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Adam Green: das paradas de sucesso aos palcos alemães

Mariana Ribeiro2 de abril de 2006

O cantor nova-iorquino que ficou conhecido pelos hits "Friends of mine" e "Emily" esgota bilheterias em sua turnê pela Alemanha. A voz grave e o jeito desengoçado são mais famosos na Europa do que nos Estados Unidos.

Adam Green em entrevista à Deutsche WelleFoto: Thomas Berger

A aparência quase sempre sonolenta parece ter um motivo especial desta vez. "Dormi muito mal esta noite", diz Adam Green ao chegar para a entrevista. "É um show atrás do outro, e a gente acaba indo para a cama muito tarde todos os dias. Eu não sei se acabei de acordar ou se ainda estou dormindo", e justifica a lentidão da voz naturalmente grave.

Green de jaqueta ('full of danger?')Foto: Thomas Berger

Rosto coberto pelos cabelos, calças jeans, camisa de botão, sapatos de couro, boina e uma jaqueta, como não poderia deixar de ser. Adam coleciona jaquetas – "mas no momento estou me dedicando mais aos chapéus". Algum motivo especial para o título de seu último álbum, Jacket full of danger? "Tenho sentido o perigo ultimamente. Eu mesmo sou um homem muito perigoso."

Mas, à primeira vista, Adam não parece oferecer grandes riscos. Fora dos palcos, é difícil reconhecer nele o nova-iorquino de voz grossa, que dança desengonçado, esgota ingressos nas bilheterias e se dedica à música desde os 11 anos de idade.

E ele diz que não se imagina fazendo outra coisa: "Eu me dedico à carreira musical desde muito pequeno. Realmente não me lembro de como era a vida antes de me tornar cantor. Não freqüentei o colégio como as pessoas fazem quando querem trabalhar com algo diferente de música".

Adam... Grün?

No palco do cinema Lichtburg, em EssenFoto: Thomas Berger

O relacionamento de Adam Green com a Alemanha é bastante pitoresco. Sua bisavó, Felice Bauer, foi noiva de Franz Kafka e chegou aos Estados Unidos como refugiada da Segunda Guerra Mundial. Apesar de seu avô ter nascido em Berlim, Adam diz ter aprendido mais sobre a Alemanha com uma ex-namorada de Hamburgo do que dentro de casa.

No que diz respeito à cultura alemã, Adam Green se interessa particularmente pelas artes. "Gosto de muitos pintores, os expressionistas alemães são os meus favoritos." No campo da música alemã, Adam também tem seus preferidos: "Ammon Düül... Eu escuto bastante. Quando eu era adolescente, ganhei Paradieswärts Düül. É bem psicodélico".

"How may I help you, sir?"

Visitando seu irmão em férias, em Nova York, no ano passado, Adam Green resolveu que queria trabalhar como atendente na rede de cafeterias Starbucks. "Achei que seria uma boa oportunidade para aprender a fazer cappuccino e conhecer pessoas estranhas. Na verdade, eu acho que fiz isso para me lembrar que não gosto de fazer esse tipo de trabalho. Mas eu fui despedido depois de algumas semanas." Motivo? Adam era muito lento e não conseguia dar conta de atender todos os clientes da fila, quando a cafeteria ficava cheia, pela manhã.

Adam foi demitido por ser muito lento. "I can be really slow..."Foto: Thomas Berger

Na cidade que não dorme, onde os engravatados businessmen e as não menos elegantes businesswomen precisam de uma dose rápida de cafeína pela manhã para entrar no ritmo, o lugar de Adam Green não pode mesmo ser atrás do balcão. Em cima dos palcos, o jeito de "pacato cidadão" até recebe aplausos. Como atendente, só caras feias.

Quem pensa que a experiência foi em vão se engana. "Eu terminei de compor a música Jelly good quando estava fazendo a limpeza, no final do dia. Meu poder de meditação é impressionante. Simplesmente consigo abstrair a realidade quando estou pensando numa nova canção. E me sinto constantemente inspirado."

Quando a telona dá lugar ao palco

No dia 29 de março, Adam Green se apresentou no cinema Lichtburg, em Essen. A maior sala de exibição da Alemanha, com 1250 lugares, teve todas as suas cadeiras ocupadas para o concerto. Os ingressos foram esgotados meses antes do previsto.

O show, marcado para começar às 20h, teve início às 21h40. Uma banda e um artista solo – ambos de Nova York – encarregaram-se de fazer a abertura do evento e de entreter o público antes da grande performance.

E, para isso, utilizaram-se não só da música, mas também de low budget videos, pequenas esquetes feitas com ilustrações pouco sofisticadas que contam desde o drama de um músico que foi engolido por um peixe até a história do comunismo, com direito a desenhos de Karl Marx e Friedrich Engels.

Pouco agradável aos olhos, menos ainda aos ouvidos para alguns, mas o público se mostrou simpático, riu e até aplaudiu a atuação bastante experimental.

Adam subiu ao palco, mas ninguém se levantou da cadeira. Mesmo quando o clima esquentava, o máximo de movimentação que se percebia eram os pés que batiam no chão, marcando o ritmo da música. O próprio Adam explica o comportamento inusitado para um concerto de música:

"É possível perceber diferenças de público de uma noite a outra. Mais do que isso, a arquitetura do lugar, por qualquer razão, faz com que as pessoas fiquem mais agitadas, mais calmas, com que elas prestem mais atenção ou fiquem mais dispersas. Eu não gosto de tocar distante do público, prefiro os teatros ou as casas de espetáculos onde a distância não é muito grande."

Expectativas? Não... Adam prefere não pensar muito em como as coisas acontecerão durante o show. "Gosto de me deixar surpreender. Prefiro não planejar muito e me soltar em cima do palco."

Toda luz é pouco

Ao contrário do que se pode imaginar, Adam Green tem fãs de todas as idades. Jovens, adultos e idosos se misturam na massa do público que assiste, canta junto e aplaude a performance do artista.

Adam Green e bandaFoto: Thomas Berger

Apesar de se apresentar com uma banda, o foco do show fica todo em Adam. Os demais músicos quase não se movimentam no palco e estão sempre na penumbra, enquanto os canhões de luz são direcionados a Adam o tempo inteiro.

Mas Adam parece disposto a dividir as atenções. Na última música, Dance with me, o cantor convoca uma de suas fãs a subir no palco e dividir a cena com ele. A palavra de ordem é mexer o corpo e se divertir – movimentos, passos, ritmo não importam.

"A minha intenção é deixar as pessoas contentes. Pode parecer engraçado, porque a minha música é à vezes bastante obscura, mas, no final, tudo o que eu quero mesmo é alegrar o meu público."

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