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Relação entre câncer de intestino e consumo de carne e leite

1 de março de 2019

Pesquisadores tentam descobrir se existe mesmo um agente patógeno presente em laticínios e carnes que pode provocar câncer décadas depois do consumo desses produtos.

Carne de gado exposta para a venda num supermercado da ChinaFoto: picture-alliance/dpa/Li Zhihao

Há mais de dez anos, o Prêmio Nobel de Medicina de 2008 Harald zur Hausen suspeita que, pelo consumo de produtos lácteos ou de carne vermelha, pessoas podem ser infectadas com patógenos que, apenas décadas mais tarde, podem provocar câncer de intestino ou de mama, assim como esclerose múltipla. Agora especialistas da equipe de Hausen no Centro Alemão de Pesquisa do Câncer (DKFZ), sediado em Heidelberg, apresentaram novos agentes infecciosos como fatores de risco de câncer.

Os pesquisadores conseguiram identificar, no tecido intestinal, quais áreas do tecido os patógenos infectam. A prova de que há uma ligação direta entre uma infecção e uma doença pode fornecer opções preventivas, como vacinas ou estilos de estilo de vida e dietas.

Os investigadores fizeram análises comparativas mundiais para saber onde pode haver uma relação entre a taxa de incidência de câncer de intestino e de mama e o consumo de produtos lácteos e produtos de carne. Eles perceberam que em regiões do mundo onde há um alto consumo de leite e produtos de carne bovina também há uma elevada incidência de câncer de intestino, como na América do Norte, na Argentina, na Europa e na Austrália. Nessas regiões são consumidos sobretudo produtos de bovinos europeus (Bos taurus).

O pesquisador alemão Harald zur Hausen, Nobel de Medicina em 2008Foto: DW/A. Freund

A situação na Índia parece apoiar essa tese: no país, a incidência de câncer de intestino e de mama é baixa, talvez porque as vacas são consideradas animais sagrados pelos hindus e não são consumidas. Nos estados indianos onde as vacas leiteiras foram introduzidas para garantir a alimentação de crianças, as taxas de incidência de câncer de mama são maiores.

Já Bolívia e Mongólia chamam a atenção por apresentarem baixas taxas de câncer de intestino e de mama, embora as pessoas comam muita carne bovina – só que de outro tipo. Na Bolívia, a criação de zebu (Bos indicus) é preferida. A situação é semelhante na Mongólia, onde o gado também procede principalmente de cruzamentos com zebus importados.

No Japão, a taxa de câncer de intestino, que era extremamente baixa, começou a aumentar cerca de 20 anos após a Segunda Guerra Mundial, e na Coreia do Sul, apenas 20 anos após a Guerra da Coreia. Em ambos os países, o aumento ocorreu paralelamente ao crescimento da importação e da produção de carne.

A hipótese dos cientistas de Heidelberg era de que um vírus fosse o agente infeccioso e, por isso, eles usaram na sua pesquisa técnicas normalmente utilizadas para isolar vírus. No entanto, o que encontraram foram elementos de DNA circulares e de cadeia simples que têm grande semelhança com sequências de determinados plasmídeos bacterianos. Eles foram chamados de Bovine Meat and Milk Factors (BMMFs).

As infecções são encontradas na lâmina própria do intestino grosso, a camada de tecido conjuntivo localizada sob a mucosa intestinal, sobretudo nas proximidades das chamadas criptas intestinais. Estas são depressões tubulares da mucosa intestinal que servem à secreção de enzimas e em cuja extremidade inferior estão localizadas as células-tronco intestinais.

O sistema imunológico humano só está maduro após cerca de um ano de vida. Por isso, os pesquisadores de Heidelberg suspeitam que os bebês são infectados precocemente através da alimentação com produtos lácteos bovinos. Os patógenos induzem uma reação inflamatória crônica em determinados tecidos, como no intestino ou na mama, que pode promover a formação de câncer no tecido circundante. Porém, a doença só se manifesta décadas após a infecção.

Colonoscopia: maior quantia de BMMFs pode indicar necessidade de mais exames preventivosFoto: picture alliance/dpa

A amamentação prolongada (além de 6 meses) pode proteger os bebês da infecção por uma série de patógenos (norovírus, rotavírus, HIV). Isso ocorre porque determinados compostos de açúcar no leite materno impedem os patógenos de se atracarem aos receptores na superfície das células, através dos quais eles normalmente chegam ao interior da célula. Estes compostos não estão presentes no leite de outras espécies e já são adicionados em alguns tipos de leite em pó destinados à alimentação de bebês. É possível que eles também previnam a infecção por BMMFs.

Devido ao fato de o tecido mamário da mãe ficar em contato com os compostos de açúcar protetores, a amamentação prolongada também pode proteger as próprias mães da infecção com os BMMFs. Numerosos estudos nos EUA mostraram que o risco de câncer de mama diminui a cada mês adicional de amamentação.

A infecção com BMMFs não leva necessariamente ao câncer de intestino no futuro. Os cientistas do DKFZ estão realizando pesquisas para saber se há uma relação entre a quantidade de BMMF detectável em pacientes com câncer de intestino e a sobrevivência desses pacientes. Caso positivo, indivíduos com um alto nível de BMMF devem definitivamente fazer exames preventivos de câncer de intestino.

Os cientistas também concluíram que bebês não devem ser alimentados com produtos de leite bovino.

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