Entidade cinematográfica de Hollywood estende convites para adesão de mulheres e pessoas de minorias étnicas e inclui também cinco brasileiros. Objetivo é diminuir sub-representação na maior premiação do cinema mundial.
Academia do Oscar quer aumentar diversidade com inclusão de mais mulheres e representantes de minoriasFoto: Getty Images/J. Merritt
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A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou nesta terça-feira (30/06) que convidou 819 profissionais de cinema a se tornarem membros da entidade, numa tentativa de aumentar a diversidade em suas fileiras com a inclusão de um número maior de mulheres e representantes de minorias étnicas.
Após intensas críticas sobre uma suposta preferência por atores e diretores brancos nas nomeações para o Oscar, o maior prêmio do cinema internacional, a Academia decidiu reforçar o convite para que um número maior de profissionais de etnias diferentes possa integrar seus quadros e contribuir na escolha dos premiados.
A maioria dos convidados são mulheres, e mais da metade é pessoas de "comunidades étnicas e raciais sub-representadas", segundo a Academia. Entre estas estão Yalitza Aparicio (do filme Roma), Eva Longoria (da série Desperate Housewifes), Awkwafina (Oito mulheres e um segredo), Zendaya (Duna), Zazie Beetz (Coringa), Constance Wu (Podres de ricos) e Ana de Armas (Entre facas e segredos).
O filme sul-coreano Parasita, o primeiro em língua estrangeira a vencer o Oscar de melhor filme no ano passado, teve 12 profissionais relacionados como convidados, incluindo cinco atores, a figurinista, o editor e o produtor. O diretor Bong Joo-ho e o ator Song Kang-ho já fazem parte da Academia desde 2015.
Entre os convidados também estão cinco brasileiros. São o diretor Otto Guerra (A cidade dos piratas) para a categoria de curtas e longas de animação, a editora Cristina Amaral (Um filme de verão) e os produtores Mariana Oliva e Tiago Pavan (Democracia em vertigem) na área de documentários, além do executivo da Netflix Marcos Waltenberg, na categoria de marketing e relações públicas.
A Academia vem se internacionalizando nos últimos anos, e já triplicou a inclusão de membros não americanos desde 2015. Até o ano passado, a entidade possuía 8.946 membros ativos, dos quais 8.733 podiam votar nos concorrentes ao Oscar.
Há quatro anos, o quadro administrativo da Academia se comprometeu a dobrar até 2020 o número de mulheres e pessoas de minorias étnicas entre seus membros, após uma enxurrada de críticas nas redes sociais em razão da disparidade na representação entre os gêneros e do maior número de pessoas brancas indicadas ao Oscar.
Com a inclusão dos novos membros, a Academia superou esse objetivo, o que ocasionou um drástico aumento no número de integrantes, que costumava ser de no máximo 6 mil.
A pressão por maior igualdade racial aumentou com os protestos ocorridos recentemente nos Estados Unidos contra o racismo e a violência policial contra as minorias, especialmente os afro-americanos, impulsionados pelo movimento Black Lives Matter (Vidas negras importam). Um grande número de personalidades do cinema declarou apoio aos manifestantes.
No início do mês, a Academia de Hollywood anunciou que iria incluir novas regras de elegibilidade para aumentar a diversidade entre os indicados ao Oscar, de modo a "incentivar práticas de contratação e representação igualitárias".
O Brasil levou a primeira estatueta por Melhor Filme Internacional. O país já teve diversas obras indicadas ao prêmio. Veja a trajetória de brasileiros na premiação.
Foto: Capital Pictures/IMAGO
"Orfeu negro"
Em 1960, "Orfeu negro", uma coprodução entre Brasil, França e Itália, ganhou a estatueta de melhor filme estrangeiro. Por representar a França, os louros ficaram com os europeus. Mas durante 65 anos foi o único filme de língua portuguesa a ganhar um Oscar.
Candidatos a melhor filme estrangeiro
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, "O pagador de promessas", de Anselmo Duarte, garantiu a primeira indicação para o Brasil, em 1962. Em 1995, a história de dois casais de imigrantes italianos vivendo sob o mesmo teto rendeu uma indicação a "O quatrilho", de Fabio Barreto. Dois anos depois, seu irmão, Bruno Barreto (foto), foi indicado na mesma categoria, por "O que é isso companheiro?".
