Exposição em Berlim traz fotos de Robert Conrad, um fotógrafo da Alemanha Oriental que documentou o lento desaparecimento da estrutura de concreto que simbolizou a Guerra Fria.
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Por que Robert Conrad tirou tantas fotos da queda do Muro de Berlim? Da estrutura de concreto que foi quase completamente demolida entre 1989 e 1990, ele conseguiu capturar cerca de 5 mil imagens em apenas alguns meses. O muro foi "um tópico formativo e sombrio por toda a minha vida", explica o fotógrafo nascido na Alemanha Oriental em 1962.
Uma seleção de suas fotos históricas está em exibição até o dia 18 de abril como parte de uma exposição ao ar livre batizada de O desaparecimento do Muro. A mostra pode ser conferida na praça Steinplatz, em Berlim, local onde fica a Universidade Técnica, onde Conrad estudou história da arte e arquitetura.
Sob a ditadura da Alemanha Oriental, Conrad não tinha autorização para cursar uma universidade por razões políticas. Mas isso não o impediu de, secretamente, tirar fotos da imensa barreira que dividia a cidade. Quando o Muro de Berlim inesperadamente caiu, em 9 de novembro de 1989, ele estava, portanto, "um tanto quanto treinado para tal projeto fotográfico", lembra.
Talentoso e autodidata, o fotógrafo diletante capturou imagens de casas decadentes e documentou a demolição de ruas inteiras na Alemanha Oriental com sua câmera. Greifswald, sua cidade natal, no Mar Báltico, também foi afetada, assim como as cidades do lado ocidental.
Conrad se mudou para Berlim Oriental em 1986, três anos antes da queda do Muro. Ele ansiava por uma vida na Alemanha Ocidental e chegou a se candidatar para deixar o país. Seu pedido foi aprovado para fevereiro de 1990. Àquela altura, porém, o Muro já estava aberto havia três meses.
Escondidas em arquivos
As fotos de Conrad documentam como o Muro de Berlim foi desaparecendo aos poucos da paisagem urbana: um buraco no muro, uma torre de vigia tombada ou uma estação de metrô por décadas abandonada, onde nenhum trem parava. Ele também fotografou outras áreas ao longo dos 150 quilômetros de fortificações de fronteira. "Chegou um momento em que havia milhares de fotos", diz ele sobre o material que levou décadas para ser catalogado.
Foi só depois da virada do milênio que sua coleção particular foi saindo lentamente do esquecimento, em parte graças ao Memorial do Muro de Berlim e ao Escritório de Registros da Stasi, que reconheceu o valor das fotografias e as comprou de Robert Conrad.
O cronista do Muro é particularmente grato por projetos como esse da exposição ao ar livre, tornada possível graças a uma cooperação entre a Sociedade Robert Havemann e o bairro de Charlottenburg-Wilmersdorf, em Berlim. Com entrada gratuita, a mostra é particularmente apreciada durante este período de restrições aos museus.
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'Estilo frio e sombrio'
A principal preocupação de Conrad sempre foi "mostrar essa monstruosidade em uma série infinita de fotos". Como historiador de arquitetura, ele sempre se interessou pela história da estrutura, referida pelo regime da Alemanha Oriental como "muro de proteção antifascista". Na realidade, porém, seu único propósito era literalmente bloquear o caminho para a liberdade dos alemães orientais.
E, no entanto, como fotógrafo, Conrad nunca hesitou em "capturar as qualidades visuais da arquitetura com uma certa ambição estética" ao olhar para o Muro. Conrad não esconde um certo fascínio por esse colosso arquitetônico da Guerra Fria. Apesar de desaprová-lo pessoalmente, de um ponto de vista profissional ele se sentia atraído por esse "estilo sombrio e frio".
Mesmo assim, o fotógrafo descreve a estrutura que separou os alemães orientais e ocidentais por 28 anos como "arquitetura em sua forma mais violenta".
Quando o Muro caiu, Conrad fotografou os desdobramentos desse acontecimento histórico por motivações meramente particulares. Hoje, as fotos estão disponíveis para todos. O Desaparecimento do Muro, com textos em alemão e inglês, foi concebido como uma exposição itinerante que deverá sair em turnê a partir de Berlim.
A Rota do Muro de Berlim
A derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial resultou na divisão do país, ratificada com o Muro de Berlim. Veja algumas estações do símbolo da divisão.
