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Abdicação do rei pode abalar frágil estabilidade política belga

Christoph Hasselbach (rc)4 de julho de 2013

Após 20 anos no trono, Albert 2º anunciou que vai passar a coroa ao príncipe Philippe. Decisão do monarca, marcado pelo estilo de vida "bom vivant" mas também pela destreza política, pode pôr em risco união nacional.

Foto: Reuters

Quando, em recente visita oficial à Tailândia, foi questionado se ele e sua mulher, a princesa Mathilde, estariam prontos para reger a Bélgica, o príncipe Philippe deu uma resposta evasiva, mas que não deixou de ser surpreendente: “Eu? Nós veremos quando a hora chegar.”

A declaração do príncipe herdeiro veio pouco antes de seu pai anunciar, na quarta-feira (03/07), a sua abdicação ao trono da Bélgica. A troca de poder oficial, em que o rei Albert 2º passará a coroa ao filho, será em 21 de julho, o Dia Nacional da Bélgica.

Já com 79 anos, Albert 2º alega razões de saúde. Será a primeira vez em 180 anos que um monarca belga abdica voluntariamente. O pai do atual monarca, Leopold 3º, também havia abdicado ao trono, mas teve que voltar atrás por causa de seu papel durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial.

O rei Alberto II e o príncipe herdeiro Philippe. A abdicação foi anunciada para o dia 21 de julhoFoto: Imago

Foram 20 anos de reinado de Alberto 2º. Ele sucedeu o irmão, o rei Baudouin, morto em 1993. Ao contrário do estilo de vida profundamente religioso de seu antecessor, Albert é tido como um bon vivant.

Mentor da união

Pode-se dizer que foi um rei bastante popular, que conquistou a reputação de ser um dos artífices da união da Bélgica. Os dois principais grupos étnicos belgas – os flamengos da região de Flandres, que falam holandês, e os valões, que usam o francês – há décadas vinham se distanciando.

As tensões levaram a uma crise política entre 2010 e 2011, quando a Bélgica ficou sem governo durante um ano e meio. O país esteve ameaçado por uma dura ruptura.

No auge da crise, em 2010, Albert fez um alerta em seu pronunciamento de Natal: “Parece que a arte de buscar um entendimento no nosso país tem sido esquecida nos últimos anos”, disse o rei, que chamou a atenção dos líderes para que assumissem suas responsabilidades. "Chegou o momento em que a verdadeira coragem se expressa na determinação em encontrar um compromisso que traga união, e de não agravar as contradições."

Não é exagero dizer que, no emaranhado político belga, a estabilidade atual do governo não se deve apenas ao primeiro-ministro socialista Elio Di Rupo, mas também ao rei Albert 2º.

Leopoldo III, pai de Alberto II, e a princesa RethyFoto: picture-alliance/akg-images

Escândalo

Mas não são apenas a política e a idade que afligem o monarca. Os membros da família real são acusados de extravagâncias. Os privilégios – exceto os do rei – foram reduzidos consideravelmente durante a crise econômica. No futuro, os familiares do monarca terão que pagar imposto de renda da mesma forma que os cidadãos comuns.

Há, no entanto, uma situação um tanto constrangedora para o rei. Delphine Boel, de 45 anos, entrou com um processo para o reconhecimento da paternidade de seu filho, que ela afirma ser de Albert. Até o momento, o monarca está protegido pela Constituição contra qualquer obrigatoriedade de realizar testes de DNA, mas, após abdicar ao trono, pode perder essa imunidade.

Não se sabe qual será a solução do caso, mas o fato é que a semelhança do menino com Albert 2º é impressionante, e o caso de Boel com o rei, que era mantido em segredo, acabou vindo a público.

Se o próximo monarca será o elo que faltava para a união da Bélgica ou se ele será testemunha da desintegração do país, vai depender, apenas em parte, de sua personalidade, mas principalmente, do desenrolar da situação política. As vozes da desunião, que defendem a dissolução imediata do país, estão momentaneamente caladas.

Pronunciamento do rei Alberto II no Dia Nacional da Bélgica em 2011Foto: AP

Entretanto, esse quadro poderá mudar de acordo com o resultado das eleições no próximo ano. A Nova Aliança Flamenga (N-VA), o partido político mais forte no país atualmente, almeja a longo prazo a dissolução do Estado belga.

Raízes alamãs

Albert 2º não foi negligente com o terceiro grupo étnico belga, a comunidade no leste do país que fala alemão. O rei possui ascendência alemã – seu pai, Leopold 3º, o primeiro rei dos belgas, pertencia à casa de Saxe-Coburgo-Gota, que é originariamente da Alemanha.

A comunidade germânica da Bélgica é uma das três comunidades linguísticas reconhecidas no país, e o rei Albert, tanto no Natal quanto no feriado nacional, se dirigia a eles em alemão. Prestes a abdicar, o monarca fez o mesmo em seu pronunciamento na última quarta-feira. "O fim do meu reinado não significa que tomaremos caminhos separados, muito pelo contrário. Vida longa à Bélgica."

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