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A sociedade dos insatisfeitos

sb / lk12 de novembro de 2002

Estudo de longo prazo iniciado por pesquisadores de Bielefeld traz à tona aspectos assustadores sobre o estado de espírito dos alemães e revela que existe um solo para o populismo de direita no país.

Mais da metade dos alemães acham que há estrangeiros demais no paísFoto: AP

Um grupo de pesquisadores do Instituto de Pesquisa de Conflitos e Violência da Universidade de Bielefeld deu início, há alguns meses, a um projeto de longo prazo para auscultar o estado de espírito dos alemães. Três mil alemães foram entrevistados sobre o que pensam e como se sentem, revelando que a população do país está estressada, é insegura, busca um arrimo social e olha com desprezo para os outros.

"Quem não é reconhecido por esta sociedade, é um nada", resume o professor Wilhelm Heitmeyer, coordenador do estudo. "As experiências de desvalorização levam a uma mentalidade hostil. Os culpados são sempre os outros", completa Wolfgang Thierse, presidente do Parlamento alemão, que se revelou preocupado com os resultados da pesquisa.

O outro em xeque

Quase um terço dos alemães (28%) acham que os estrangeiros deveriam ser mandados de volta para seus países de origem quando há escassez de emprego. Mais da metade (55%) são de opinião de que existem estrangeiros demais na Alemanha. A surpresa é que mais mulheres (58%) dizem isso do que homens (52%).

Os estrangeiros que vivem aqui deveriam casar só entre si, diz 22% da população. Um quinto dos alemães não se sentem bem quando têm vizinhos estrangeiros. Para 14%, existem grupos nesta sociedade que valem menos do que outros, e 16% são de opinião de que os brancos têm razão em dominar o mundo.

Não é preciso que alguém seja de outra cor ou de outro lugar para merecer o desprezo: 35% dos entrevistados acham que os sem-teto deveriam ser afastados dos calçadões da cidade; 33% ficam "enojados" quando vêem homossexuais se beijando.

Mas existem dois grupos com os quais os alemães têm dificuldades especiais: os muçulmanos e os judeus. Quase três quartos (71%) dos entrevistados dizem que os muçulmanos não deveriam viver na Alemanha sob seus preceitos religiosos, 53% acham que as mesquitas que vêm sendo construídas no país são um sinal de que o islã está se expandindo. A rejeição ao islamismo independe do grau de instrução dos entrevistados, afirmam os pesquisadores, e revela-se em todas as classes da população.

Quanto aos judeus, 22% são de opinião de que eles têm influência grande demais no país; 17% afirmam que os próprios judeus são culpados por sua perseguição; mais da metade (52%) estão convencidos de que os judeus tentam tirar proveito próprio do Holocausto.

Insegurança social

Ao analisar os resultados do estudo, os pesquisadores concluíram que muitas dessas atitudes hostis dos entrevistados estão enraizadas num sentimento de insegurança social e instabilidade emocional. Dois terços consideram a situação econômica da Alemanha ruim, 28% têm medo de perder o emprego. Quase 35% dizem ter apenas um "pequeno" círculo de amizades, e 73% acham que é cada vez mais difícil encontrar amigos de verdade. Ao mesmo tempo, quase a metade (43%) gostaria de ter à sua volta pessoas com quem pudessem contar sempre.

Síndrome do populismo de direita

A hostilidade perante o outro começa sorrateiramente, afirma Heitmeyer. Certas pessoas começam a ser consideradas inferiores em função do grupo a que pertencem e acabam se vendo ameaçadas física ou psicologicamente por isso. O perigo aumenta quando a desvalorização dos mais fracos deixa de ser uma coisa privada e passa a ser instrumentalizada politicamente. É esta a estratégia do populismo de direita, já bem-sucedido em outros países europeus.

"Mesmo que não tenhamos na Alemanha um populismo de direita organizado, existe aqui um potencial considerável, cerca de 20%, que reage positivamente aos temas centrais relacionados com essa síndrome. E isso é motivo de preocupação também por causa da auto-avaliação política dessas pessoas: elas se situam claramente no centro", analisa Heitmeyer.

Para o professor da Universidade de Bielefeld, diante do cenário de um capitalismo selvagem, torna-se mais urgente do que nunca solucionar a questão de como se chegar a uma nova cultura de reconhecimento para todos os que vivem nesta sociedade.

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