Comissão Europeia apresenta projeto para modernizar legislação do bloco sobre mercado digital. Novas regras restringem o poder de gigantes como Facebook e Google e preveem multas de até 10% do faturamento das empresas.
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Margrethe Vestager tem uma reputação que vai além de Bruxelas: precisamente porque a dinamarquesa enfrenta os gigantes da tecnologia. Como comissária da União Europeia (UE) para a Concorrência, ela impôs multas de milhões ou até bilhões contra Google e Facebook.
Nada que tenha mudado as práticas dessas empresas. Entretanto, Vestager foi promovida para o cargo de vice-presidente executiva da Comissão Europeia com o objetivo de promover "Uma Europa Preparada para a Era Digital", como diz o próprio nome do departamento. Nessa função, ela e o francês Thierry Breton, comissário da UE para o Mercado Interno, apresentaram uma proposta de pacote digital que poderá de fato mudar a internet como a conhecemos.
Como os algoritmos das redes sociais funcionam?
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A Digital Markets Act (DMA), ou Lei para Mercados Digitais, foi criada para restringir o poder de mercado de grandes empresas digitais. Já com a Digital Services Act (DAS), ou Lei para Serviços Digitais, a Comissão quer garantir mais transparência na internet, por exemplo, no que diz respeito a por que os usuários veem determinados conteúdos ou anúncios.
Margrethe Vestager compara esse novo avanço a semáforos, que, conforme aponta, foram inventados há mais de 100 anos em Cleveland, nos Estados Unidos, "em resposta a uma grande mudança tecnológica: a invenção do carro".
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Novas regras urgentemente necessárias
Muitos acreditam que uma atualização das regras digitais da UE, que já existem há 20 anos, é urgentemente necessária. "No momento, as regras não são claras", avalia o eurodeputado Tiemo Wölken, do Partido Social-Democrata (SPD) alemão.
No Parlamento Europeu, o político é considerado especialista em legislação de serviços digitais. As novas regras, segundo ele, deixariam claro até que ponto as plataformas são responsáveis pelo conteúdo que exibem.
No futuro, as plataformas deverão ser obrigadas a remover conteúdo ilegal rapidamente. Ao mesmo tempo, no entanto, elas devem explicar a cada usuário por que estão fazendo isso e dar-lhes a oportunidade de se defenderem contra conteúdo eventualmente removido de forma errônea. "Até agora, os direitos básicos dos usuários não foram garantidos", disse Wölken à DW.
Deverá haver também mais transparência em relação ao esquema utilizado para mostrar ao usuário este vídeo ou aquele anúncio. "Não se trata de fazer as plataformas escancararem seus algoritmos, mas sim que temos que ser capazes de decidir em quem confiar e em quem não confiar", afirma Margrethe Vestager.
A comissária espera que a Lei de Mercados Digitais tenha um efeito mais retumbante quando se trata de processos contra Facebook, Google e Amazon. Reclamações contra estes e outros gigantes da tecnologia continuam batendo em sua porta o tempo todo.
Com as novas regras, a Comissão Europeia quer garantir, por exemplo, que Google e Amazon não mais priorizem a exibição de seus próprios produtos, prejudicando assim rivais menores. No futuro, também deverá ser possível que usuários de telefones Android, por exemplo, utilizem outros serviços além dos serviços padronizados da Google.
Mais exigências para os grandes
O comissário da UE Thierry Breton enfatizou em Bruxelas que as propostas digitais não são dirigidas "contra" determinadas empresas. Fato é, no entanto, que as companhias maiores devem cumprir requisitos mais elevados do que as menores devido a seu maior poder de mercado.
De acordo com Vestager e Breton, quem violar as novas regras deve pagar como multa até 10% das vendas anuais globais. O parlamentar europeu Tiemo Wölken está convencido de que tais perspectivas podem realmente pressionar as plataformas a mudarem de comportamento.
No entanto, pode levar anos até que as novas leis digitais entrem em vigor. "Não estamos falando apenas de um ou dois anos", diz Wölken. Ele espera que as várias instituições da UE cheguem a um acordo sobre uma linha comum durante esta legislatura, ou seja, até 2024. "Ainda há muitos desafios pela frente," afirma, alertando para a provável batalha a ser travada entre o Parlamento Europeu e os Estados-membros.
Uma coisa é certa: os anos que virão também irão sofrer a interferência do lobby dos gigantes de tecnologia. A proposta de Vestager e Breton é apenas o primeiro passo em um longo caminho pela frente.
