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A Venezuela pode gerar uma crise migratória?

José Ospina-Valencia fc
15 de novembro de 2017

Vizinhos temem uma onda de refugiados por causa da grave crise venezuelana, e a situação poderá piorar caso a falência estatal seja decretada. "É meu pior pesadelo", admite presidente colombiano.

Refugiados venezuelanos nas proximidades da cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela.
Refugiados venezuelanos nas proximidades da cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira com a VenezuelaFoto: Getty Images/AFP/L. Acosta

"A Venezuela é meu pior pesadelo", reconheceu o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em 9 de novembro em Londres, onde recebeu um prêmio do Instituto Real Britânico de Relações Internacionais por seus esforços para alcançar o processo de paz em seu país.

Leia mais: A Venezuela a caminho da falência 

De fato, uma implosão social da Venezuela seria uma grande ameaça para a Colômbia, tanto para o processo de paz quanto para as eleições presidenciais de 2018, confirma o ex-diplomata colombiano e analista político Roberto Cajamarca à DW.

E a situação poderá piorar com uma possível falência estatal da Venezuela. "Os venezuelanos estão morrendo não só de fome, mas também por falta de produtos médicos e medicamentos", diz a juíza venezuelana Elenis Rodríguez, que está tentando criar um programa de ajuda humanitária em seu exílio na Colômbia.

Só na Colômbia, meio milhão de venezuelanos

O departamento de imigração colombiano estima que 500 mil venezuelanos se encontrem na Colômbia, sendo que, deles, 60 mil estão ilegais.

"Como governo, nós não podemos ignorar a realidade do povo venezuelano, muito menos fechar nossas portas para o país vizinho", explica Christian Krüger, diretor-geral do departamento. "Por esta razão, implementamos uma autorização de residência especial para os venezuelanos que regula seu status de refugiado e lhes dá uma autorização de trabalho na Colômbia."

Mas a situação dos refugiados venezuelanos na Colômbia parece ser muito mais problemática do que os funcionários do governo retratam. Muitos imigrantes estão dispostos a trabalhar recebendo menos que um salário mínimo, às escondidas e sem seguro-saúde. Alguns não conseguem pagar o aluguel de um apartamento: moram em estações de ônibus em Bogotá, Cali ou Barranquilha.

Segundo dados divulgados em julho deste ano pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), a crise na Venezuela fez com que 52 mil cidadãos pedissem refúgio em outros países.

O Brasil concentra o segundo maior número de solicitações de refúgio de venezuelanos: são 12.960 pedidos em tramitação, atrás somente dos EUA, com 18,3 mil pedidos. Estima-se, porém, que 30 mil venezuelanos estejam em situação irregular no Brasil, 300 mil na Colômbia e 40 mil em Trinidad e Tobago.

Fronteira de mais de 2 mil quilômetros

A fronteira entre Colômbia e Venezuela tem 2.200 quilômetros de extensão. Caso a crise venezuelana piore e diante da ameaça de uma onda muito maior de refugiados venezuelanos, a Colômbia considera a criação de sete campos de refugiados perto da fronteira.

Mas essa ideia representa um dilema para Bogotá. "Se anunciarmos que vamos construir esses acampamentos, eles poderão entender isso como um convite e, eventualmente, a situação poderá se agravar ainda mais", confessou um funcionário do Ministério do Exterior à DW. 

Apesar de não existir atualmente um partido político na Colômbia que peça o fechamento da fronteira para refugiados venezuelanos, o "pesadelo" do presidente Santos não é infundado.

"Quanto mais grave se torna a crise humanitária na Venezuela, maior a probabilidade de que a extrema direita e adversários do processo de paz ganhem terreno", opina Cajamarca.

Os "pesadelos" do presidente Santos são, portanto, mais de natureza política. Mas, pelo menos tão importante é a questão sobre o destino das pessoas que querem fugir do caos na Venezuela. E, até agora, na América Latina, parece que ninguém tem essa resposta.

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