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Cultura e religião

(dpa/sm) 31 de março de 2008

A motivação dos diretores da encenação era chamar atenção para o caráter explosivo e para a atualidade da obra condenada pelos fundamentalistas islâmicos. Estréia transcorre sem conflitos.

Atores Caroline Lux, Robert Gallinowski e Tobias Rott na estréia de 'Versos Satânicos'Foto: Picture-Alliance /ZB

Vinte anos após a publicação do polêmico livro Versos Satânicos, do escritor indo-britânico Salman Rushdie, a primeira adaptação da obra para teatro estreou em Potsdam, na Alemanha. Apesar dos temores de possíveis atos de protesto ou conflitos, a apresentação transcorreu sem incidentes. Após quatro horas de espetáculo, o público aplaudiu generosamente a produção do Hans Otto Theater e os dois atores protagonistas, Robert Gallinowski e Tobias Rott.

Rushdie foi jurado de morte pelos fundamentalistas muçulmanos em 1989, quando o aiatolá Khomeini pronunciou um edito religioso (fatwa) contra o escritor, sob alegação de que a obra representava uma desmoralização do islamismo. Na época, Khomeini lançou uma recompensa de milhões de dólares a quem executasse Rushdie.

Ensaio da peça em PotsdamFoto: AP

Antes da apresentação em Potsdam, a polícia não tinha indícios concretos de atos de protesto ou possíveis ameaças. Mesmo assim, a segurança do local foi reforçada. O autor havia sido convidado para a estréia, mas não compareceu, conforme o esperado.

Reflexão sobre fé e dúvida

Em sua adaptação para o teatro, os diretores Uwe Eric Laufenberg e Marcus Mislin encurtaram radicalmente o romance de 700 páginas, concentrando-se em temas centrais como a fé e a dúvida. A peça composta por cenas e episódios relativamente soltos também aborda o surgimento das religiões e outras questões, como migração e adaptação cultural.

Tomando como exemplo dois indianos exilados em Londres, Rushdie filosofa nesta obra sobre o significado de religião e misticismo, poder e dinheiro, realismo e utopia, vida e morte. No início da obra, os protagonistas Gibril e Saladin, dois atores, "sobrevivem" à queda de um avião ocasionada por terroristas: Gibril se torna um anjo e Saladin um sátiro satânico.

Versos satânicos é a denominação de versos supostamente eliminados do Alcorão. Nesses versos, o profeta Maomé – que figura no livro praticamente sem disfarce, como Mahound, anunciador de uma nova religião – teria dado ouvidos a satã e reconhecido, além de Alá, três deusas de Meca. Como isso não se conciliava com o monoteísmo defendido por ele próprio, Mahound reconheceu seu erro: "Esses versos não eram divinos, mas sim satânicos".

Cultura na mira do fundamentalismo

Salman RushdieFoto: AP

Após o pronunciamento do edito religioso por Khomeini, o jurado de morte Rushdie teve que viver durante décadas escondido. Na Alemanha, inicialmente nenhuma editora se atreveu a publicar o romance. Diversos tradutores da obra foram alvos de atentado.

Sobretudo desde os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York, políticos geralmente vêm colocando o medo de terrorismo acima da cultura. Em 2006, a ópera Idomeneo, de Mozart, foi excluída da programação da Deutsche Oper de Berlim, pois a cena final apresentava a cabeça cortada do profeta Maomé.

A publicação de caricaturas depreciativas do islamismo em jornais da Dinamarca e de outros países europeus vem sendo motivo de protestos e conflitos desde 2006. Em Berlim, uma exposição de artistas dinamarqueses foi alvo de agressões por causa de uma caricatura de Meca.

Respeito à religião ou liberdade de expressão?

Antes da estréia de Versos Satânicos em Potsdam, as reações das representações islâmicas na Alemanha tinham sido variadas. O Conselho Islâmico para a República Federal da Alemanha havia repudiado a iniciativa, considerando a encenação da obra de Rushdie uma provocação. O Conselho Central dos Muçulmanos conclamou todos à calma.

Robert Gallinowski no papel de Gibril FarishtaFoto: AP

O diretor Uwe Eric Laufenberg explicou sua motivação, afirmando que pretendia chamar a atenção para a atualidade e para o caráter explosivo do romance. Muita gente teria condenado o livro sem tê-lo lido. Como justificativa de uma possível provocação, ele citou Rushdie: "A tarefa do artista é nomear o inominável, desmascarar engodos, tomar posição, desencadear discussões, construir o mundo e impedi-lo de adormecer".

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