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Acordo Mercosul-UE e o lobby empresarial brasileiro

18 de julho de 2019

Alegando um gigantesco "custo Brasil", empresas têm mantido o mercado fechado no país. Sua oposição ao acordo de livre-comércio deve ser intensa, e o consumidor deve ter cuidado com argumentos falsos.

Presidentes Jair Bolsonaro e Mauricio Macri se cumprimentam na cúpula do Mercosul em Santa Fé, na Argentina
Presidentes Jair Bolsonaro e Mauricio Macri se cumprimentam na cúpula do Mercosul em Santa Fé, na ArgentinaFoto: Imago Images/Agencia EFE/J. I. Roncoroni

Os chefes de Estado e ministros do Mercosul tiveram sorte que sua primeira cúpula após a assinatura do tratado com a União Europeia foi realizada na distante Santa Fé, na mais profunda província argentina. Lá eles puderam festejar tranquilamente o acordo de livre-comércio.

Em Buenos Aires ou São Paulo, o encontro não teria se realizado em tanta harmonia. Nesses centros econômicos, os lobbies da indústria que lá mantêm suas sedes já teriam armado a ofensiva. Pois o setor manufatureiro é o que precisará se reorganizar mais intensamente, quando, em breve, as primeiras taxas de importação para carros, máquinas e bens de consumo mais valiosos baixarem.

As empresas terão que modernizar suas linhas de produção, inovar tanto nos produtos quanto no marketing e distribuição. Será um gigantesco desafio, não há dúvida. Embora esteja previsto um longo período de transição até todos os produtos da UE realmente poderem embarcar para a América do Sul livres de taxas, as companhias brasileiras já começaram a se mover.

Nos grandes escritórios de direito econômico de São Paulo, deram entrada já em 1º de julho – portanto três dias após o anúncio do acordo – os primeiros requerimentos de clientes brasileiros ansiosos para desenvolver estratégias para comercializar seus produtos na Europa.

O processo de abertura das economias mais fechadas do mundo é, no geral, um ganho para as sociedades. A pressão inflacionária diminui, já que os artigos importados são mais baratos do que os fabricados na América do Sul. No médio prazo, os produtos brasileiros voltam a ter uma chance no mercado mundial, pois os fabricantes podem se concentrar em seus pontos fortes e vantagens de localização. No curto prazo, os consumidores são os primeiros a lucrar.

Como descrito numa coluna Tropiconomia anterior, o consumidor brasileiro paga caro demais por produtos de má qualidade, péssimos serviços e falta de opções. Os principais atingidos são os mais pobres, privados da possibilidade de se abastecer, em viagens ao exterior, com artigos têxteis, aparelhos eletrodomésticos ou produtos de higiene melhores, porém mais baratos.

Os argumentos dos lobbies e sindicatos contra a abertura dos mercados, no contexto do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, são os mesmos com que, nos últimos 15 anos, eles obtiveram tarifas alfandegárias cada vez mais altas: no Brasil, a burocracia custa muito tempo e dinheiro, os impostos são mais altos que em outros lugares, e os custos salariais adicionais são os mais altos do mundo, dizem.

Sob o conceito "custo Brasil", esses argumentos têm sido evocados em conjunto, sempre que a política ou os consumidores exigem mais produtividade. Embora procedam, eles não justificam a proteção de mercado eterna para empresas improdutivas. Pois, atrás dos muros alfandegários e graças a subsídios estatais, as empresas lucram mais do que as de outros lugares do mundo.

Segundo uma enquete recém-publicada da McKinsey, por encomenda da Confederação da Indústria Alemã (BDI), os lucros brutos de multinacionais de porte global, entre 2000 e 2017, foram maiores em suas subsidiárias na Argentina (18%) e Brasil (14%) do que na Malásia (11%) ou China (8%), por exemplo.

Resumindo: os conglomerados ganham mais com seus poucos produtos, de qualidade mediana e caros, do que os que se expõem à concorrência em mercados. Muitas companhias da Europa também se adaptaram aos mercados fechados do Brasil e Argentina, produzindo e vendendo itens que deixaram de oferecer nos países industrializados, e cujos custos de investimento há muito estão amortizados.

Os consumidores brasileiros deveriam levar isso em consideração quando, previsivelmente, em breve forem instados a proteger a "produção nacional", por estarem em jogo produtos e postos de trabalho "brasileiros". Os argumentos são simplesmente falsos.

Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

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