A exposição "Pós-guerra: Arte entre o Pacífico e o Atlântico", na Haus der Kunst, em Munique, mostra as turbulências do período após a Segunda Guerra Mundial do ponto de vista dos artistas.
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Nunca antes o mundo moderno havia sido tão abalado em suas estruturas como pela Segunda Guerra Mundial: o trauma dos milhões de mortos e feridos, o Holocausto, os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki. A reconstrução também trouxe incerteza, a Guerra Fria, com o conflito Leste-Oeste, despertou temores de uma disputa nuclear.
Aberta nesta sexta-feira (14/10), a exposição Postwar: Kunst zwischen Pazifik und Atlantik, 1945-1965 (Pós-guerra: Arte entre o Pacífico e o Atlântico) no espaço de exposições Haus der Kunst (Casa da Arte), em Munique, descreve o período pós-guerra pela visão dos artistas.
Até 26 de março próximo, o visitante poderá observar na mostra em Munique como a arte e a política passaram a ficar cada vez mais interligadas na nova ordem mundial. Com 350 trabalhos, entre pinturas, esculturas, instalações, perfomances, filmes, cadernos, documentos e fotografias de 218 artistas provenientes de 65 países, a exposição tenta responder às questões do nosso tempo: O que seria uma Modernidade global? Como a pressão política influenciou a estética?
E como os artistas, críticos e intelectuais se posicionaram diante das ideologias políticas? Como eles reagiram diante das condições em seus países? Com acomodação, com protesto? Imagens da China, Polônia ou da antiga União Soviética mostram, por exemplo, trabalhadores exemplares, grandes generais e extravagantes ditadores. Mas não houve apenas a arte unitária de um Realismo Socialista.
A exposição traz também artistas como Willi Sitte (Alemanha Oriental) e Wojciech Fangor (Polônia), que entraram muitas vezes em conflito com as autoridades estatais, já que seus trabalhos glorificariam, supostamente, o Ocidente decadente ou não idealizariam suficientemente o socialismo.
Exposição com visão global
Para a sua exposição, os curadores tiveram uma reivindicação global. Por esse motivo, eles não a organizaram cronológica ou geograficamente, mas de forma temática. Oito seções demonstram como os artistas processaram os caminhos do mundo depois de 1945.
A seção Implicações: hora zero e a era atômica mostra, por exemplo, o quadro Fogo dos japoneses Maruki Iri e Maruki Toshi. Em seu Painel de Hiroshima, de 15 peças, o casal de artistas japoneses investiga os efeitos das bombas atômicas americanas sobre Hiroshima e Nagasaki e outras catástrofes nucleares do século 20.
Além disso, a primeira seção Pós-guerra traz também trabalhos do alemão Joseph Beuys, do irlandês Francis Bacon e dos artistas pop americano Roy Lichtenstein – e assim uma visão mais ocidental da emergente era nuclear.
As rápidas mudanças do pós-guerra fizeram com que "novas visões humanas" viessem à tona. Artistas de todas as partes do mundo formularam críticas às consequências do colonialismo.
Direitos humanos, racismo e movimentos de independência se tornaram o fio condutor de seus trabalhos – seja na Indonésia, Índia, Síria, Nigéria ou também na Argentina. Na seção Pós-guerra, destaca-se principalmente a pintura antibelicista de Pablo Picasso Massacre na Coreia, de 1951. Ali, o artista se posiciona diante das atrocidades cometidas durante a guerra na Península Coreana.
Diferentes vertentes da Modernidade
Os curadores de Pós-guerra pretenderam ver para além do horizonte da Modernidade ocidental. Eles quiseram mostrar que a era moderna assumiu muitas formas diferentes ao redor do planeta. Além de trabalhos de artistas consagrados como Jackson Pollock, Bernett Newman ou Ernst Wilhelm Nay, na parte da exposição chamada Forma é significativa também se encontram pinturas abstratas de Fahrelnissa Zeid, Ahmed Cherkaoui, ou Siah Armajani.
A última seção da mostra foca na comunicação e divulgação, no conflito e controle. Como expressão da crítica diante das mídias de massa, em 1963, o artista alemão Günther Uecker fixou centenas de pregos num aparelho de televisão. A foto resultante TV é apenas um dos muitos trabalhos que abordam o mundo cada vez mais conectado e suas consequências.
A arte pop alemã
O crescimento econômico do pós-guerra motivou artistas em Berlim, Munique e Frankfurt a capturar os ideais da nova classe média com ironia. Assim nasceu a arte pop alemã, em exposição na Schirn Kunsthalle em Frankfurt.
Quando Hermann Albert se mudou para Berlim, em 1964, o sentimento era de que qualquer arte que derivasse de objetos reais deveria se limitar à doutrina do regime de Stálin, exaltando os êxitos da classe trabalhadora em retratos e paisagens. Os jovens artistas se rebelaram e passaram a integrar elementos de técnicas do passado para distorcer imagens e criar exemplos irônicos de americanização.
