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História

Achados os destroços do último navio negreiro nos EUA

23 de maio de 2019

Navio de madeira transportou 110 pessoas da África, décadas após proibição do transporte de escravos aos Estados Unidos. Viagem teria sido uma aposta, e a embarcação foi incendiada e afundada assim que chegou ao Alabama.

Documento antigo com a árvore genealógica de um sobrevivente do naufrágio do navio negreiro Clotilda, no Alabama, nos EUA
Documento antigo com a árvore genealógica de um sobrevivente do naufrágio do navio Clotilda, no Alabama, nos EUAFoto: picture-alliance/AP Photo/J. Bennett

Uma equipe de pesquisa do Alabama confirmou ter encontrado os destroços do último navio que trazia pessoas escravizadas da África para os Estados Unidos. A viagem ocorreu décadas após o transporte de escravos para território americano ter sido proibido.

Em um comunicado em sua página no Facebook, a Comissão Histórica do Alabama afirmou que, depois de uma "investigação científica de um ano", foi capaz de identificar os destroços como sendo os da escuna de madeira Clotilda.

"A descoberta da Clotilda é uma descoberta arqueológica extraordinária", disse Lisa Demetropoulos Jones, diretora-executiva da comissão. "Descendentes dos sobreviventes do naufrágio da Clotilda sonhavam com essa descoberta há gerações."

Em 1860, o navio de madeira transportou 110 pessoas do Reino do Daomé, território que pertence atualmente ao Benin, país na costa oeste da África. O navio estava sendo operado ilegalmente, já que o Congresso dos EUA havia proibido a importação de escravos em 1808. A abolição da escravidão ocorreu somente em 1863, quando entrou em vigor o Ato de Emancipação assinado pelo então presidente Abraham Lincoln.   

O naufrágio ocorreu pouco antes da Guerra Civil Americana. Segundo a história propagada um dono de uma plantação teria feito uma aposta de que ele poderia trazer uma carga de escravos através do Oceano Atlântico.

Acredita-se que o navio tenha sido intencionalmente incendiado e afundado logo após sua chegada, nas águas do delta ao norte do porto de Mobile, no extremo sul do Alabama.

Depois de cinco anos de escravidão, e com o fim da Guerra Civil, as vítimas não conseguiram voltar para casa, mas tinham os meios para comprar pequenos lotes de terra. Eles se estabeleceram e construíram uma comunidade conhecida até hoje como Africatown.

A viagem parece ser a mais bem documentada dos transportes de africanos escravizados, com depoimentos registrados de sobreviventes que viveram até meados do século 20.

Os pesquisadores usaram registros de seguro para determinar as dimensões do navio e outras características, de acordo com a revista National Geographic, que apoiou a busca pela embarcação Clotilda.

"Somos cautelosos em nomear naufrágios que não têm mais nome ou algo parecido com um sino que contenha o nome do navio", disse o arqueólogo marítimo James Delgado. "Mas as evidências físicas e forenses sugerem fortemente que este naufrágio é a Clotilda."

Um repórter local encontrou no ano passado restos de madeiras que se pensava serem do navio Clotilda, mas análises revelaram que pertenciam a outra embarcação. A publicidade dado ao caso então ajudou a desencadear uma nova busca.

PV/ap/rtr

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