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A receita do sucesso da Alemanha na Euro Feminina 2022

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
26 de julho de 2022

Comissão técnica coesa e unida e uma capitã experiente, goleadora e respeitada são ingredientes de alto valor competitivo e que podem levar a Alemanha ao seu nono título de campeã europeia de futebol feminino.

A técnica Martina Voss-Tecklenburg abraça a capitã Alexandra Popp após gol contra e Espanha na fase de gruposFoto: DYLAN MARTINEZ/REUTERS

Inglaterra como dona da casa, Espanha recheada de talentos individuais, Holanda ambiciosa defensora do título vencido em 2017 e a França com seu futebol ofensivo começaram a atual edição da Women's Euro como fortíssimas candidatas à conquista do título. Corriam por fora nas casas de apostas as seleções de Suécia, Alemanha e Dinamarca, a atual vice-campeã europeia.

Particularmente a Alemanha era vista com alguma desconfiança, mesmo porque os seus últimos resultados em competições internacionais foram medíocres. Tanto na Copa de Mundo de 2019 quanto na Eurocopa de 2017, as alemãs foram eliminadas já nas quartas de final e, para piorar tudo mais um pouco, ainda por cima não se classificaram para os Jogos Olímpicos de Tóquio.

Desde a medalha de ouro obtida nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, a Alemanha passa em brancas nuvens sem vencer um título – e pior, sequer chegou à uma semifinal.

Passada a fase de grupos e das quartas de final da atual edição da Euro, duas das maiores cotadas à conquista da taça – Espanha e Holanda – já estão fora do torneio, depois de terem sido eliminadas por Inglaterra e França, respectivamente. No seu lugar se apresentam agora Suécia e Alemanha.

A Suécia tem sido uma força considerável no cenário de recentes competições internacionais. Nos últimos Jogos Olimpícos obteve a medalha de prata após derrota frente ao Canadá, e na Copa do Mundo de 2019 acabou ficando com o terceiro lugar ao vencer a Inglaterra (2x1).

Já a Alemanha está fazendo um torneio impecável: quatro jogos, quatro vitórias incontestáveis, 11 gols pró, nenhum gol sofrido. Qual é a receita e quais são seus ingredientes? Basicamente encontrei dois.

A volta por cima de Alexandra Popp

O primeiro é a volta por cima da atacante Alexandra Popp, capitã da seleção. Para começo de conversa, na fase de preparativos para a Euro, nem havia muita certeza se a jogadora de 31 anos teria condições de integrar o elenco.

Popp lutou durante quase um ano contra uma insistente contusão no joelho e em meados de junho foi diagnosticada com covid-19. Recuperada fisicamente, foi convocada pela técnica Martin Voss-Tecklenburg e embarcou num voo charter rumo a Londres no comecinho de julho.

Vale lembrar que a capitã não pôde participar das duas Eurocopas anteriores, em 2017 e 2013, justamente por causa de contusões. Ela não queria perder o torneio na Inglaterra em hipótese alguma. Sabe que muito provavelmente esse será o seu último grande palco internacional.

A capitã Alexandra Popp e a colega Jule Brand comemoram o segundo gol da Alemanha contra a Áustria nas quartas de finalFoto: Dylan Martinez/REUTERS

Alexandra Popp exerce uma liderança natural sobre o elenco. Ela acumula 118 jogos com a seleção e é a jogadora mais experiente de todo o time. Faz parte do conselho de jogadoras e negociou o valor do prêmio com os dirigentes da Federação Alemã de Futebol, caso a Alemanha vença o título em Wembley: 60 mil euros. Na Copa de 2017, teriam sido apenas 37.500 euros.

Não bastasse isso, Popp é artilheira nº 1 da Alemanha nesta Copa. Em cada um dos quatro jogos, marcou um gol, sendo três de cabeça – a sua especialidade. Com quatro gols anotados, é vice-artilheira da competição, ficando atrás apenas de Beath Mead, da Inglaterra, que lidera a tabela de goleadoras com cinco gols marcados.

A experiente Popp é o braço direito da técnica Martina Voss-Tecklenburg em campo. As duas se conhecem muito bem desde os tempos do FCR Duisburg quando em 2009 venceram um torneio europeu que mais tarde se tornaria a Champions League das Mulheres.

Espírito do contínuo desenvolvimento

E assim chegamos a mais dois ingredientes intimamente ligados um ao outro. Um é a treinadora Martina e outro é a sua comissão técnica.

Na última Copa do Mundo de 2019, a Alemanha foi eliminada nas quartas de final pela Suécia (1x2). Não apenas deu adeus à qualquer pretensão no Mundial, mas também perdeu a oportunidade de participar dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Um vexame. O que Martina fez?

Logo depois do fracasso, ela reuniu todos os integrantes da sua comissão técnica. Ficaram a portas fechadas durante alguns dias para definir as medidas a serem tomadas para fazer com que a Alemanha voltasse à trilha de vitórias.

"Isso foi muito importante e fez bem a todos nós. Posteriormente repetimos a dose toda vez que achávamos ser necessário dar um passo adiante rumo à nossa visão do tipo de futebol que pretendíamos implementar na seleção", afirmou Martina três anos mais tarde em Londres, logo depois da vitória sobre a Áustria (2x0) nas quartas de final.

"Que tipo de futebol queremos mostrar? Qual é o papel tático de cada jogadora no decorrer de uma partida? Como cada um de nós, seja jogadora, ou seja integrante da comissão técnica, pode se desenvolver em prol do conjunto?" E a própria treinadora responde: "Parecem questionamentos banais, mas tudo é uma questão de intensidade. Não ficamos nos acomodando. Queremos cada vez mais."

E esse espírito do contínuo desenvolvimento das potencialidades de cada um acaba por "contaminar" todo o elenco. É o que se pôde constatar pelo que o time apresentou em campo até agora.

Uma comissão técnica cujos integrantes formam uma unidade coesa e unida. Uma técnica capaz de transmitir claramente seus conceitos respeitando a qualidade individual de cada uma das suas jogadoras. Uma capitã experiente, goleadora e respeitada pelas colegas.

Nos seus quatro jogos, a equipe mostrou que é capaz de agir e reagir taticamente a adversários diferentes, esbanjou doses maciças de autoconfiança, demonstrou extrema coesão em torno do seu objetivo comum.

Como se vê, nessa receita não faltam ingredientes de alto valor competitivo e que podem levar a Alemanha ao seu nono título de campeã europeia de futebol feminino.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.