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"Acabei com a Lava Jato porque não tem corrupção no governo"

8 de outubro de 2020

Declaração ocorre após críticas à indicação de Kassio Nunes ao STF, ação considerava pelos "lavajistas" como mais um passo para enfraquecer a operação.

Brasilien Jair Bolsonaro
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira (07/10) que a Lava Jato acabou "porque não tem mais corrupção no governo". A declaração foi feita em resposta às acusações de que o mandatário tem tomado medidas para enfraquecer a operação, incluindo a indicação para o Supremo de Kassio Nunes, considerado um potencial crítico dos métodos da Lava Jato.

"Eu desconheço lobby para criar dificuldade e vender facilidade, não existe. É um orgulho, uma satisfação que eu tenho dizer a essa imprensa maravilhosa nossa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo", disse o presidente.

"Eu sei que isso não é virtude, é obrigação, mas nós fazemos um governo de peito aberto. Quando eu indico qualquer pessoa pra qualquer local, eu sei que é uma boa pessoa, tendo em vista a quantidade de críticas que ela recebe em grande parte da mídia", disse.

As declarações foram feitas durante uma cerimônia de lançamento do programa Voo Simples de medidas para desburocratizar o setor aéreo. No momento, a Lava Jato, especialmente o núcleo curitibano, vive um momento extremamente delicado, com uma influência bem distante daquela do período entre 2014 e 2018.

Em setembro, a força-tarefa do Paraná foi prorrogada até o final de janeiro. 

Bolsonaro, na condição de presidente, não tem poder para encerrar a Lava Jato, já que a prerrogativa é da Procuradoria-Geral da República. Mas o presidente vem sendo alvo de críticas de "lavajistas", mais recentemente por causa da indicação de Kassio Nunes.

Os apoiadores suspeitam especialmente da posição "garantista" do indicado. Os garantistas do STF, um grupo que inclui figuras como Gilmar Mendes, vêm impondo uma série de derrotas para a operação, como a anulação de condenações.

Bolsonaro também rompeu em abril com o principal rosto da operação, o ex-juiz Sergio Moro, que ocupava a pasta da Justiça em seu governo, e promoveu mudanças na Polícia Federal que enfraqueceram o poder dos lavajistas na corporação. Moro acusou Bolsonaro de agir assim para proteger integrantes da sua família que são alvos de investigações.

Atualmente, o núcleo curitibano da Lava Jato também enfrenta um momento tenso em sua relação com a cúpula da procuradoria-geral da PGR, que tenta acessar o material acumulado pelos promotores curitibanos em mais de cinco anos de operação.

No início de setembro, Deltan Dallagnol, o outrora influente coordenador da força-tarefa da LJ curitibana, deixou o posto.  Sua imagem ficou abalada depois do vazamento de suas mensagens privadas em 2019, que levantaram questionamentos sobre a conduta dos promotores da operação e do ex-juiz Moro. 

Apoiadores da operação também têm criticado a aproximação de Bolsonaro com políticos do centrão, inclusive implicados na operação. A indicação de Nunes para o STF ainda gerou críticas de apoiadores ultraconservadores do presidente, que esperavam a escolha de alguém religioso com uma visão radical em pautas de costumes.

A fala de Bolsonaro gerou críticas imediatas no meio político, especialmente entre a oposição. A deputada federal Erika Kokay (PT-DF), por exemplo, classificou a fala como "cinismo e deboche". "Com cinismo e deboche, Bolsonaro diz que acabou com a Lava Jato pq 'não tem mais corrupção no governo'. A Lava Jato nunca foi contra a corrupção, sempre foi um instrumento para perseguir o PT e levar a direita ao poder. Por isso, Bolsonaro diz isso e nada acontece", escreveu.

Outros, como o deputado Iva Valente (PSOL-SP), apontaram a ironia de que a Lava Jato tenha sido atacada justamente por Bolsonaro.

"Os procuradores da Lava Jato e Moro fizeram de tudo para eleger Bolsonaro, corrupto que reúne os piores vícios da velha política. Tudo isso para ouvir do canalha: "eu acabei com a Lava Jato... porque não tem mais corrupção no governo". É a comédia mais sem graça que já se viu", disse.

Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) avaliou que a atuação de Bolsonaro contribuiu para o desmantelamento da força-tarefa da Lava Jato. "A atuação de Bolsonaro, de fato, desmantelou os mecanismos de combate à corrupção no país. Aos moldes da ditadura, diz não existir corrupção quando interfere na realização de investigações. Seria piada se não fosse uma afronta ao nosso Estado Democrático!".

JPS/ots

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