Ex-vereador no Rio e deputado federal por quase 30 anos é eleito presidente da República. Confira no que ele se destacou em sua carreira política e em quais polêmicas se envolveu.
Anúncio
Eleito presidente da República, o capitão Jair Messias Bolsonaro (PSL), de 63 anos, entrou para a reserva do Exército em 1989 para ingressar na política como vereador na cidade do Rio de Janeiro. Dois anos depois, ele se elegeu para a Câmara dos Deputados, onde ficou até se candidatar à Presidência da República, este ano.
São, portanto, quase 30 anos de vida política, período em que Bolsonaro construiu, no Congresso, uma imagem de defensor da caserna. Fora dali, ele ficou famoso sobretudo pelas polêmicas em que se envolveu, relacionadas aos direitos humanos, mas também aos governos petistas.
O discurso de que vai acabar com privilégios na política não combina exatamente com o seu histórico parlamentar. Em 2010, o capitão votou pelo aumento salarial de 61% dos deputados, por exemplo.
Ele também não ficou famoso por algum projeto de lei que tenha apresentado e lutado pela aprovação. Dos 172 que apresentou em 26 anos de vida parlamentar, nenhum teve destaque e apenas dois foram aprovados. Entre os projetos apresentados está um para incluir o ex-deputado Enéas Carneiro na relação dos heróis da pátria.
Bolsonaro começou a ganhar notoriedade na década de 1980, ainda como capitão do Exército, quando escreveu um artigo para a revista Veja no qual reclamava do soldo dos militares. O texto lhe rendeu uma punição por indisciplina.
Eleito vereador e depois deputado federal, manteve o discurso de defensor dos militares, com vários pronunciamentos pedindo aumento salarial e mais investimentos nas Forças Armadas. O maior número dos projetos que apresentou na Câmara, 53, atendem a interesses dos militares. Outra área com grande número de projetos apresentados é a segurança pública, com 44. Mas nenhum foi aprovado.
O homem que hoje se apresenta como "o novo" na política nacional teve, na verdade, um comportamento já "velho" e bem comum na trajetória de vários políticos brasileiros: ele passou por inúmeros partidos (PPB, PDC, PPR, PFL, PTB, PP e PSC) até desembarcar no PSL, no começo de 2018.
Outro elemento da política "velha" em Bolsonaro é o apoio sem fundamentação ideológica a outros políticos. Bolsonaro, que hoje ataca o PT com toda a força, já discursou a favor de Lula, por exemplo. Em 2002, ele subiu à tribuna da Câmara para manifestar apoio aos então candidatos à Presidência Ciro Gomes e Luiz Inácio Lula da Silva e se posicionar contra José Serra, que era apoiado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
"O governo Fernando Henrique Cardoso, ao longo de oito anos, não fez outra coisa senão entregar a soberania nacional. Por isso, estamos empenhados, de corpo e alma, na eleição do ex-governador Ciro Gomes para a Presidência da República. Se ele não chegar ao segundo turno, apoiaremos Lula, porque temos certeza de que o candidato do governo, José Serra, dará continuidade àquela política", falou o ex-militar em 28 de agosto de 2002.
O que se manteve constante no militar foi o discurso contra as políticas de gênero, o deboche dos direitos das mulheres e a defesa da ditadura militar, e em alguns momentos até mesmo a defesa pública da tortura. Nessa lista estão seu ataque à deputada Maria do Rosário, a quem ele disse que "jamais estupraria porque você não merece"; declarações sobre homossexuais ("se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater"); e sua homenagem a Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido pela Justiça como torturador durante a ditadura militar.
Já o discurso antipetista ganhou força mesmo nos últimos anos do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Bolsonaro votou a favor do impeachment e depois aproveitou o impacto das revelações da Operação Lava Jato para viajar pelo país e se apresentar como um político que combate a corrupção e defende o conservadorismo brasileiro.
Ele também reforçou as bandeiras religiosas e de defesa da família e do porte de armas pela população. Bolsonaro também se declarou a favor da licença para matar a policiais. "Vou trabalhar para aprovar o excludente de ilicitude, para que os policiais possam atirar em quem atira neles", declarou.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.