"Abrigo a refugiados deve ser temporário", diz Dalai Lama
2 de junho de 2016
Líder espiritual tibetano reconhece dificuldades em acolher milhares de refugiados e afirma que Alemanha não pode virar país árabe. Em entrevista a jornal alemão, Dalai Lama admite ainda esperança de voltar ao Tibete.
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O monge budista Tenzin Gyatso, o 14º e atual Dalai Lama, usou palavras duras ao falar sobre a crise migratória na União Europeia (UE), em uma entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ). Para o líder espiritual, os refugiados devem retornar aos seus países com o fim da crise e ressaltou que a Alemanha não pode virar um país árabe.
"Moralmente acho que o abrigo a refugiados deve ser temporário. O objetivo deve ser o retorno aos seus países para ajudar na reconstrução", afirmou o Dalai Lama, na entrevista publicada nesta terça-feira (31/05).
O líder espiritual lembrou, porém, que pessoas em condições melhores têm a responsabilidade de ajudar os refugiados, mas reconheceu que o acolhimento diante o grande número de migrantes que chegaram à UE é difícil. "São muitos nesse momento. A Europa, por exemplo, a Alemanha não pode se tornar um país árabe. A Alemanha é a Alemanha", ressaltou.
Ao ser questionado sobre o aumento da islamofobia na Europa, o líder espiritual afirmou que perversos existem também entre cristãos, judeus, budistas e hindus. "O amor é a mensagem central de toda religião, também do Islã. Não devemos condenar o mundo muçulmano somente por alguns acontecimentos tristes praticados por um pequeno número de muçulmanos", concluiu.
Dalai Lama, que vive há mais de 50 anos no exílio em Dharamsala, na Índia, falou ainda sobre sua perspectiva de retornar ao Tibete. "Ficaria feliz se tivesse a oportunidade de voltar ou, pelo menos, fazer uma visita breve".
Depois que fugiu para a Índia em 1959, durante a invasão do Tibete pela China, o líder dedicou sua vida a lutar pela autonomia do território. Em 1989, ele foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. A briga com o governo chinês dificulta sua volta para a casa.
"Há um provérbio tibetano que diz: sua casa é onde você é feliz. Vivo há mais de 57 anos em liberdade na Índia. A liberdade me permitiu encontrar pessoas de diferentes origens, fé e profissões. Enquanto tiver a sensação de que posso fazer mais aqui da Índia, fico aqui", disse.
CN/ots
2015, o ano dos refugiados
Nunca tantas pessoas estiveram em fuga como em 2015. Muitos delas seguiram para a Europa, com o objetivo de chegar à Alemanha ou à Suécia. Confira uma restrospectiva fotográfica do "ano dos refugiados".
Foto: Reuters/O. Teofilovski
Chegada à União Europeia
Esses jovens sírios superaram uma etapa perigosa da sua viagem: eles conseguiram chegar à Grécia e, assim, à União Europeia. O objetivo final, porém, ainda não foi alcançado: eles querem continuar a jornada para o norte, em direção a outros países-membros do bloco. Em 2015, a maioria dos refugiados seguiu para a Alemanha e para a Suécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Perigosa travessia do Mediterrâneo
O caminho que eles deixam para trás é extremamente perigoso. Vários barcos com refugiados, nem sempre aptos à navegação, já viraram durante a travessia do Mar Mediterrâneo. Estas crianças sírias e seu pai tiveram sorte: eles foram resgatados por pescadores gregos na costa da ilha de Lesbos, na Grécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
A imagem que comoveu o mundo
Aylan Kurdi, de 3 anos, não sobreviveu à fuga. No início de setembro, ele se afogou no Mar Egeu, juntamente com o irmão e a mãe, ao tentar chegar à ilha grega de Kos. A foto do menino sírio, morto na praia de Bodrum, espalhou-se rapidamente pela mídia e chocou pessoas de todo o mundo.
