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A volta dos casacos de pele

Sean Sinico/cv e mas 15 de março de 2005

Por um longo tempo, casacos de pele foram considerados artigos de luxo. Agora, para desespero das sociedades protetoras dos animais, o mercado começa a se popularizar.

Pelo menos no zoológico a raposa não precisa temer por sua peleFoto: dpa

A Fur & Fashion, feira internacional de peles, encerrada no final de semana em Frankfurt, demonstrou que o mercado para esse tipo de vestuário tem crescido e conquistado novas gerações. Na feira, os visitantes puderam se informar sobre os últimos lançamentos em pele e couro.

Já no século 19, animais como raposas, martas (minks), lebres e chinchilas eram criados para o abate e o obtenção de peles. Casacos de pele eram artigos de luxo usados principalmente pelas damas idosas da sociedade. Nas últimas décadas, esse tipo de vestuário caiu de moda devido a inúmeras campanhas de sociedades protetoras dos animais. Mas as coisas estão mudando, afirma a indústria de peles. O setor está convencido de que as peles estão conquistando novamente um lugar no mundo da moda.

Artigo de luxo ou moda popular

O Instituto Alemão de Peles explica que o recente sucesso do setor se deve ao desejo do uso de tecidos nobres, linhas macias e acolchoadas. E também por causa da emancipação do consumidor. "Pele vende bem, mas não são mais os modelos clássicos dos velhos tempos", conta Susanne Kolb-Wachtel, da Associação Alemã de Peles. "Hoje as peles são mais leves, modernas e coloridas." Existe um número maior de peles com diferentes categorias de preços. A mudança na forma de se vestir e os preços são responsáveis pelo fato de a média de idade dos usuários ter caído 20 anos.

As passarelas também redescobriram as peles. Segundo dados da Federação Internacional de Peles (IFTF), 350 estilistas no mundo usam o material em suas coleções. O maiores rendimentos do setor são dos criadores de animais na Itália, Espanha, Alemanha, França e Áustria.

Modelos desfilam com peles de animaisFoto: dpa

Mas as associações protetoras dos animais acham que o retorno da moda de peles não irá vingar, devido ao senso crítico do consumidor. "Retorno das peles é exagero", disse Jürgen Faulmann, da organização protetora dos animais People for the Ethical Treatment of Animals (Peta). "É uma perversão dos super-ricos que não sabem o que fazer com o dinheiro e por isso pagam milhares de euros por um casaco."

Os lucros sobem

Mesmo assim, parece que os fabricantes de pele têm tido aumento nos lucros. Em 2004 havia, nos países integrantes da União Européia, cerca de 6500 fazendas de criação, que produziram peles no valor de 650 milhões de euros. Segundo informações do IFTF, o lucro do setor aumentou nos últimos anos. Os europeus foram responsáveis em 2002 por 70% da produção global de vison e por 63% da produção de peles de raposa.

A maior parte da produção européia de pele de vison vem da Dinamarca. A Finlândia é a campeã na criação de raposas. Na Holanda, assim como em alguns países do Leste Europeu, também é criada uma boa parte dos animais para o mercado de peles. Segundo a IFTF, tal tipo de produção é de grande importância para o setor agropecuário desses países. A Grécia é o país europeu que mais produz roupas em pele.

Leia mais sobre o controle dos métodos de criação e abate e protestos das associações de proteção na página seguinte

Inconvenientes como no passado

Nos últimos anos foram feitas diversas pesquisas para decretar uma regulamentação européia que favorecesse as condições e tratamentos dados às criações. Além disso, existem recomendações do Conselho da Europa desenvolvidas por veterinários, associações de produtores e protetores dos animais para o tratamento dos animais.

Há ainda inúmeras leis para o controle dos métodos de criação e abate. Kolb-Wachtel, da Associação de Peles, afirma que está orgulhosa da disposição dos produtores em investir na diminuição do sofrimento dos animais, como o uso de gaiolas maiores e menos tempo de transporte.

