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EsporteAlemanha

A quarta onda de covid e o exemplo da pessoa pública

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
16 de novembro de 2021

Aumento do número de infecções pelo coronavírus evidencia infuência de personalidades públicas sobre cidadão comum. Hesitação do jogador Joshua Kimmich é mau exemplo para indecisos sobre vacinação, escreve Gerd Wenzel.

Joshua Kimmich, do Bayern de Munique, disse hesitar em relação à vacina de covid-19Foto: MIS/imago images

Na Alemanha grassa atualmente a quarta onda da pandemia com uma virulência nunca vista. A incidência de novos casos de covid-19, ou taxa de infecções por 100 mil habitantes em sete dias, superou 300 esta semana. É alarmante.

Hospitais já não estão dando conta e postergam "sine die" cirurgias consideradas adiáveis, visando liberar leitos das UTIs para pacientes infectados pelo corona, cuja maioria é de pacientes que não tomaram a vacina.

Calcula-se que na Alemanha há aproximadamente 15 milhões de pessoas que, por um motivo ou outro, recusam a vacina. O índice dos que completaram a vacinação (1ª e 2ª dose) é de apenas 67,5% e está estagnado nesse patamar já faz algumas semanas.

É numa situação dramática como essa pela qual o país passa que o papel de pessoas públicas assume contornos significativos, pois tanto por palavras quanto por ações, essas personalidades influenciam sobremaneira o comportamento do cidadão comum.

O jogador de futebol Joshua Kimmich do Bayern de Munique e da seleção alemã, por exemplo, declarou recentemente alto e bom som que tem sérias dúvidas sobre os efeitos colaterais a longo prazo da vacina e por esse motivo continuará aguardando estudos mais aprofundados para se vacinar.

Dias depois dessa declaração, coincidência ou não, dos oito jogadores do Bayern convocados por Hansi Flick para os últimos dois jogos da seleção alemã pelas eliminatórias da Copa do Mundo, quatro foram mandados de volta para suas casas com a recomendação de permanecerem em quarentena caseira, a saber: Niklas Süle – testado positivo para Covid-19 assim que chegou ao hotel da concentração em Wolfsburg – além de Joshua Kimmich, Serge Gnabry e Jamal Musiala.

A declaração de Kimmich não apenas revela sua falta de conhecimento sobre as bases científicas já comprovadas da vacina, mas também acaba sendo um péssimo exemplo para os que ainda alimentam dúvidas sobre a eficácia da vacinação.

O efeito desse tipo de declaração de uma personalidade pública sobre o cidadão comum cheio de incertezas me parece elementar. Ele sempre poderá dizer: "Se alguém como Kimmich, cercado numa bolha no seu clube com abundantes informações disponíveis sobre corona, ainda alimenta dúvidas, por que eu, ignorante sobre um assunto tão complexo, devo me vacinar?"

De todo modo, Kimmich poderia ter se informado melhor com cientistas de renome na própria Alemanha. Eles tranquilamente lhe explicariam que suas reservas sobre a vacinação carecem de qualquer base científica e isso no mundo inteiro.

É revelador que o jogador tenha recebido o apoio explícito de negacionistas do corona, de toda sorte de defensores de teorias conspiratórias e, pior de tudo, do partido ultradireitista AfD.

Philipp Köster, redator-chefe da revista 11 Freunde (11 Amigos), não deixou barato: "Se eu fosse Kimmich e visse que estou sendo festejado por um bando de lunáticos, no dia seguinte iria ao primeiro posto de vacinação para ser vacinado imediatamente."

Talvez, a essa altura, o talentoso profissional do Bayern até já tenha se arrependido da sua fala infeliz, mas não consta, pelo menos até o momento, que ele tenha se vacinado apesar de ter dito que o faria em breve.

Já faz pouco mais de oito meses que Karl-Heinz Rummenigge, na época diretor executivo do Bayern, fez uma declaração que causou furor. Para ele, jogadores de futebol poderiam ser um exemplo a seguir no que diz respeito à vacinação contra a covid-19.

Suas palavras não deixam dúvidas: "Assim que jogadores do Bayern forem vacinados contra o vírus, a confiança da população na vacinação vai crescer. Será a nossa contribuição para a sociedade nesse momento difícil."

Rummenigge sabia do que estava falando e sabia do impacto positivo que o bom exemplo de uma pessoa pública pode causar na sociedade.

É lamentável que Joshua Kimmich, com seu mau exemplo, tenha contribuído para provocar exatamente o contrário – a desconfiança quanto à vacina e seus eventuais efeitos colaterais.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.

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