A transição para energia limpa em cinco gráficos
9 de novembro de 2022Em 2015 quase 200 governos se comprometeram a restringir, até o fim do século, o aquecimento global a 1,5 ºC em relação à era pré-industrial. Sete anos mais tarde, porém, na conferência mundial do clima COP27 no Egito, eles perseguem políticas que atingirão quase o dobro dessa marca.
Para cumprir suas promessas, os líderes mundiais precisam cortar drasticamente o volume emitido na atmosfera a cada ano de gases causadores do efeito estufa. E até o fim da década, essas emissões têm que cair 45%, atingindo o zero líquido em 2050. Um elemento-chave dessa mudança titânica seria produzir eletricidade de modo limpo, em vez de utilizando combustíveis fósseis, como carvão natural, petróleo e gás natural.
Este é o ponto até onde o mundo avançou na produção limpa de energia.
A maior parte da eletricidade provém de carvão – a fonte energética mais suja – e gás fóssil – mais limpa, porém ainda poluente. Queimar esses combustíveis libera gases que agem como uma estufa em torno na Terra, aquecendo-a e agravando os fenômenos meteorológicos extremos.
Menos de 40% da eletricidade se origina de fontes de baixa emissão carbônica, como solar, eólica, nuclear e hidráulica. A parcela de energia renovável na matriz energética global cresceu rapidamente na última década, enquanto a nuclear retrocedeu, e a dos combustíveis fósseis se manteve constante.
A demanda total de eletricidade quase dobrou nas últimas duas décadas. Em países cujos padrões de vida melhoraram rapidamente, como a China e a Índia, mais carvão foi consumido, à medida que os governos pela primeira vez conectaram à rede elétrica numerosas cidades rurais e megacidades em expansão.
Nos países ricos onde a eletricidade ficou mais limpa, como os Estados Unidos e partes da Europa, o gás substituiu o carvão como principal fonte de energia. Atualmente as fontes renováveis, como radiação solar, vento e água, são responsáveis por cerca de um quarto da energia global.
A expansão da energia renovável tende a se acelerar: os fabricantes produzem mais painéis fotovoltaicos e turbinas eólicas, as tecnologias avançaram e a indústria ficou mais eficiente, tornando os componentes mais baratos e mais fáceis de construir.
Os custos da produção de eletricidade a partir da radiação solar ou do vento caíram ao ponto de torná-los competitivos com os combustíveis fósseis. Na maior parte do mundo, agora é mais barato construir uma fazenda solar do que manter funcionando uma usina a carvão já existente – sem nem falar de construir uma nova.
Os cálculos não incluem os gastos para armazenar eletricidade em dias nublados e com pouco vento, mas tampouco o que custam os danos à saúde causados pela poluição dos combustíveis fósseis.
O gastos com a energia limpa em 2022 deverão chegar a 1,4 trilhão de dólares, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). No entanto, quase todo o crescimento ocorre nos países ricos e na China, onde são mais baixos os custos para financiar a nova infraestrutura.
Países de renda mediana gastam mais do que o dobro, tendo que saldar dívidas e lutar para obter empréstimos para seus projetos. Na África Subsaariana, onde mais de 600 milhões não têm acesso à eletricidade, o financiamento é um obstáculo especialmente sério.
Em 2015 as nações ricas prometeram 100 bilhões de dólares por ano até 2020 para que as mais pobres pudessem reduzir suas emissões carbônicas e se adaptar a um mundo mais quente. Elas quebraram a promessa: segundo as estimativas mais recentes, em 2020 os países doadores reuniram 83 bilhões de dólares em verbas públicas e privadas.
A participação da energia de baixa emissão carbônica está aumentando. No entanto teria que crescer seis vezes mais rápido do que as taxas históricas, para que se cumpra a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC, de acordo com os grupos de pesquisa ambiental Climate Action Tracker e World Resources Institute.
As projeções indicam que o uso dos combustíveis fósseis atingirá um pico na presente década, anunciou a AIE no fim de outubro. Para cortar as emissões com a rapidez necessária a cumprir a meta de 1,5 ºC, até lá as matrizes energéticas precisariam ser duas vezes mais limpas. Os países ricos atingiriam o zero líquido até 2035 – compensando as emissões restantes ao retirar dióxido de carbono da atmosfera –, e o resto do mundo, até 2040.