Em um dia claro, a plataforma de observação oferece visibilidade de até 40 quilômetros. Acima da plataforma, fica o restaurante giratório, que realiza uma rotação a cada 30 minutos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Um lugar feliz
Em 1989, quando o Muro de Berlim caiu, artistas de todo o mundo pintaram sobre a barricada de concreto cinza. A East Side Gallery é até hoje a mais longa galeria ao ar livre do mundo. A arte criada espontaneamente ainda reflete a alegria que se espalhou por toda a Berlim com a queda do Muro.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Museus e galerias
Rodeada pelo rio Spree, a Ilha dos Museus foi nomeada Patrimônio Mundial pela Unesco em 1999. Lá, é possível admirar tesouros artístico de todo o mundo, como um busto da rainha egípcia Nefertiti e o Altar de Pérgamo, construído entre 160 e 180 a.C. em homenagem a Zeus, o reio do Olimpo. Berlim tem ainda outros 175 museus e cerca de 300 galerias de arte.
Foto: Fotolia/fhmedien_de
Diversidade cultural
Cosmopolita, ricamente colorida e com um entusiasmo pela vida — assim Berlim apresenta-se durante o festival Carnaval das Culturas. Cerca de 180 nacionalidades chamam a cidade de casa. E todo o mês de maio eles — recém-chegados e berlinenses estabelecidos — celebram o que é, provavelmente, a melhor festa de rua da cidade.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Jensen
Em constante mutação
Desde a Reunificação, em 1990, os guindastes não param: a Potsdamer Platz foi reconstruída, o Reichstag (prédio do Parlamento alemão) ganhou uma cúpula e o quarteirão do governo foi construído. O Palácio de Berlim, que deverá ser concluído em 2019, está lentamente tomando forma. Ninguém sabe ainda, porém, se o novo - e muito atrasado - aeroporto de Schönefeld estará aberto até lá.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Zinken
Tapete vermelho
Em fevereiro, Berlim estende o tapete vermelho para receber estrelas do cinema. Desde 1951, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, conhecido como Berlinale, é um dos principais do mundo. Estrelas do cinema amam a cidade, mesmo em outras épocas do ano, como Arnold Schwarzenegger e Emilia Clarke, que estiveram na capital para a estreia do mais recente "Exterminador do Futuro".
Foto: picture-alliance/dpa/C. Carstensen
Memória preservada
O Memorial do Holocausto, composto por 2.711 placas de concreto para lembrar os seis milhões de judeus europeus mortos pela Alemanha nazista, é o memorial mais visitado de Berlim. Outros monumentos incluem os dedicados às Forças Aliadas que libertaram a cidade no final da Segunda Guerra Mundial, aos que morreram tentando escapar pelo muro e aos herois da força aérea de Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Parques e jardins
Há mais de 2.500 parques em Berlim, mas o "New York Times" nomeou, recentemente, o pequeno "Prinzessinnengarten" como um dos mais belos espaços verdes da cidade. Esse antigo terreno baldio no bairro de Kreuzberg foi transformado em um jardim orgânico, em que mais de 500 tipos de vegetais são cultivados por centenas de voluntários locais.
Foto: picture-alliance/dpa
Vida noturna
A vida noturna de Berlim, conhecida como uma das mais excitantes do mundo, oferece diversão para todos os gostos, do indie rock ao hip hop e house. Alguns dos melhores DJs do mundo tocam em clubes como Berghain e Watergate. Muitas pessoas vão a Berlim só para isso — elas chegam à cidade na sexta-feira à noite e passam o fim de semana inteiro na balada antes de voltarem para casa.
Foto: picture-alliance/schroewig
Capital canina
Cerca de 100 mil cães vivem na cidade, fazendo de Berlim a capital canina da Alemanha. Mas quando os berlinenses dizem que "ladram, mas não mordem", eles estão se referindo a eles próprios. Os moradores são conhecidos por não serem muito simpáticos: "Berliner Schnauze", o termo em alemão para focinho, é usado para caracterizar a rispidez no trato considerada típica do berlinense.