Instagram versus meio ambiente
Para tirar a foto perfeita, hordas de usuários vão para lugares famosos divulgados no Instagram, destruindo ali o habitat natural: ironicamente, influenciadores das mídias sociais estragam alguns dos lugares que amam.
Foto: instagram.com/publiclandshateyou
Tudo pela foto perfeita
Devido a chuvas incomumente fortes no inverno passado, o sul da Califórnia sofreu eclosão maciça de flores silvestres na primavera, levando mais de 50 mil pessoas à área. Para a foto perfeita do Instagram, muitos pisotearam e deitaram sobre as delicadas flores silvestres, o que significa que elas não voltarão a crescer. Bastam algumas pessoas para destruir um ecossistema por anos.
Foto: Reuters/L. Nicholson
Quando a natureza viraliza
O que costumava ser um ponto de encontro familiar local, com vista para o rio Colorado perto do Grand Canyon, se transformou num dos lugares mais "instagramizados" dos EUA. Desde o lançamento do Instagram, visitação de Horsehoe Bend aumentou de alguns milhares para alguns milhões de visitantes anuais. Todos os dias, milhares de pessoas obstruem trilhas, congestionam o tráfego e exaurem recursos.
Foto: imago/blickwinkel/E. Teister
Consequências não intencionais
Quando o fotógrafo Johannes Holzer postou uma foto do lago em que cresceu na Baviera, os usuários do Instagram começaram a ir para lá. Em entrevista à emissora Bayrische Rundfunk, o fotógrafo disse que o gramado que desce para o lago agora parece uma trilha de soldados, há lixo e pontas de cigarro em todos os lugares e nunca se está mais sozinho. A lição? Deixar de lado a geolocalização.
Depois que um vilarejo austríaco de 700 habitantes foi exaltado no Instagram como belo local para tirar fotos, uma média de 80 ônibus turísticos e 10 mil visitantes começaram a chegar todos os dias. Os moradores reclamam que turistas simplesmente entram em suas propriedades para tirar melhores fotos, deixando o lixo para trás, filmando com drones que assustam pássaros e acabando a tranquilidade.
A Praia Jardín, em Tenerife, é um local popular para fotógrafos, pois os turistas construíram centenas de pequenas torres feitas de pedras que coletaram da praia nas proximidades. A visão pode ser linda, mas ela é realmente prejudicial para o ecossistema, pois animais como aranhas, insetos e lagartos vivem embaixo das pedras e perdem seu abrigo quando são levados para longe da praia.
Foto: Imago Images/McPHOTO/W. Boyungs
Não deixe rastro
Além disso, organismos vegetais essenciais para saúde do solo são arrancados quando se mudam as pedras de lugar. É por isso que ambientalistas desmontaram as torres no início deste ano, publicando explicações no Instagram com a hashtag #pasasinhuella, que significa "não deixe rastro". Mas, poucos dias após a campanha, os usuários do Instagram logo começaram a reconstruir as torres de pedra.
Foto: Imago Images/robertharding/N. Farrin
Pipoca que não é para levar
"Praia da Pipoca" é uma praia em Fuerteventura, na Espanha, coberta de algas mortas que parecem pipoca. A praia ganhou popularidade no Instagram, mas, infelizmente, as pessoas que vão ao local para tirar a foto perfeita também levam a "pipoca" para casa como lembrança. Estima-se que 10 quilos desaparecem a cada mês. Por isso, o Projeto Clean Ocean começou a compartilhar fotos como essa.
Foto: Clean Ocean Project
Islandeses contra-atacam
Com mais de 10 milhões de imagens no Instagram, Islândia se tornou destino muito popular para usuários que querem obter a foto perfeita e acabam prejudicando a vida selvagem ao sentar-se em geleiras. O conselho de turismo Visit Iceland lançou agora várias iniciativas que promovem o comportamento responsável dos turistas, que no aeroporto têm de assinar um termo de que vão respeitar a natureza.
Foto: picture-alliance/E. Rhodes
Repreensão vigilante
A conta anônima do Instagram Public Lands Hate You (Terras públicas odeiam você) faz parte de uma tendência que aponta o dedo para o comportamento irresponsável de alguns usuários. A conta reposta imagens de pessoas que violam as regras na natureza, o que levou marcas a romper contratos com alguns influenciadores e até mesmo à abertura de investigações do Serviço Nacional de Parques dos EUA.