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A queda de Michel Platini

21 de dezembro de 2015

Comitê de Ética da Fifa bane francês do futebol por oito anos e praticamente enterra chances de ele se tornar presidente da federação. Platini promete recorrer, mas decisão pode ser fim da sua carreira de dirigente.

Foto: AFP/Getty Images

Dois dos mais poderosos cartolas do futebol mundial receberam o cartão vermelho nesta segunda-feira (21/12) e estão diante do fim da suas carreiras de dirigentes: o Comitê de Ética da Fifa baniu por oito anos o presidente da federação, Joseph Blatter, e o presidente da Uefa, Michel Platini.

Blatter, de 79 anos, já estava de certa forma fora do jogo, pois havia anunciado sua renúncia à presidência da Fifa em junho, depois de décadas ditando os rumos do esporte. Mas Platini, de 60 anos, não: ele ainda sonhava em suceder o suíço na liderança da instituição que comanda o futebol mundial, apesar de uma suspensão temporária de 90 dias, também determinada pelo Comitê de Ética. A decisão desta segunda-feira praticamente enterra esse sonho.

E não só isso: banido do futebol, Platini também terá que renunciar à presidência da Uefa, que ocupa desde 2007, e ao cargo de vice-presidente da Fifa. Os dois dirigentes afirmaram que vão recorrer da condenação ao Comitê de Apelação da Fifa e, se necessário, à Corte Arbitral do Esporte, em Lausanne, na Suíça.

O polêmico trabalho de Platini como consultor de Blatter, entre 1999 e 2002, e o recebimento de um pagamento correspondente de 2 milhões de francos suíços em 2011 não podem ser considerados uma grande jogada do ex-capitão da seleção francesa. Na decisão desta segunda, o Comitê de Ética da Fifa afirmou que não havia base legal para que o francês recebesse esse valor.

Por meio de nota, Platini disse que a decisão da Fifa foi uma farsa para sujar seu nome. "Paralelamente à Corte Arbitral do Esporte, estou determinado a apelar, na hora certa, a tribunais civis para obter indenização por todo o prejuízo que eu sofri ao longo de várias semanas", afirmou.

Platini venceu a Eurocopa de 1984 com a França e foi um dos maiores jogadores da seleção francesaFoto: AP

Passes perfeitos

Neto de migrantes italianos, Michel Platini nasceu e cresceu na pequena cidade de Joeuf, no leste da França. Seu pai, Aldo, era um professor de matemática e treinador de futebol. Quando jovem, Platini mostrou rapidamente ser habilidoso com a bola.

Depois de ser rejeitado pelo Metz, ele assinou contrato com o Nancy em 1972, e o resto é história. Platini venceu a Copa da França com o Nancy, um campeonato francês com o Saint-Etienne e, depois de uma grande apresentação na Copa do Mundo de 1982, foi para a Juventus de Turim. Na Itália, venceu dois títulos da Série A e uma Taça dos Clubes Campeões Europeus, antecessora da Liga dos Campeões.

Os passes de Platini eram milimetricamente perfeitos e, por alguns anos, ele foi um dos maiores jogadores futebol do mundo. Ele ganhou a Eurocopa com a França, em 1984, e a Bola de Ouro em 1983, 1984 e 1985.

Sua aposentadoria, aos 32 anos, foi um choque. Mas, um ano depois, Platini se tornou técnico da seleção francesa, cargo que ocupou por quatro anos. A equipe caiu no primeiro turno da Eurocopa de 1992, e ele pediu demissão.

Platini continuou sendo uma lenda do futebol e passou a se dedicar à administração do esporte. Ele foi copresidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 1998, na França, e ajudou de forma significativa a campanha de Blatter para assumir a presidência da Fifa naquele ano.

Platini se tornou vice-presidente da Federação Francesa de Futebol em 2001 e marcou sua maior vitória política quando assumiu o cargo de presidente da Uefa, em 2007 – deixando para trás o líder de longa data, Lennart Johansson, já na primeira rodada de votação.

Questões controversas

Por anos, parecia que ele seria o sucessor de Blatter na presidência da Fifa. Chung Mong-Joon, um magnata sul-coreano e ex-vice-presidente da Fifa, afirmou que a relação entre os dois era de "pai e filho".

Porém, a proximidade começou a se desfazer quando o escândalo da Fifa deu início à destruição do império de Blatter. Mas, por três anos, a partir de 1999, Platini foi conselheiro do presidente da organização mundial do futebol.

A versão sustentada por Blatter e Platini era que eles chegaram a um acordo verbal sobre o salário anual de 1 milhão de francos suíços, que não teria sido totalmente pago. A Fifa não sabia nada sobre o negócio e os procuradores-gerais suíços consideraram a transferência de 2 milhões de francos suíços, em 2011, como um "pagamento desleal".

Sob Platini, o patrimônio da Uefa tem crescido exponencialmente. A Liga dos Campeões é uma das principais grifes esportivas do mundo. A próxima edição da Eurocopa, a ser realizada na França em 2016, contará pela primeira vez com 24 países.

Mas o francês enfrenta outras questões embaraçosas, incluindo seu voto pelo Catar quando o Estado do Golfo assegurou o direito de realizar a Copa do Mundo de 2022, há quatro anos. Platini afirmou, na época, que queria mostrar que seus horizontes não eram limitados à Europa.

"De modo algum eu tenho arrependimentos. Eu acredito que foi a escolha certa para a Fifa e para o futebol mundial", afirmou Platini ao jornal L'Equipe, em 2014. Ele negou que foi influenciado pelo ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, ou pelo fato de seu filho, Laurent, trabalhar para uma empresa de roupas esportivas do Catar.

Houve controvérsia também sobre a sua recusa de devolver um relógio no valor de mais de 25 mil dólares presenteado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na Copa do Mundo de 2014. "Eu sou uma pessoa bem-educada. Eu não devolvo presentes", afirmou Platini após a Fifa apelar a todos os executivos a devolverem o presente por conta da violação das regras de ética da organização.

FC/afp/rtr/dpa/afp

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