Líder palestino se desculpa por comentários relacionados ao Holocausto e ressalta sua "condenação ao crime mais atroz da história". Ministro da Defesa de Israel não aceita.
Anúncio
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, pediu desculpas aos judeus nesta sexta-feira (06/05) pelos comentários controversos de segunda passada, amplamente condenados e classificados como antissemitas, e reiterou seu repúdio ao Holocausto.
"Aos que se ofenderam pelos meus comentários perante o Conselho Nacional Palestino (OLP), especialmente os de fé judaica, quero me desculpar. Quero garantir a todo o mundo que não era minha intenção [ofender] e reitero meu respeito absoluto à fé judaica e ao resto de credos monoteístas", afirmou Abbas em comunicado.
Além disso, o líder palestino ressaltou sua "condenação ao Holocausto, o crime mais atroz da história".
"Condenamos o antissemitismo em todas as suas formas e confirmamos o nosso compromisso com a solução de dois Estados, para convivermos uns junto aos outros em paz e segurança", acrescentou Abbas.
O ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, não aceitou as desculpas de Abbas aos judeus. "Abu Mazen [nome de guerra de Abbas] é um negador do Holocausto que escreveu um doutorado sobre a negação do Holocausto e depois publicou um livro sobre a negação do Holocausto. Isto não pode ficar assim. A desculpa não é aceita", escreveu no Twitter.
Abbas foi reeleito, nesta sexta-feira, presidente do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), após quatro dias de reuniões do Comitê Nacional Palestino boicotadas pelo Hamas e pelo Movimento da Jihad Islâmica na Palestina.
Na segunda-feira, durante um raro encontro do Conselho Nacional Palestino, Abbas afirmou que os judeus não haviam sofrido historicamente por causa de sua religião, mas por terem sido banqueiros e credores de dinheiro. Abbas disse que os judeus que viviam na Europa sofreram massacres "a cada dez a 15 anos em algum país desde o século 11 até o Holocausto".
"Dizem que o ódio contra os judeus não foi por causa de sua religião, foi por causa de sua função social. Então, a questão judaica que se espalhou contra os judeus em toda a Europa não foi por causa de sua religião, mas por causa de agiotagem e dos bancos", disse Abbas, citando livros escritos por vários autores. Além disso, acusou o regime nazista de impulsionar a migração judaica aos territórios palestinos em 1933.
Na ocasião, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, considerou as declarações como "outro discurso antissemita" cheio de "enorme ignorância e insolência". O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, também mostrou repúdio e expressou que seu país "está comprometido contra toda relativização do Holocausto".
Abbas, de 82 anos, obteve um doutorado em História no Instituto de Orientalismo de Moscou, em 1982, na então União Soviética. Sua dissertação, intitulada A relação secreta entre o nazismo e o movimento sionista, atraiu críticas generalizadas de grupos judaicos, que o acusaram de negação do Holocausto.
Em 2014, ele se defendeu das acusações de ser antissemita ao afirmar que o Holocausto foi "o pior crime da história moderna".
PV/ap/rtr/afp/efe
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram
Jerusalém, a história de um pomo da discórdia
Jerusalém é uma das cidades mais antigas do mundo, e ao mesmo tempo um dos maiores focos de conflitos. Judeus, muçulmanos e cristãos veem Jerusalém como cidade sagrada.
Foto: picture-alliance/Zumapress/S. Qaq
Cidade de Davi
Segundo o Velho Testamento, no ano 1000 a.C., Davi, rei de Judá e Israel, conquistou Jerusalém dos jebuseus, uma tribo cananeia. Ele mudou a sede de seu governo para Jerusalém, que se tornou capital e centro religioso do reino. De acordo com a Bíblia, Salomão, o filho de Davi, construiu o primeiro templo para Yaweh, o deus de Israel. Jerusalém tornou-se assim o centro do Judaísmo.
Foto: Imago/Leemage
Reino dos persas
O rei Nabucodonosor 2º, da Babilônia, conquistou Jerusalém em 597 e novamente em 586 a.C., segundo a Bíblia. Ele destruiu o templo e aprisionou o rei Joaquim de Judá e a elite judaica, levando-os para a Babilônia. Quando o rei persa Ciro, o Grande, conquistou a Babilônia, permitiu que os judeus voltassem do exílio para Jerusalém e reconstruíssem o templo.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Sob o poder de Roma e Bizâncio
A partir de 63 d.C., Jerusalém passou ao domínio de Roma. A resistência se formou rapidamente entre a população, eclodindo uma guerra no ano 66. O conflito terminou quatro anos depois, com a vitória dos romanos e uma nova destruição do templo em Jerusalém. Os romanos e os bizantinos dominaram a Palestina por 600 anos.
Foto: Historical Picture Archive/COR
Conquista pelo árabes
Durante a conquista da Grande Síria, as tropas islâmicas chegaram até a Palestina. Por ordem do califa Umar, em 637, Jerusalém foi sitiada e conquistada. Durante a época da supremacia muçulmana, vários rivais se revezaram no domínio da região. Jerusalém foi ocupada várias vezes e trocou diversas vezes de soberano.
Foto: Selva/Leemage
No tempo das Cruzadas
O mundo cristão passou a se sentir cada vez mais ameaçado pelos muçulmanos seljúcidas, que governavam Jerusalém desde 1070. Em consequência, o papa Urbano 2º convocou as Cruzadas. Ao longo de 200 anos, os europeus conduziram cinco Cruzadas para conquistar Jerusalém, algumas vezes com êxito. Por fim, em 1244, os cristãos perderam de vez a cidade, que caiu novamente sob domínio muçulmano.
Foto: picture-alliance/akg-images
Os otomanos e os britânicos
Após a conquista do Egito e da Arábia pelos otomanos, em 1535, Jerusalém se tornou sede de um distrito governamental otomano. As primeiras décadas de domínio turco representaram impulsos significativos para a cidade. Com a vitória dos britânicos sobre as tropas turcas em 1917, a região – e também Jerusalém – passou ao domínio britânico.
Foto: Gemeinfrei
Cidade dividida
Após a Segunda Guerra Mundial, os britânicos renunciaram ao mandato sobre a região. A ONU aprovou a divisão da área, a fim de abrigar os sobreviventes do Holocausto. Isso levou alguns países árabes a iniciarem uma guerra contra Israel, em que conquistaram parte de Jerusalém. Até 1967, a cidade esteve dividida em lado israelense e lado jordaniano.
Foto: Gemeinfrei
Israel reconquista o lado oriental
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias contra Egito, Jordânia e Síria, Israel conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as Colinas de Golã e Jerusalém Oriental. Paraquedistas israelenses chegaram ao centro histórico e, pela primeira vez desde 1949, ao Muro das Lamentações, local sagrado para os judeus. Jerusalém Oriental não foi anexada a Israel, apenas integrada de forma administrativa.
Desde esta época, Israel não impede os peregrinos muçulmanos de entrarem no terceiro principal santuário islâmico do mundo. O Monte do Templo está subordinado a uma administração muçulmana autônoma. Muçulmanos podem tanto visitar como também rezar no Domo da Rocha e na mesquita de Al-Aqsa, que fica ao lado.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gharabli
Status não definido
Até hoje, Jerusalém continua sendo um obstáculo no processo de paz entre Israel e os palestinos. Em 1980, Israel declarou a cidade inteira como "capital eterna e indivisível". Depois que a Jordânia desistiu de reivindicar para si a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, em 1988, foi conclamado um Estado palestino, com o leste de Jerusalém como sua capital.