Abstinência sexual faz ratos usarem drogas, aponta estudo
Brigitte Osterath (ca)23 de setembro de 2016
Segundo cientistas dos EUA, sexo atua na mesma região do cérebro que anfetaminas e faz com que ratos machos recorram a drogas sintéticas na falta de atividade sexual diária.
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Sexo pode viciar. O prazer que se sente faz com que algumas pessoas queiram ter relações sexuais o tempo todo. E, como se isso não bastasse, o sexo pode fazer com que se fique mais suscetível a drogas químicas.
Ratos machos que costumam se acasalar todos os dias tendem a buscar muito mais drogas sintéticas, como anfetaminas, durante o período de abstinência. Agora, uma equipe de pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Mississippi, nos EUA, encontrou as causas para esse fenômeno. O estudo, liderado por liderada por Lauren Beloate, foi publicado nesta semana no The Journal of Neuroscience.
Tanto o sexo quanto as anfetaminas atuam na chamada área tegmental ventral (ATV) do cérebro, descobriram os pesquisadores. Esse grupo de células nervosas produz o neurotransmissor dopamina e está relacionado ao sistema de recompensa do cérebro.
Para cientistas como Beloate e sua equipe, o sexo nada mais é que uma recompensa natural: ele nos faz sentir bem, levando ao desejo de repetir essa atividade num curto espaço de tempo. As drogas atuam na mesma região cerebral, o que as faz serem viciantes.
"A experiência com o comportamento sexual seguida de um período de abstinência leva ao aumento de [busca por] recompensa por meio da anfetamina em ratos machos", escreve a equipe de Beloate.
"Vulnerabilidade aumentada"
Segundo o estudo, o sexo diário alterou o cérebro dos roedores, tornando-os mais propensos ao uso de drogas. Os ratos sexualmente ativos ficaram viciados muito mais rapidamente em anfetaminas e a uma dosagem muito menor do que as cobaias que não se acasalavam. Os cientistas chamaram isso de "vulnerabilidade aumentada", ou seja, a droga tem um efeito muito maior em animais que praticam sexo do que teria normalmente.
Nos ratos, cinco dias consecutivos de sexo, seguidos de uma abstinência de sete dias, foram suficientes para provocar tal mudança cerebral.
Há relatos de usuários de metanfetamina que dizem ter aumentado o prazer sexual e praticado sexo inseguro devido à perda de controle provocada pela droga.
Cientistas descobriram, em experimentos anteriores com animais, que a administração regular de baixas doses de metanfetamina – também chamada de crystal meth – resultou num comportamento compulsivo de busca por sexo durante a abstinência sexual. Porém, doses muito altas da droga sintética fizeram com que ratos perdessem totalmente o apetite sexual.
Drogas com passado alemão
Muitos entorpecentes produzidos hoje em laboratórios clandestinos espalhados pelo mundo são criações de cientistas, militares e empresas da Alemanha.
Na Segunda Guerra
Nas campanhas na Polônia, em 1939, e na França, em 1940, Hitler enviou soldados drogados para o front. Na ocupação da França, teriam sido dados às tropas 35 milhões de comprimidos de Pervitin, que tinha o apelido de "chocolate de tanque" ou "pílula de Hermann Göring". A substância ativa, metanfetamina, é um estimulante do sistema nervoso central. Mas também os Aliados dopavam seus soldados.
Foto: picture-alliance/dpa-Bildarchiv
Alerta, destemido e sem fome
A droga foi produzida por um japonês, inicialmente em forma líquida. Químicos da fábrica berlinense Temmler aperfeiçoaram o produto e o patentearam em 1937. Um ano mais tarde o medicamento era lançado no mercado. Ele era usado contra cansaço, sensação de fome e sede e medo. Hoje em dia, o Pervitin é comercializado ilegalmente sob novo nome: Crystal Meth.
High Hitler?
Historiadores divergem se Adolf Hitler era dependente de Pervitin. Nas anotações de seu médico pessoal, Theodor Morell, aparece um "X" com frequência. Nunca foi esclarecido o que ele significa. Sabe-se, no entanto, que Hitler recebia medicamentos fortes, a maioria provavelmente muito aquém das atuais leis de combate às drogas.
Foto: picture alliance/Mary Evans Picture Library
"Milagrosa" heroína
A criatividade dos produtores de drogas na Alemanha já havia começado muito mais cedo. "Fim à tosse graças à heroína", era o slogan da fabricante alemã Bayer no final do século 19 para o seu sucesso de vendas. Em pouco tempo, a heroína passou a ser prescrita contra epilepsia, asma, esquizofrenia e doenças cardíacas, mesmo em crianças. Como efeito colateral, a Bayer apontava prisão de ventre.
Pai da aspirina e da heroína
O químico e farmacêutico Felix Hoffmann é celebrado especialmente como o inventor da aspirina. Sua segunda grande descoberta aconteceu quase por acaso, enquanto experimentava com ácido acético. Ele resolveu combinar este ácido com morfina, obtido do suco da papoula usada para produzir ópio, criando assim a heroína. O produto só se tornaria ilegal na Alemanha em 1971.
Cocaína para oftalmologistas
Já desde 1862, a alemã Merck fabricava cocaína, usada na época pelos oftalmologistas como anestésico local. Ao pesquisar folhas de coca da América do Sul, o químico Albert Niemann havia isolado um alcaloide, que chamou de cocaína. Niemann morreu pouco depois de sua descoberta, vítima de um problema pulmonar.
Foto: Merck Corporate History
Freud e cocaína
Sigmund Freud consumia cocaína para fins científicos. Em seus "Escritos sobre a cocaína", o pai da psicanálise escreveu que ela não traz inconvenientes. Segundo ele, a substância transmite euforia, energia para viver, e motiva a trabalhar. Seu entusiasmo, no entanto, acabou com a morte de um amigo por causa da droga. Naquele tempo, a cocaína era prescrita contra dor de cabeça e dor no estômago.
Foto: Hans Casparius/Hulton Archive/Getty Images
O barato do Ecstasy
Embora o americano Alexander Shulgin seja considerado o inventor da pílula Ecstasy, a receita para sua produção estava em mãos da fabricante alemã Merck. Em 1912, foi dada entrada para a patente de uma substância oleosa sem cor chamada metilenodioximetanfetamina (MDMA ). Na época, os químicos consideraram que ela não teria valor comercial.
Foto: picture-alliance/epa/Barbara Walton
Efeitos de longo prazo
Os efeitos destas descobertas são implacáveis. As Nações Unidas calculam que em 2013 morreram 190 mil pessoas no mundo devido ao consumo de drogas ilegais. Em relação a bebidas alcoólicas, que não são proibidas, os números são mais impressionantes: a Organização Mundial da Saúde estima que em 2012 5,9% de todos os casos de morte no mundo (3,3 milhões) foram uma consequência do consumo de álcool.