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A soma de erros nas altas esferas do Bayern de Munique

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
19 de abril de 2022

Soluções para os atuais problemas do clube não se encontram no gramado e sim nas salas da diretoria. Time e comissão técnica são apenas uma imagem espelhada dos andares de cima.

Jogadores do Bayern não esconderam decepção após derrota para o VillarrealFoto: Jose Jordan/AFP/Getty Images

A eliminação do Bayern de Munique nas quartas de final da Champions League representou um dos piores fracassos para a fulgurante carreira de Julian Nagelsmann. Foi o que ele mesmo confessou recentemente ao colocar no mesmo nível a derrota frente ao Villarreal com a eliminação do Hoffenheim diante do Liverpool em 2017 e o adeus do Leipzig às suas pretensões frente ao PSG também nas quartas de final em 2020.

Entretanto, mesmo com a decepcionante derrocada dos bávaros, é um equívoco atribuir ao jovem técnico toda responsabilidade por mais um fim precoce do clube no torneio. Vale lembrar que o mesmo aconteceu sob o comando de Hansi Flick na temporada passada.

Nagelsmann é apenas uma peça nesta intrincada engrenagem empresarial na qual o Bayern se transformou nos últimos anos. É nos andares de cima da alta administração do clube onde são traçados os planos estratégicos esportivos e financeiros no curto e longo prazo.

O time e sua comissão técnica são apenas uma imagem espelhada do que acontece nas altas esferas do Bayern de Munique. As soluções para os atuais problemas do clube não se encontram no gramado e sim nas salas da diretoria. Toda e qualquer análise crítica da atual situação esportiva não pode se restringir apenas à equipe.

Aparentemente, um dos maiores problemas se concentra na diretoria de esportes, dirigida por Hasan Salihamidzic. Desde 2020, o time como um todo perdeu muito do ponto de vista qualitativo. Na época da conquista da tríplice coroa, o então técnico Hansi Flick podia contar com ao menos 18 jogadores de altíssimo nível o que resultou numa equipe muito homogênea.

Escolhas erradas

Sob a direção de Salihamidzic, jogadores-chave como Thiago, Alaba, Boateng além dos coringas como Perisic, Coutinho e Martinez foram embora. Exceto Davies, todos os outros contratados pelo diretor de esportes não preencheram à altura as lacunas deixadas pelos que se foram. Nem o zagueiro Upamecano e muito menos o meio-campista Sabitzer corresponderam às expectativas e estão longe de suas soberbas atuações no RB Leipzig na temporada passada.

Tudo isto sem contar que jogadores como Sarr, Nianzou, Roca e Richards, todos contratados por Salihamidzic, não desempenham nenhum papel importante e nem ajudam o time quando exigidos. São cartas fora do baralho e evidenciam o fracasso da política de contratações do clube. Se antes havia um elenco bastante homogêneo, agora o que se vê é uma equipe de duas classes – a primeira formada por no máximo 14 jogadores de alto nível e a segunda por atletas de baixa qualidade técnica.   

Oliver Kahn, diretor executivo do Bayern, tem como objetivo posicionar o clube permanentemente como um dos melhores quatro times da Europa. Acontece que, com o atual elenco, isto é praticamente impossível. Para alcançar esse ambicioso objetivo torna-se necessário não apenas uma política de contratações compatível com essa meta, mas também a manutenção de jogadores que são os pilares do elenco como Neuer, Müller e Lewandowski.

As intermináveis querelas sobre a renovação ou não dos contratos de alguns jogadores importantes também são fontes perenes de intranquilidade no time. Como chefe executivo, Kahn já deveria ter tomado a iniciativa de procurar os jogadores para, juntamente com Salihamidzic, dar início às negociações. De resto, o clube se ressente dos muito poucos impulsos que, pelo menos até agora, vieram da parte do novo diretor executivo. Pouco ou nada se ouve dele. Internamente se comenta que Kahn está trabalhando num plano estratégico de longo prazo, razão pela qual se encontra em clausura.

De todo modo, seja pela fraca liderança de Oliver Kahn, seja pela falta de competência de Hasan Salihamidzic, o que acontece ou deixa de acontecer nos andares de cima acaba refletindo nos andares de baixo e chega até os vestiários com inevitáveis repercussões no rendimento do time.

Há jogador que se sente abandonado pelo chefe porque parece não haver interesse em discutir o seu futuro no clube. Consequentemente, o atleta fica irritado e leva sua irritação para o vestiário. Por sua vez, o técnico percebe a irritação do seu jogador e pergunta o que o preocupa. Os outros colegas notam que algo não está bem, mas como está na hora de entrar em campo deixam o assunto pra lá. E assim, a insatisfação de alguns vai se acumulando e acaba por contaminar todo o ambiente no elenco.

Basta analisar criticamente as últimas partidas do Bayern e a conclusão é óbvia: algo não vai bem no reino da Baviera. Há uma somatória de erros que precisam ser corrigidos e a maior responsabilidade por essa correção de rota cabe à diretoria.

Só então será possível avaliar adequadamente o trabalho de Julian Nagelsmann. Atribuir o fracasso do time na Copa da Alemanha e na Champions League ao jovem técnico é tentar esconder o sol com a peneira. Os atuais problemas do Bayern se encontram nas esferas superiores e o eventual mau rendimento do time é apenas um reflexo dessa constelação.   

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.           

 

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.