Foto: picture-alliance/dpa
Melhor filme
Esnobado na categoria de filme estrangeiro, "O beijo da mulher aranha" (1985), coprodução com os EUA, foi o primeiro longa latino-americano indicado como melhor filme. A amizade entre um preso político (Raul Julia) e um homem homossexual (Will Hurt) em um presídio brasileiro também rendeu indicações de melhor roteiro adaptado e diretor (Hector Babenco). Hurt venceu como melhor ator.
Foto: 2015 ICRA LLC
"Central do Brasil"
Depois de levar o Urso de Ouro na Berlinale, "Central do Brasil", de Walter Salles, partiu para uma triunfante carreira internacional. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1999, o drama sobre a amizade de um menino abandonado e uma mulher desiludida de meia-idade levou também a indicação inédita de melhor atriz para Fernanda Montenegro. Mas nenhum dos dois prêmios foi para o Brasil.
Foto: picture-alliance/dpa/Buena_vista
Melhor curta-metragem
Brasileiros ainda emplacaram duas indicações em melhor curta-metragem. Diretor de sucessos como "A era do gelo 2", o carioca Carlos Saldanha (foto) foi indicado, em 2002, pela animação americana "Gone nutty". "Uma história de futebol" também levou Paulo Machline aos finalistas do prêmio, em 2001. O curta recria passagens da infância de Pelé e de Zuza, seu companheiro de pelada na cidade de Bauru.
Foto: Charley Gallay/Getty Images
Melhor direção
Apesar do sucesso comercial no exterior, "Cidade de Deus" foi esnobado ao prêmio de filme estrangeiro em 2004. Mas o frenético retrato do crescimento do crime organizado na favela carioca teve indicações a melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor fotografia. Fernando Meirelles também foi indicado como melhor diretor, mas quem levou a estatueta foi Peter Jackson, por "O Senhor dos Anéis".
Foto: imago/United Archives
Melhor canção original
O primeiro brasileiro indicado ao Oscar foi o compositor Ary Barroso (foto), autor de "Aquarela do Brasil". Ele foi um dos finalistas ao prêmio pela canção "Rio de Janeiro", do filme "Brasil", em 1945 — uma produção americana. Mais de meio século depois, em 2012, Carlinhos Brown e Sergio Mendes voltaram a representar o país na categoria com "Real in Rio", parte da trilha sonora da animação "Rio".
Foto: Brasilianisches Nationalarchiv - Arquivo Nacional
Os pré-selecionados
Por anos, a seleção de inscritos na disputa pelo Oscar coube a uma comissão do Ministério da Cultura. Desde 1954, com "O cangaceiro", de Lima Barreto, foram mais de 45 títulos, mas só quatro ficaram entre os finalistas. Em 2014, "Hoje eu quero voltar sozinho" (foto), de Daniel Ribeiro, não conseguiu uma indicação. Desde 2021, a seleção passou a ser feita pela Academia Brasileira de Cinema.
Foto: D. Ribeiro
Melhor documentário
"O Sal da Terra", de Wim Wenders e Juliano Salgado, disputou o Oscar de melhor documentário em 2015. O filme retrata a história do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, pai de Juliano. O Brasil havia concorrido antes na categoria, em 2011, por "Lixo Extraordinário", que conta a história de um projeto social no aterro do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Os filmes não foram premiados.
Foto: Wim Wenders/NFP*
Candidato em 2020
"Democracia em vertigem", da diretora Petra Costa, concorreu à estatueta de melhor documentário em 2020, mas perdeu o prêmio para "Indústria americana". O filme brasileiro, incluído na lista dos melhores do ano do "New York Times", aborda a ascensão e queda do PT e a polarização entre esquerda e direita no país. Foi a última produção brasileira a ser finalista do Oscar antes de 2025.
Foto: Netlix/Divulgação
"Ainda Estou Aqui" conquista Oscar de melhor filme internacional
"Ainda Estou Aqui" já tinha feito história ao ser indicado para três categorias do Oscar. Em 2025, conquistou a estatueta de melhor filme internacional. O filme de Walter Salles, sobre a ditadura, foi é a primeira produção totalmente brasileira a disputar o prêmio de melhor filme. Anora, de Sean Baker, venceu nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz, pelas quais o Brasil também concorria.