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A rota dos Bálcãs no contrabando de armas

Lindita Arapi (cn)8 de dezembro de 2015

Região tem mais armas ilegais do que legais em circulação, uma consequência dos conflitos na antiga Iugoslávia e da falta de controle. Muitas acabam no oeste europeu, como as usadas em atentados na França.

Foto: Fotolia/Haramis Kalfar

Investigações apontam que os atiradores do 13 de Novembro teriam usado dois fuzis zastava M70 produzidos na antiga Iugoslávia. E o rastros das armas que promoveram o banho de sangue no ataque ao semanário satírico Charlie Hebdo também leva aos Bálcãs.

Há alguns dias, um grande número de armas ilegais foi encontrado em um vilarejo no Kosovo, após a desarticulação de uma célula terrorista no país e na Itália. Depois do fim dos conflitos na antiga Iugoslávia, na década de 1990, e do assalto a um depósito de armamentos na Albânia, em 1997, diversas armas oriundas da região entraram no mercado negro europeu.

Os valores variam bastante conforme o local da compra. Enquanto um fuzil kalashnikov pode custar entre 300 e 500 euros nos Bálcãs, os preços chegam a 2 mil euros em alguns países. De acordo com um estudo do Instituto Flamengo da Paz, localizado em Bruxelas, a maioria das armas ilegais foi contrabandeada para a União Europeia através dos países balcânicos.

"Estamos falando de Sérvia, Croácia, Bósnia, Albânia. Muitos desses países têm um problema com armas ilegais", afirma o coautor do estudo Nils Duquet. "Armas foram parar nas mãos de pessoas depois da guerra dos Bálcãs. Segundo nossa pesquisa, podemos dizer que em todos os países ocidentais dos Bálcãs há mais armas ilegais do que legais."

Isso representa um problema de segurança para toda a Europa. Para Ivan Zverzhanovski, especialista da organização Seesac, uma agência da ONU para o controle de armas, o que preocupa são as possíveis ligações com grupos terroristas.

"Não sabemos como os terroristas de Paris conseguiram as armas. Mas há um grande número de armas ilegais circulando nos Bálcãs, e sabemos da existência de ligações entre atravessadores, crime organizado e terroristas", afirma Zverzhanovski.

Refugiados têm mais dificuldade para atravessar rota dos Bálcãs do que contrabandistas de armasFoto: Getty Images/AFP/R. Atanasovski

Nas mãos do terror

Para Burim Ramadani, do Instituto para Estudos Europeus, baseado em Pristina, o risco potencial é muito alto. "Os países ocidentais dos Bálcãs são Estados frágeis, o que facilita para grupos terroristas garantir diversas quantidades de armas", argumenta.

O ex-diretor do serviço de inteligência albanês Fatos Klosi aponta outro aspecto: "Os terroristas pagam muito bem, assim eles sempre conseguem encontrar armas no mercado negro. Sabemos que há um mercado negro para criminosos e terroristas nos Bálcãs."

A quantidade de armas ilegais em circulação na região é motivo de preocupação. Segundo o Ministério do Interior da Sérvia, somente no país, há entre 200 mil e 900 mil armas de pequeno porte.

Um relatório da ONU do ano passado enfatizou o grande número de armas ilegais no Kosovo. O país de cerca de 2 milhões de habitantes possui cerca de 450 mil de pequeno porte. Na Bósnia, há cerca de 750 mil armas ilegais em circulação.

O mesmo ocorre em outros países da região. Após as guerras civis na Iugoslávia, na década de 1990, muitas pessoas simplesmente mantiveram as armas que possuíam na época.

"Encontramos pessoas que estão começando a vender essas armas agora para pessoas que podem contrabandeá-las em pequenas quantidades para a Europa. Uma vez lá, elas circulam de um grupo criminoso para o outro", explica Duquet.

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