Foto: Reuters/Stringer
Onde as diferenças são visíveis
A ilha grega de Kos, a menos de 5 quilômetros de distância da Turquia continental, é o destino de muitos refugiados. As praias geralmente cheias de turistas servem de ponto de desembarque, como no caso deste grupo de refugiados paquistaneses que chegou à costa da Grécia com um bote de borracha.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Em meio ao caos
Porém, muitos refugiados não conseguem simplesmente seguir viagem quando chegam a Kos. Eles somente podem seguir para o continente após serem registrados. Durante o verão europeu, a situação se agravou quando as autoridades fizeram com que os refugiados esperassem pelo registro num estádio, sob o sol escaldante e sem água.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Um navio para refugiados
Por causa da condições precárias, tumultos eram frequentes na ilha de Kos. Para acalmar a situação, o governo grego fretou um navio, que permaneceu ancorado e foi transformado em alojamento temporário para até 2.500 pessoas e em centro de registro de migrantes.
Foto: Reuters/A. Konstantinidis
"Dilema europeu"
Mais ao norte, na fronteira da Grécia com a Macedônia, policiais não permitiam mais a passagem de pessoas, entre elas crianças aos prantos, separadas de seus pais. Esta foto tirada pelo fotógrafo Georgi Licovski no local, e que mostra o desespero de duas crianças, foi premiada pelo Unicef como a imagem do ano, já que mostra "o dilema e a responsabilidade da Europa".
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem conexões para refugiados
No final do verão europeu, Budapeste se transformou em símbolo do fracasso das autoridades e da xenofobia. Milhares de refugiados estavam acampados nas proximidades de uma estação de trem da capital húngara, pois o governo do país os proibira de seguir viagem. Muitos decidiram seguir a pé em direção à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Fronteiras abertas
Uma decisão na noite de 5 de setembro abriu caminho para os refugiados: a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o chanceler austríaco, Werner Faymann, decidiram simplesmente liberar a continuação da viagem por parte dos migrantes. Como consequência, vários trens especiais e ônibus seguiram para Viena e Munique.
Foto: picture alliance/landov/A. Zavallis
Boas vindas em Munique
No primeiro final de semana de setembro, cerca de 20 mil refugiados chegaram a Munique. Na estação central de trem da capital da Baviera, inúmeros voluntários se reuniram para receber os refugiados com aplausos e lhes fornecer comida e roupas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Stollarz
Selfie com a chanceler
Enquanto a chanceler federal Angela Merkel era aplaudida por refugiados e defensores de sua política de asilo, muitos alemães se voltavam contra a política migratória. "Se tivermos de pedir desculpas por mostrar uma face acolhedora em situações de emergência, então este não é mais o meu país", respondeu a chanceler. A frase "Nós vamos conseguir" se tornou o mantra de Merkel.
Foto: Reuters/F. Bensch
Histórias na bagagem
No final de setembro, a polícia federal alemã divulgou uma imagem comovente: o presente que uma menina refugiada deu a um policial da cidade alemã de Passau. O desenho mostra o horror que vários migrantes vivenciaram e o quão felizes eles estavam por, finalmente, estarem em um local seguro.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundespolizei
O drama continua
Até o final de outubro, mais de 750 mil refugiados haviam chegado à Alemanha. Mas o fluxo não parava. Sobrecarregados, os países da chamada Rota dos Bálcãs decidiram fechar suas fronteiras. Apenas sírios, afegãos e iraquianos estavam autorizados a passar. Em protesto, migrantes de outros países chegaram a costurar seus lábios.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem fim à vista
"Ajude-nos, Alemanha" está escrito em cartazes de manifestantes na fronteira com a Macedônia. Na Europa, o inverno se aproxima, e milhares de pessoas, entre elas crianças, estão presas nas fronteiras. Enquanto isso, até mesmo a Suécia retomou o controle temporário de fronteiras. Em 2016, o fluxo de refugiados deverá continuar.