Foto: DW/M. Fürstenau
160 km de história
Durante 28 anos, até 1989, o Muro dividiu Berlim em Ocidental e Oriental. Hoje, há cada vez menos resquícios da divisão. A Rota do Muro de Berlim tem 160 quilômetros, que podem ser seguidos a pé ou de bicicleta.Testemunhos daquele tempo e muita informação contam a história do Muro.
Memorial do Muro
O passeio pode ser iniciado em qualquer ponto da rota. Uma sugestão é começar no Memorial do Muro de Berlim, seguindo por 1,4 km a rua Bernauer Strasse, ao longo da qual ficava o Muro. Ela mostra a arquitetura assassina da antiga fronteira e lembra as pessoas que perderam a vida tentando fugir de Berlim Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Pedras redesenham percurso do Muro
Uma fileira dupla de quase seis quilômetros de paralelepípedos ajuda a imaginar onde passava o Muro. Mas qual era o lado ocidental? De trecho em trecho, há uma placa em bronze com a informação: "Muro de Berlim 1961-1989". Isso só pode ser lido por quem está no antigo lado ocidental.
Foto: DW/E. Grenier
De símbolo da divisão a marco da unidade
Seguindo em direção ao centro, chega-se aos prédios do governo federal, ao longo do rio Spree, e à praça Pariser Platz, onde fica o Portão de Brandemburgo, que havia sido isolado pelo Muro. Ele não podia ser acessado nem por Berlim Ocidental, nem pela Oriental. De símbolo da divisão, ele virou símbolo da unidade, após a queda do Muro.
Foto: picture-alliance/dpa
Checkpoint Charlie
A mais famosa das antigas passagens entre os dois lados da Berlim dividida é Checkpoint Charlie. No local, não há mais nada de original, até o ponto de controle é uma réplica do ano 2000, cercada por lojas de souvenirs baratos. Mesmo assim, o local está sempre cheio de turistas. O auge da comercialização da História são homens vestidos de soldados alemães-orientais que cobram para posar em fotos.
Foto: picture-alliance/dpa/Maurizio Gambarini
As torres de vigilância
Do lado alemão-oriental, havia mais de 300 torres de vigilância. Ali, com as mãos no gatilho, os soldados da então Alemanha Oriental vigiavam a faixa de fronteira 24 horas por dia. Apenas três dessas torres ainda existem e todas estão protegidas como patrimônio histórico. Esta da foto fica quase escondida numa rua lateral à praça Potsdamer Platz.
Foto: picture alliance/dpa/W. Steinberg
East Side Gallery, arte ao ar livre
A rota também passa pelo trecho mais longo do Muro ainda de pé. O lado ocidental do símbolo da divisão alemã sempre foi conhecido pelos seus grafites coloridos. Já o lado oriental era cinza. Artistas internacionais mudaram isso em 1990. Eles pintaram um trecho dele de 1,3 km no bairro Berlin-Friedrichshain, criando assim a mais longa galeria de arte ao ar livre.
Foto: Reuters/F. Bensch
Trocas de espiões na ponte de Glienicke
A maior parte da rota do Muro se estende por 110 km ao longo da fronteira do perímetro urbano de Berlim. Um ponto de destaque neste trajeto é a ponte de Glienicke, palco de espetaculares trocas de espiões durante a Guerra Fria e cenário de filmes como "Ponte dos Espiões", de Steven Spielberg, com Tom Hanks.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Hirschberger
Museu na torre de fronteira
Trechos da rota margeiam rios, atravessam bosques e campos. O meio ambiente em volta de Berlim testemunhou muitas tentativas arriscadas de fuga. O Muro dividiu famílias e vilarejos, como Hennigsdorf, a 20 km de Berlim. Um museu na torre de fronteira conta como era a vida com o Muro.
Foto: DW/M. Fürstenau
Cerejeiras, presente japonês
Milhares de cerejeiras colorem trajetos da Rota do Muro. Elas foram doadas por japoneses, para representar a alegria pela Reunificação. A cada primavera, elas transformam estas áreas em um mar cor-de-rosa. Como embaixo da ponte Bösebrücke, no bairro Pankow. Ela foi o primeiro posto de fronteira a abrir na noite da queda do Muro, em 9 de novembro de 1989.