Ensino superior em reforma
21 de agosto de 2008Um dos quesitos mais considerados na hora de escolher um curso superior é a tradição da instituição de ensino. Quanto maior o renome de uma universidade, maior a crença em sua credibilidade e o desejo de fazer parte do seu quadro de alunos.
Não à toa muitos estudantes brasileiros procuram universidades no continente europeu para iniciarem, concluírem ou aperfeiçoarem seus conhecimentos acadêmicos, na procura de um diferencial no currículo profissional.
Pois justamente o berço da tradição do ensino superior, a Europa, vem realizando uma série de transformações no seu sistema de ensino superior. Trata-se do Processo de Bolonha, acordo estipulado em 1999 na cidade homônima da universidade considerada a mais antiga da Europa.
Naquele ano, reuniram-se 27 ministros europeus de Educação para firmar um audacioso projeto que visa à criação de um "espaço europeu de ensino superior".
Mesmos títulos, mesmas qualificações
O "espaço europeu de ensino superior" deverá ser alcançado, entre outras medidas, através da equivalência dos títulos acadêmicos, comparáveis entre si e válidos em todo o território europeu.
Até 2010, todas as instituições de ensino superior dos países envolvidos no processo deverão oferecer os títulos de Bachelor (bacharelado), Master (mestrado) e Promotion (doutorado). Fala-se no sistema "3+2+3", ou seja, três anos de graduação, dois anos de mestrado e três de doutorado.
Além da obtenção dos mesmos títulos, a execução do Processo de Bolonha deverá ser garantida através do chamado "Diploma Supplement" (DS), um documento com informações sobre o conteúdo da grade curricular, a descrição do título obtido e as qualificações vinculadas a ele.
Expedido gratuitamente para todos os formandos em instituições de ensino superior de países participantes do Processo de Bolonha, o DS já é considerado a referência padrão para o reconhecimento de créditos estudantis em nível europeu.
Atualmente, 46 países da Europa estão envolvidos neste grande canteiro de obras no sistema educacional, com exceção apenas de Belarus, Mônaco e San Marino.
A maior reforma educacional dos últimos anos no Velho Continente pretende tornar a oferta mais competitiva e internacional, além de oferecer ao estudo maior qualidade, transparência e mobilidade.
Bye-bye Diplom, bye-bye Magister
O pontapé inicial para o Processo de Bolonha foi dado pela Alemanha. O país foi um dos primeiros na Europa a manifestar interesse na conquista de um espaço comum de ensino superior na Europa, ainda em 1998.
Juntamente com Reino Unido, França e Itália, os alemães assinaram já naquele ano um documento que ratificava o intuito dos quatro países em encurtar barreiras e encontrar soluções comuns para o aperfeiçoamento do sistema educacional na Europa.
Desde então, muito fez-se neste sentido. No semestre de verão 2008 (de abril a outubro) as instituições alemãs de ensino superior ofereceram 4.541 cursos Bachelor e 3.065 cursos Master. Estes dados já correspondem a 67% de todos os cursos de formação superior oferecidos no país.
Até agora, os tradicionais certificados de conclusão de cursos superiores alemães eram o Diplom (diploma universitário) e – nas Ciências Humanas – o título de Magister.
Para obter um destes títulos, o aluno necessitava estudar cerca de cinco anos, caso conseguisse terminar seu curso no tempo regular. Porém, para aqueles que não o conseguiam, o tempo de estudo poderia se esticar infinitamente, em mais três, cinco, ou até mesmo dez anos.
Sob esse ponto de vista, um dos mais importantes objetivos do Processo de Bolonha na Alemanha é contornar esse problema, tornando o estudo no país mais atraente e diminuindo o número de Studienabbrecher – palavra em alemão que designa os estudantes universitários que interrompem os estudos.
Já a partir do semestre de inverno 2008/09 (de outubro a abril) não deverão ser mais aceitas inscrições para cursos com títulos de Diplom ou Magister. A meta é que até 2010 não seja mais oferecido nenhum curso com esses títulos nas universidades alemãs.
É a globalização do ensino atravessando as barreiras da tradição.