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EducaçãoBrasil

Abismo entre ensino público e privado ofusca talentos

Studentin Beatriz Gabrielly Sá Brasil
Beatriz Gabrielly Sá Brasil
4 de agosto de 2022

Se todas as escolas oferecessem a mesma capacitação para seus alunos se destacarem em olimpíadas de conhecimento, então nós, estudantes da rede pública, dividiríamos o pódio com os de escolas particulares.

Beatriz Gabrielly Sá Brasil tem 17 anos e vive em Tufilândia, no MaranhãoFoto: privat

Ter participado da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) foi, sem sombra de dúvida, a melhor escolha que fiz em toda minha vida acadêmica. Com ela, aprendi a desenvolver mais rápido o raciocínio, já que a lógica é constantemente trabalhada nas questões e o ritmo de estudo é mais intenso, e comecei a não ter tanta dificuldade no aprendizado de outras disciplinas que também precisam de cálculo.

Embora a OBMEP seja destinada a estudantes de escola pública, só fiquei sabendo de sua existência por meio de um canal no YouTube na época em que precisei fazer reforço de matemática: três irmãos colecionavam diversas medalhas, sendo todos de escola pública. Foi por causa deles que comecei a me empenhar na matéria, pensando nas conquistas que eu também poderia ter, pois lembro de ter ficado maravilhada com a quantidade de premiações e benefícios que os três ganharam.

Por entender o que a OBMEP poderia me proporcionar, não hesitei em participar. No entanto, quando fiz a prova pela primeira vez em 2019, não saí da primeira questão. Isso serviu de combustível para que eu me dedicasse ainda mais em casa. Todo meu esforço resultou em uma feliz vitória no ano passado: fui a única premiada no meu colégio, com menção honrosa.

Conto isso porque foi por conta própria e mérito meu que consegui essa conquista. Eu, aluna do último ano em uma escola pública na zona rural do Maranhão, não recebi apoio nem informação por parte da instituição em que estudo a respeito da OBMEP – que, aliás, é a única olimpíada oferecida na minha escola.

Se não fosse a internet eu nunca teria tido uma experiência como aquela, porque o ensino público não motiva e não explica para que a olimpíada serve. Quando avisam sobre a prova, normalmente já está bem em cima da hora para estudar, sem contar com o fato de não haver o alicerce necessário para ensinarem a matemática básica.

Dessa forma, percebi que invejo muito os estudantes de escolas particulares que recebem todo o apoio e repertório para se destacarem, não só em provas olímpicas nacionais, mas nas internacionais também. Diante desse abismo enorme que se forma entre esses estudantes e nós, da rede pública, faço uma reflexão: se todas as escolas oferecessem as mesmas capacitações, talvez nós dividíssemos o pódio com eles.

Neste ano, decidi participar outra vez. No entanto, a desvalorização da olimpíada e o subsequente desinteresse dos estudantes se fizeram presentes mais uma vez e acabaram por me prejudicar de uma forma que eu nem poderia imaginar. Durante a realização da prova da primeira fase, minha turma não colaborava com o silêncio e nem se importava em "colar" as respostas dos outros, ou seja, o professor não tinha qualquer controle sobre a sala.

Quando finalmente consegui me concentrar, meu docente disse para eu acelerar com a resolução das questões, pois, segundo ele, o tempo já estava acabando. Consequentemente, entreguei a prova quase toda feita no chute, ciente de que realmente não iria passar.

Depois soube que ainda restavam 50 minutos para encerrar o tempo da prova, o que me deixou mais revoltada. Eu não tinha condição de impor que ficaria até o final, pois não possuía um relógio e, de acordo com as normas da olimpíada, aparelhos eletrônicos não são permitidos na sala durante o exame.

Diante dos acontecimentos, fiquei tão triste com a realidade. Foram horas de esforço deixadas de lado, pelo simples fato de uma atividade acadêmica tão importante não ser valorizada como deveria. Sei que o desinteresse não é culpa dos estudantes. A maioria dos alunos do Ensino Médio sente falta da matemática básica, e, quando eles se saem mal, acham que são burros e que essa matéria não é para eles. Mas isso só é consequência do aprendizado superficial que receberam no Ensino Fundamental.

Quando se fala em Olimpíadas de Matemática, o assunto se torna mais indesejado ainda. Mas gostaria que todos soubessem que não é perda de tempo: é sobre poder elevar o conhecimento a outro patamar e ter novas perspectivas.

Tudo o que eu disse mostra mais uma das diversas maneiras que a escassez de informação, recursos e investimentos nas escolas públicas, sobretudo nas zonas rurais, ofuscam não só a mim, mas a diversos outros estudantes que tiveram uma experiência parecida: querem voar alto, mas foram impedidos pela falta de responsabilidade com o futuro daqueles que ainda tentam.

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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1

A autora deste texto é Beatriz Gabrielly Sá Brasil, de 17 anos, que vive em Tufilândia, no Maranhão. 

O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.