Motorboot 1 (Barco a motor 1), de Gerhard Richter – 1965
A obra fotorrealista de Richter foi a pioneira da "Nova Pintura Europeia", que explora arquivos históricos, obras abstratas americanas e figurações. No Artist Space Books, ele diz: "a primeira vez que pintei a partir de uma fotografia, senti uma mistura de euforia e medo". Em 2013, seu trabalho "Domplatz, Mailand" foi vendido por 37,1 milhões de dólares, recorde para um artista vivo.
Herr und Frau S. (Sr. e Sra S.), de Konrad Lueg -1965
Conhecido na comunidade artística de Düsselforf como mercador de arte, de 1963 a 1968 Konrad Fischer pintou sob o pseudônimo de Konrad Lueg. Sua obra "Sr. e Sra S." é um exemplo brilhante da arte pop em pintura estampada. Lueg, juntamente com Richter, fez sua primeira grande exposição em 1963.
Zwei Kameraden (Dois camaradas), de Konrad Klapheck – 1966
Conhecido por modificar absurdamente as medidas dos objetos, o foco principal de Klapheck eram as máquinas. Como se pode ver em "Zwei Kameraden", ele utiliza a estatura de réplicas em grandes proporções para enviar mensagens que muitas vezes nada têm a ver com a presença inócua desses objetos. Em 1979, Klapheck retornou a sua alma mater, a Academia de Arte de Düsseldorf, como professor.
Stilleben mit Frosch (Natureza morta com sapo), de Christa Dichgans – 1969
A arte de Dichgans procura o incomum e o surreal escondidos no dia a dia. Em 1966, em Nova York, ela começou a interagir com o pop. "Natureza morta com sapo" é um de seus trabalhos inspirados pelo nascimento de seu filho. "Foi como uma minirrealidade em formato concentrado", disse ela em entrevista. Nos anos 1980, seu trabalho se transformou novamente, preenchido por mapas de suas viagens.
Foto: Private collection Courtesy Contemporary Fine Arts, Berlin Photo: Jochen Littkemann
Die Beiden (Os dois), de Werner Berges – 1967
Típico tradicionalista, Berges é um dos poucos artistas da arte pop alemã que ainda pratica essa técnica. Em "Os dois" pode-se ver sua característica paleta de cores. Singular no estilo dele é a tendência de se limitar às três cores primárias – vermelho, amarelo e azul. Esta obra foi criada pela combinação de caneta hidrográfica, giz de cera e tinta óleo pastel.
Schreibmaschine (Máquina de escrever), de Manfred Kuttner – 1963
Em 1963, em um açougue desocupado, Kuttner, Richter, Lueg e Polke cunharam o termo "realismo capitalista" em sua primeira exibição conjunta em Düsseldorf. Como se pode ver nesse trabalho, ele se especializou em uma técnica que combinava colagem, cores vibrantes e camadas de tinta. A carreira de Kuttner durou apenas três anos, após os quais ele abandonou a pintura, aos 28 anos.
Essa fotografia foi feita no clube Creamcheese em Düsseldorf. A projeção foi criada pelo artista Ferdinand Kriwet, que trabalhava com tecidos, música e uma combinação de outros meios. Aqui o que se vê é uma imagem projetada sobre frequentadores da casa noturna, que era ponto de encontro da cena artística.
Foto: Photo: Sammlung Creamcheese, Düsseldorf
Sem título, de Peter Roehr – 1964
A exposição de arte pop alemã revisita os anos 1960. O diretor de arte Max Hollen explica que "o pop é uma atitude perante a vida... o pop na Alemanha era um tipo de rebelião... um movimento da juventude. Derrubava valores antigos e combatia os novos". Ao analisar spots publicitários como forma de expor a propaganda, Roehr era considerado um dos mais influentes representantes a arte pop alemã.
Köhler integrava o coletivo de artistas GEFLECHT, que visava estabelecer uma conexão entre a vida e a arte. Nasceu assim um espírito de comunidade, seguido de trabalhos coletivos. Surgiram um manifesto e uma constitução. Em 1967, eles invadiram um porão em Munique. O espaço era dividido em ateliê, área de exposição e local para debates sociais e políticos, até a dissolução do grupo, em 1968.
O sombreado e a descolagem nessa obra são representativos da técnica característica do escultor e pintor Vostell. Em "Dutschke", ele utilizou uma fotografia, adicionando acrílico e verniz sobre a tela. Vostell foi cofundador do movimento Fluxus e um pioneiro em videoarte e instalações. Em 1958 ele se tornou o primeiro artista na história a integrar uma televisão a uma obra de arte.
Desenhado com uma caneta hidrográfica, a obra "Carro", de Heller, demonstra uma das primeiras influências do grupo GEFLECHT: os automóveis. O coletivo de artistas, do qual Heller também fazia parte, era voltado para a tecnologia.