Calçada de Buenos Aires ganha uma das famosas "stolpersteine", as placas que lembram vítimas do regime nazista. Projeto de escultor alemão, existem mais de 60 mil pelo mundo.
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A Argentina se tornou o primeiro país de fora da Europa a instalar em suas calçadas uma das famosas "stolpersteine", os paralelepípedos que lembram vítimas do regime nazista, no maior memorial descentralizado do Holocausto do mundo.
Há mais 60 mil "pedras de tropeço" espalhadas por toda a Europa, a maioria delas na Alemanha. As pequenas placas fixadas no chão lembram, em geral com local de nascimento e morte, os perseguidos, torturados, assassinados e presos pelo regime nazista.
"É uma exceção: normalmente queremos marcar os lugares onde começaram os crimes dos nazistas e a perseguição, mas pensamos que também é muito importante pôr em foco os destinos dos que acolheram pessoas que tiveram que fugir", disse Anna Warda, braço-direito do criador do projeto, o artista alemão Gunter Demnig.
Alemanha em 1 minuto: Tropeço na história
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A primeira placa fora da Europa foi instalada em Buenos Aires, diante do colégio Pestalozzi, "em homenagem aos fundadores, pedagogos e famílias de imigrantes" que encontraram ali "liberdade, amparo e o caminho para a vida".
Fundado em 1934, o colégio teve como objetivo inicial ensinar alemães sem a influência do nazismo, mas, com o tempo, se tornou um centro de acolhimento para centenas de crianças em fuga da Alemanha.
As "Stolpersteine" são placas, geralmente de 10 por 10 centímetros (como em Buenos Aires, podem ser maiores), de concreto e cobertas de latão, feitas à mão. Nelas, são gravadas informações sobre cada vítima, normalmente com frases como "aqui viveu", "aqui nasceu" ou "aqui trabalhou".
Quando começou o projeto, em meados dos anos 1990, Demnig tentou colocar as pedras nas paredes de edifícios, mas encontrou dificuldades juntos aos proprietários. Depois, teve a ideia de colocá-las no chão, o que força as pessoas a se curvarem para lê-las, num gesto de respeito.
Ao longo de duas décadas, o projeto das "pedras de tropeço" se tornou o maior memorial descentralizado do mundo, uma "escultura social", que envolve voluntários, estudantes, escolares e familiares de vítimas do Holocausto por todo o mundo.
Elas homenageiam todas as vítimas do regime de Hitler, tanto os assassinados em Auschwitz e outros campos, como também os sobreviventes e os que escaparam, fugindo para territórios palestinos, EUA e outras partes.
A grande maioria homenageia vítimas judias, mas também existem placas para membros das etnias nômades sinti e roma, para dissidentes ou mortos dos programas de eutanásia em massa, assim como para os que os nazistas tachavam de "associais".
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Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.