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MigraçãoEuropa

A rota de fuga para a Europa via Belarus

Robert Mudge
9 de novembro de 2021

Como funciona o tráfico humano de migrantes do Iraque para a União Europeia, através de Belarus. Conheça essa rota cheia de riscos e perigos.

Homens, mulheres e crianças junto a uma cerca de arame farpado
Migrantes na fronteira entre Polônia e BelarusFoto: Leonid Scheglov/BelTA/REUTERS

A Polônia, um país-membro da União Europeia (UE), e Belarus estão trocando acusações devido ao grande número de migrantes que tentam entrar ilegalmente no bloco comunitário pela fronteira entre os dois países, onde já há milhares de pessoas reunidas no lado belarusso.

Em outubro, houve 11.300 tentativas de entrada ilegal na Polônia por Belarus. Uma vez na Polônia, muitos migrantes seguem para a fronteira com a Alemanha. De acordo com a Polícia Federal alemã, 4.889 migrantes foram registrados após entrada não autorizada via Belarus e Polônia no mês passado. Isso foi mais do que o dobro de setembro.

Ainda de acordo com a PF alemã, este ano já foram registradas 7.300 entradas não autorizadas na Alemanha através de Belarus. Em resposta às sanções da UE por conta das eleições não reconhecidas de 2020, o líder belarusso, Alexander Lukashenko, declarou na primavera europeia que não iria mais impedir que os migrantes se dirigissem para a União Europeia (os dados são do final de outubro).

Quem vem e de onde?

A maioria dos migrantes vêm do Iraque, mas cidadãos de Síria, Congo e Camarões também estão entre os que chegam a Minsk, capital belarussa. Os pontos de partida mais importantes seriam atualmente três cidades na região curda do Iraque: Erbil, Shiladze e Sulaimaniyya.

Conforme relatado por agências de viagens locais, a maioria das pessoas viaja via Dubai, Turquia, Líbano e Ucrânia para chegar à UE.

Um porta-voz do Ministério do Exterior da Alemanha disse na semana passada que o número de voos diretos de Beirute, Damasco e de Amã para Minsk também aumentou visivelmente.

Visto terceirizado e custos

Estima-se que as viagens custem entre 12 mil e 15 mil euros (o equivalente a cerca de 77.500 a 96.900 reais), incluindo vistos, voos e serviços de tráfico humano por terra para a Europa.

Uma agência de viagens de Bagdá, que pretende ficar anônima, informou à DW que a embaixada belarussa na cidade de Erbil "terceirizou pedidos de visto para várias agências de viagens".

A agência em questão diz que também recebeu pedidos de visto para Belarus, mas eles não estariam mais sendo processados: "Eu não faço mais isso porque não quero colocar em risco meus negócios. Antes costumava levar entre cinco dias e duas semanas para emitir um visto".

Além disso, outras fontes confirmaram à DW que os pedidos de visto não estavam mais sendo feitos para a embaixada de Belarus no Iraque, mas para missões diplomáticas de Minsk em outros países. Por exemplo, uma empresa russa chamada Made in Russia24 explica em um vídeo do Youtube que iraquianos e sírios não podem mais entrar em Belarus como turistas se sua carta-convite tiver o carimbo do aeroporto de partida.

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A empresa, que diz prestar serviços oficiais de turismo, como a emissão de vistos turísticos, aponta que os turistas agora precisam do chamado adesivo de visto, que está disponível nas embaixadas belarussas. E que iraquianos só conseguem visto através da embaixada belarussa em Ancara.

A Belsat.eu, uma emissora de televisão independente em Belarus, citou uma notícia do portal online belarusso KYKY.org, segundo a qual 12 agências de viagem de Belarus teriam recebido autorização "secreta" para organizar vistos para estrangeiros.

VIP Grub, um serviço de emissão de passaportes e vistos em Istambul, também alega trazer pessoas para a Europa por "meios convencionais" e faz propaganda de seus serviços alegando que a Europa precisa de trabalhadores estrangeiros.

Nos anúncios da empresa consta: "Somente as companhias aéreas europeias precisam de 1,2 milhão de refugiados. Aproveite a oportunidade. Pague-nos na chegada".

Quais as companhias aéreas envolvidas?

Empresas registradas na UE estão atualmente arrendando aeronaves para a companhia aérea nacional belarussa Belavia. Os ministros das Relações Exteriores da UE querem tomar medidas contra esta prática e estão considerando sanções.

"Belavia Airlines oferece voos diretos de Minsk para Istambul, Dubai e outros lugares. Portanto, você só tem que se dirigir até lá. É um pouco mais caro, mas ainda assim viável", disse à DW o operador turístico baseado em Bagdá.

O centro de locação de aeronaves na UE é a Irlanda. As empresas irlandesas administram mais da metade das aeronaves alugadas do mundo. Algumas empresas continuam alugando aviões para a Belavia, que transporta migrantes para a fronteira da União Europeia.

As empresas argumentam que são obrigadas por contrato a fazer isso. O ministro do Exterior  irlandês, Simon Coveney, disse que apoia as sanções, mas só se elas forem aplicadas a futuros arrendamentos, não aos atuais.

Outras companhias aéreas, como a Qatar Airways e a Turkish Airlines, têm procedimentos de triagem muito mais rigorosos e exigem documentação válida. Entretanto, como a agência de viagens de Bagdá aponta, pode ser difícil determinar a verdadeira natureza da viagem de um passageiro.

"Muitos iraquianos viajam diariamente para a Turquia e para Dubai. É impossível distinguir quem quer ir a Belarus dos que não querem".

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