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Acesso restrito a abrigos antiaéreos ameaça povo de Kiev

Anastasia Shepeleva
27 de outubro de 2022

Cidades ucranianas são alvos constantes de mísseis e drones russos. A capital organizou cerca de 4.500 abrigos antiaéreos. Mas sua disponibilidade deixa a desejar, e a população não se sente suficientemente protegida.

Moradores da cidade ucraniana de Odessa num abrigo subterrâneo
Moradores da cidade ucraniana de Odessa encontram refúgio num abrigo subterrâneo durante ataque em junho de 2022Foto: NurPhoto/picture alliance

"Ouviam-se fortes explosões em Kiev quando eu estava com meus filhos diante de um estacionamento subterrâneo fechado. Eles não nos deixaram entrar. Um representante dos moradores disse que a garagem tinha sido marcada como abrigo no mapa por engano, só havia carros estacionados lá", conta Viktoria Lohvynenko.

Durante o ataque de mísseis russos contra a Ucrânia em 10 de outubro, Lohvynenko teve que pedir ajuda à polícia, que "também ficou chocada". Depois que os policiais chegaram, ela e seus filhos foram autorizados a entrar no estacionamento subterrâneo. Mas a situação se repetiu durante outros ataques aéreos.

"Tive que ligar cinco vezes para a polícia e fazer denúncias. Toda vez houve discussão, mas sempre nos deixaram entrar na garagem. Agora a policia não atende nossas ligações e não podemos mais nos refugiar lá", reclama Lohvynenko, acrescentando não haver alternativas nas proximidades de sua casa.

Uma tubulação de gás passa pelo porão de seu bloco de apartamentos e outras dependências designadas como abrigos antiaéreos são salões de cabeleireiro, lojas de animais e um escritório, consequentemente fechados durante os ataques aéreos.

Nas últimas semanas, muitas regiões da Ucrânia voltaram a ser atingidas por mísseis e drones das Forças Armadas da Rússia, visando a infraestrutura civil. Segundo o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, vários mísseis foram interceptados recentemente na capital ucraniana. Ele reiterou o pedido para que a população procure abrigo, caso soem as sirenes de alarme.

O chefe do departamento de Defesa Civil de Kiev, Oleh Stovolos, afirma que atualmente a capital ucraniana dispõe de cerca de 4.500 abrigos – em 2014 eram apenas 500. Em geral, trata-se de porões, andares subterrâneos de edifícios, estações de metrô, estacionamentos e passagens subterrâneos, todos verificados pelas autoridades.

Estas divulgaram também um mapa com as localizações, para caso de emergência. No entanto, embora agora haja mais abrigos em Kiev, moradores têm reclamado que nem todos estão abertos quando é necessário.

"Processos judiciais já estão em andamento"

As autoridades locais de Kiev admitiram que há problemas de acesso a alguns abrigos. Segundo o funcionário da administração pública Roman Tkatschuk, isso se aplica principalmente a objetos de propriedade privada.

"Desde fevereiro estamos verificando constantemente os abrigos. Até removemos fechaduras e continuaremos a fazê-lo", garantiu. Caso um abrigo não estiver acessível, Tkatschuk recomenda que os moradores entrem em contato com o centro competente na capital. Ele garante que, se os responsáveis pelos locais não cumprirem com suas obrigações, as autoridades entrarão em contato com o Ministério Público ucraniano.   

"Já estão em curso vários processos judiciais contra os proprietários que não consideram necessário implementar todas as medidas de proteção civil. Atualmente, isso é considerado uma infração administrativa, mas acho que a responsabilidade criminal por violações da proteção civil deve ser introduzida", avalia Tkatschuk.

"Tivemos que ficar do lado de fora"

Mas conforme mostra a experiência dos entrevistados pela DW, os problemas de acesso aos abrigos não se limitam aos edifícios privados. Durante os primeiros meses da guerra, os abrigos nas escolas eram os locais de refúgio mais importantes para os ucranianos. Mas isso mudou assim que as aulas recomeçaram.

O bombardeio de Kiev em 10 de outubro surpreendeu Marina Lypovetska a caminho do trabalho. "Mísseis voavam, ouvia-se uma sirene e eu vi uma escola. Corri até lá e outras pessoas me seguiram. Um homem abriu a porta, mas aí a bateu imediatamente na nossa cara, dizendo que só podia deixar entrar quem estivesse com crianças. Tivemos que ficar do lado de fora", recorda Lypovetska. Por outro lado, no abrigo numa outra escola perto de sua casa qualquer um é bem-vindo, afirma.

A administração da cidade de Kiev alega que, com a retomada das aulas, os abrigos foram equipados para estudantes e funcionários. "Há carteiras escolares, livros escolares e objetos pessoais das crianças. Não é permitido estranhos entrarem", explica Tkatschuk, recomendando que a população procure outros abrigos. Ao mesmo tempo, porém, admitiu que em certos bairros de Kiev os abrigos escolares são a única maneira de buscar proteção de um bombardeio russo.

"Nossas reclamações foram ignoradas"

David Surmajyan vive num desses bairros. Mesmo antes do início da invasão russa, ele pensava que poderia se proteger numa escola em frente a sua casa. Embora esteja marcada no mapa como sendo um abrigo, nunca foi aberta a todos os moradores, com a justificativa de que os aposentos não foram devidamente preparados.

"Os abrigos agora estão equipados para crianças, mas mesmo antes disso não nos permitiram entrar por seis meses durante a guerra. Nossas queixas foram ignoradas", reclama Surnajyan.

Ele ressalta que os alunos só estão presentes parte do dia, portanto os moradores das casas vizinhas deveriam poder usar os abrigos em outros horários. "Estamos acostumados a simplesmente ficar em casa no caso de um ataque aéreo, mas muitos prefeririam estar num abrigo."

Porém o chefe da Defesa Civil Stovolos adverte que não se deve ficar em casa durante um ataque aéreo. A regra segundo a qual se deve estar num local separado da fachada da casa por pelo menos duas paredes, "só se aplica se a pessoa for surpreendida pelo bombardeio".

"As estatísticas mostram que muitos foram resgatados de porões de prédios atingidos. Como mostra o caso recente em Kiev, não sobrou nada dos quatro andares. Houve cinco mortos, todos estavam em suas casas no momento do impacto."

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