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A saga de viver de aluguel na Alemanha

Karina Gomes
10 de agosto de 2018

Encontrar um apartamento pode ser uma tarefa difícil em solo alemão. Às vezes é preciso se render a um box de chuveiro na cozinha ou a um banheiro comunitário. Antes de escolher um cantinho, vale conhecer bem o contrato.

Box de chuveiro na cozinha
Muitos apartamentos antigos na Alemanha têm box de chuveiro na cozinhaFoto: DW/S. Braun

Tive que me acostumar ao som do chuveiro durante o café do manhã. E também a lavar a louça no lavabo. A cozinha de um dos primeiros apartamentos onde vivi na Alemanha tinha uma peculiaridade: um box de chuveiro. O banheiro, bem pequeno, ficava em outro cômodo. Em algumas casas antigas ainda é comum encontrar bizarrices como essas. Aceitei alugar o apartamento, porque era barato e ficava perto do trabalho.

Quando tentei me mudar dali, levei um tapa na cara. Iria para um 1-Zimmer Wohnung, um apartamento pequeno, com uma sala/quarto e uma cozinha, que pode ser separada ou não. A dona do apartamento não sabia qual era o valor para utilizar a máquina de lavar roupas no porão. Em alguns prédios, o uso da máquina é comunitário, e é preciso depositar uma moeda num dispositivo que aciona a lavagem.

A Vermieterin – proprietária do imóvel – me passou o número da Hausmeisterin, a zeladora. De dia, ela não estava em casa, e a filha disse que eu poderia retornar a ligação às 11h da noite. Assim o fiz, achando que não haveria problema, e fui xingada com palavras que, na época, meu pobre alemão não conseguia entender.

No dia seguinte, já com o contrato assinado e pronta para pegar as chaves, levei outra bronca da mulher, que aconselhou a dona do apartamento a não alugá-lo para mim. No final, fiquei até contente, porque certamente novos problemas iriam surgir.

Foi uma saga até achar outro apartamento. Em cinco anos de Alemanha, devo ter me mudado umas dez vezes. Para encontrar um local, muitos optam por sites na internet, grupos no Facebook ou imobiliárias. Se quiser um apartamento bem localizado e em boas condições, é preciso ser rápido ao responder ao anúncio, já se apresentando e pedindo para marcar um Besichtgungstermin, um horário para visita.

Alguns proprietários promovem castings e exigem a apresentação de um dossiê com os últimos três contracheques, comprovante de transferência ao locador anterior, contrato de trabalho e uma verificação de crédito da Schufa, entidade que certifica bons pagadores. Para obter o documento, é preciso pagar cerca de 30 euros.

Aluguéis temporários (Zwischenmiete) são mais simples e feitos em negociação com o locatário. A pessoa que vive no apartamento pode sublocar o local por dois ou três meses por motivo de viagem, estudo ou trabalho e depois voltar.

Numa república (WG), é difícil achar um quarto por menos de 200 euros. Moradias estudantis (Studentenwohnheime) têm preços mais baixos. Algumas são financiadas pelas igrejas Católica e Protestante, mas exigem algumas regras de conduta. A opção mais barata é morar num quarto sem cozinha (sim, existe) e dividir o banheiro com os outros moradores do andar ou do prédio.

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O Kaltmiete (aluguel frio, literalmente) é o valor do aluguel sem as Nebenkosten, custos adicionais com água, gás, aquecimento e taxa de limpeza do prédio determinada pela Hausverwaltung, a administração do prédio, e pode ou não incluir o valor do Rundfunkbeitrag, a taxa obrigatória de televisão e rádio. A eletricidade pode ser paga à parte.

Em caso de irregularidades e abuso de cobrança, a associação Mieterschutzbund pode ajudar. Sempre é necessário pagar uma caução, que é devolvida depois da entrega do apartamento, caso tudo esteja em ordem.

Para qualquer tipo de locação, é preciso estabelecer um contrato entre as partes. Os contratos não precisam ser registrados, basta a assinatura das duas partes. O senhorio de uma amiga chegou a fazer um contrato à mão especificando cada detalhe do apartamento, até mesmo o diâmetro de uma manchinha azul que estava no carpete. 

Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.

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