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Aeroportos sofrem bombardeios no norte da Etiópia

14 de novembro de 2020

Duas cidades são alvo de foguetes em conflito que já causou centenas de mortes e mais de 14 mil refugiados. Há temores de que combates provoquem guerra civil e nova tragédia humanitária.

Homens armados numa caçamba de caminhão
Guerrilheiros etíopes que lutam ao lado do governo etíope contra forças da região do TigréFoto: Eduardo Soteras/AFP/Getty Images

O governo da Etiópia afirmou neste sábado (14/11) que combatentes da região de Tigré, no norte do país, dispararam foguetes nas cidades de Bahir Dar e Gondar, na região de Amhara.

"Na madrugada de 13 de novembro de 2020, foguetes foram disparados contra as cidades de Bahir Dar e Gondar", anunciou pelo Twitter a força-tarefa especial criada para fornecer informações sobre as operações realizadas em Tigré pelas forças do governo. O comunicado também ressaltou que as áreas do aeroporto em ambas as cidades sofreram "danos duradouros" como resultado do ataque.

As tropas da região de Amhara têm lutado ao lado das forças do governo contra soldados leais ao partido que governa Tigré, a Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF, na sigla em inglês) em um conflito que eclodiu no início deste mês e que provoca preocupação internacional.

O governo regional de Tigré afirmou em declaração divulgada pela TV que tais ataques continuarão "a menos cessem que os ataques contra nós".

Os aeroportos de Bahir Dar e Gondar são usados ​​para aeronaves militares e civis. Moradores teriam ouvido tiros na noite de sexta-feira. No entanto, isso ainda não foi confirmado. Um médico de um hospital em Gondar, falando sob condição de anonimato disse que "houve pelo menos dois mortos" e "10 a 15 feridos". Ele afirmou que os ferimentos que viu foram provocados por uma explosão, acrescentando que "não há civis" entre os mortos ou feridos. Um comunicado do governo regional de Amhara informou que "a situação foi controlada em poucos minutos" e "nossas cidades estão em paz".

Conflito pode se alastrar

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, lançou uma ofensiva militar contra a região de Tigré em 4 de novembro após acusar as tropas locais de Tigré de atacarem campos militares federais na área. A TPLF nega as acusações.

Tigré é um estado federal com muitos poderes autônomos, cujo nome é derivado da etnia tigré, que compõe maior parte da população local, que, por sua vez, integra cerca de 6% da população de 110 milhões de pessoas da Etiópia.

O conflito é resultado de um longo mês de tensões em meio a mudanças de poder, após o premiê Abiy Ahmed, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, assumir o cargo dois anos atrás. O governo regional de Tigré, que já liderou a coalizão de governo do país, rompeu com Ahmed no ano passado, e governo federal agora diz que a liderança da TPLF deve ser presa e ter seu arsenal destruído.

Alerta da ONU

As Nações Unidas e a União Africana expressaram preocupação de que os combates possam se espalhar para outras regiões e desestabilizar a já precária região.

Centenas de pessoas já foram mortas nos confrontos, e mais de 14.500 refugiados buscaram abrigo no vizinho Sudão.

Na quinta-feira, a Anistia Internacional confirmou relatos de um "massacre" de civis na região de Tigré, atribuído a membros da TPFL, o que é desmentido pelo governo regional. Após o relatório da Anistia confirmar o incidente, a alta comissária dos direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, pediu uma investigação sobre os alegados assassinatos em massa.

"Se for confirmado que foram causadas deliberadamente por uma das partes do conflito, essas mortes de civis certamente equivaleriam a crimes de guerra", disse Bachelet em nota, disse Bachelet em um comunicado divulgado nesta sexta-feira.

Tigré é afetada por um blecaute de comunicações desde o início da operação, tornando difícil verificar as alegações de ambos os campos sobre a situação no local.

A comunidade internacional vem alertando contra tensões étnicas. O escritório da ONU para prevenção de genocídio condenou relatos sobre "ataques direcionados contra civis com base em sua etnia ou religião" na Etiópia, alertando pra uma retórica que pode definir uma "trajetória perigosa, que aumenta o risco de genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade.''

MD/afp/rtr/ap