Mesmo assim, os inconvenientes de criação ainda não estão totalmente superados. Muitas organizações protestam contra a prática. Segundo estas, apesar das regulamentações, os animais ainda são criados em pequenas gaiolas que não oferecem nenhuma proteção ao frio, à chuva e ao calor. Em conseqüência disso, os animais sofrem distúrbios comportamentais – canibalismo, apatia e mordidas na cauda, além de ficarem sujeitos a doenças como infecções pulmonares e ataques de parasitas.

Modelo exibe peles em MoscouFoto: AP

A organização Peta denuncia ainda os métodos cruéis de abate. Para que a pele fique intacta, muitos animais são asfixiados com gás, envenenados, levam choques elétricos ou têm o pescoço quebrado.

O mundo em protesto

Não é de se admirar que existam protestos contra a criação de animais para a fabricação de casacos. Na Suécia, por exemplo, dois terços da população jovem, de 18 a 29 anos, reivindicou a proibição da criação dos animais, segundo dados da Sociedade Protetora dos Animais. Atualmente, muitas das grandes redes de lojas do setor vestuário abrem mão da venda de casacos de pele, entre elas a H&M, com lojas espalhadas por toda a Europa.

Logo que tomou posse, em 2002, o atual governo da Suécia proibiu a existência de fazendas de criação de animais para a confecção de roupas, devido aos inúmeros protestos.

Na Alemanha, os decretos-leis para a fiscalização das fazendas de criação de animais, no que diz respeito ao tratamento e ao abatimento destes, são de competência dos Estados. As leis estaduais devem se basear no artigo 20 da Lei Fundamental alemã, que, desde 2002, protege os direitos dos animais, bem como no "Relatório sobre tratamento e abatimento adequado de animais", do Ministério de Proteção ao Consumidor, Alimentação e Agropecuária, de 1986.

Porém, é discutível a efetividade das leis a favor da qualidade de vida dos animais. "É incompreensível que as leis para a melhora das condições de vida dos animais criados para fabricação de acessórios humanos ainda não sejam seguidas", reclama Wolfgang Apel, presidente da Sociedade Protetora dos Animais da Alemanha.

Material indispensável?

Um dos motivos da redescoberta da pele pelos estilistas – tanto de moda para idosos como jovens – é o crescente mercado na Rússia e na China. "Nesses países existem dois tipos de mercado. Um deles é o dos ricos, que buscam sempre a última moda e o outro é o mercado das pessoas que vivem em regiões muito frias", diz Kolb-Wachtel. As sociedades protetoras dos animais contradizem tal afirmação, alegando que existem materiais sintéticos ainda mais quentes que as peles. Com isso, eles reforçam a crítica de que os animais de pêlos são criados e mortos somente para satisfazer a necessidade da posse de artigos de luxo de algumas pessoas.

Segundo a organização, para a confecção de um casaco de pele de marta são mortos de 40 a 60 animais, enquanto para um casaco de pele de chinchila são sacrificados de 130 a 200 exemplares da espécie.

A organização Peta tenta deixar claro para as pessoas o que elas carregam nas costas." A mídia leva as pessoas a pensarem que usar um casaco de pele não é crime", diz Faulmann. "Com a nossa campanha, queremos mostrar o que sobra da raposa depois que é tirado o seu pêlo."

Atriz alemã Franka Potente e Bela B, integrante da banda 'Die Ärzte' ,apóiam a organização PETAFoto: AP/OLAF HEINE/UPFRONT

Mas existem também muitas pessoas sensibilizadas com o tema. A estudante Verena Pirchner conta que acha terrível que algumas pessoas ainda usem casacos de pele. Ela diz que sua mãe herdou um casaco da avó, mas que nunca o vestiu. "Eu também nunca o usaria", afirma. Muitas pessoas famosas também se engajam em defesa dos animais. Outros só compram peças de produtores que garantam que a criação respeitou as normas de proteção aos animais.

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