Partido populista de direita alemão não poderá enviar políticos para fundação que administra o antigo campo de concentração de Bergen-Belsen, em respeito a judeus sobreviventes do nazismo.
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O partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) deverá ser excluído da fundação que administra o memorial no antigo campo de concentração de Bergen-Belsen.
"A AfD é um partido revisionista, que não se coaduna com nosso propósito de honrar as vítimas", disse Jens-Christian Wagner, diretor da Fundação de Memoriais da Baixa Saxônia. Excluí-lo será "o menor dos males", afirmou.
Todo grupo político representado no Legislativo estadual da Baixa Saxônia tem o direito autônomo de colocar um enviado seu no conselho da fundação. Depois que a AfD entrou para o órgão legislativo, contudo, nas eleições regionais de outubro último, Wagner propôs uma emenda na lei.
A Alemanha nazista foi responsável pelo extermínio sistemático de cerca de 6 milhões de judeus. Destes, cerca de 50 mil perderam a vida no campo de Bergen-Belsen, de 1940 a 1945, entre eles a adolescente Anne Frank, que, com seu célebre diário, virou um símbolo dos horrores do Holocausto.
Alguns deputados da AfD são acusados de negação do Holocausto, considerada crime pela lei alemã. Após a eleição na Baixa Saxônia, sobreviventes do Holocausto, sobretudo de Israel, França e Estados Unidos, expressaram alarme diante da perspectiva de políticos da legenda populista de direita terem qualquer envolvimento com o memorial.
Parlamentares dos outros quatro partidos representados – União Democrata Cristã (CDU), Partido Social-Democrata (SPD), Verde e Liberal Democrático (FDP) – reagiram com uma proposta, a ser transformada em lei nas próximas semanas.
Segundo ela, o número de políticos estaduais no conselho se reduzirá a quatro, e cada indicação terá que ser votada no Parlamento.
AfD "discriminada"
Desde que conquistou assentos em parlamentos regionais e entrou para o Parlamento alemão, no segundo semestre de 2017, o partido acusa a imprensa de cobertura unilateral, e critica os partidos estabelecidos por se recusarem a trabalhar com seus representantes.
Wagner explicou que preferiria reduzir a um ou dois o número de delegados políticos em sua fundação, pois permitir que apenas quatro de cinco partidos enviem seus políticos poderá impulsionar a narrativa de "vítima" da própria Alternativa para a Alemanha.
Originalmente o deputado Klaus Wichmann pretendia representar a AfD no conselho do memorial. Nesta segunda-feira (12/02), ele comentou a interdição: "Toda regulamentação legal que só tem como meta excluir uma facção do discurso público não está de acordo com os princípios do Estado de direito." Em sua opinião, "os velhos partidos não têm mais ideias para atacar a AfD".
No fim das contas, Jens-Christian Wagner considera sensato excluir a legenda de ultradireita do conselho da Fundação de Memoriais da Baixa Saxônia. "É uma questão de definir qual é o menor dos males: dar à AfD a oportunidade de se apresentar como vítima, ou ter no conselho um partido que argumenta publicamente contra a missão da fundação." "Eu prefiro passar sem a AfD", concluiu.
AV/dw/dpa
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Deputados da AfD no Bundestag
Entre os 94 parlamentares eleitos para o Parlamento alemão pelo partido populista de direita há vários nomes que chamara a atenção por declarações polêmicas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Stratenschulte
Alice Weidel
Antes de ser escolhida para encabeçar a lista de candidatos da AfD, em abril de 2017, esta consultora de empresas de 38 anos era praticamente desconhecida no cenário político alemão. Ela é natural de Gütersloh e vive com a parceira e os dois filhos desta na Alemanha e na Suíça. Weidel trabalhou como analista para gestão de patrimônio no banco Goldman Sachs, em Frankfurt.
Foto: Reuters/A. Schmidt
Alexander Gauland
Até 2013, o jurista Alexander Gauland, de 76 anos, foi membro da CDU. Natural de Chemnitz, este conservador-nacionalista ficou conhecido por comentários xenófobos. Ele disse que ninguém gostaria de ter alguém como o jogador negro Jérôme Boateng como vizinho e sugeriu que a encarregada do governo para assuntos de integração, Aydan Özoguz, perdesse a cidadania alemã e fosse "descartada" na Anatólia.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Beatrix von Storch
Beatrix Amelie Ehrengard Eilika von Storch é uma advogada de 46 anos e nasceu numa família nobre, a Casa de Oldenburg, em Lübeck, no norte da Alemanha. Ela é uma das poucas mulheres da AfD no Bundestag. Esta fundamentalista cristã é contra o aborto e causou polêmica com a sugestão de atirar contra refugiados, inclusive mulheres e crianças, que tentarem cruzar a fronteira da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Murat
Wilhelm von Gottberg
Este ex-policial de 77 anos chegou a ser prefeito pela CDU no leste da Alemanha, mas deixou o partido em 2011. Ele foi por muito tempo vice-presidente da associação dos alemães que, com o fim da Segunda Guerra, foram expulsos dos antigos territórios alemães no Leste Europeu e chamou o Holocausto de "instrumento eficaz para a criminalização dos alemães e de sua história".
Foto: picture-alliance/dpa/T. Brakemeier
Petr Bystron
Este consultor de empresas de 44 anos é natural da antiga Tchecoslováquia e, até 2013, integrava o Partido Liberal Democrático. Embora seja considerado um moderado, ele é, até onde se sabe, o único político da AfD que é vigiado pelo serviço secreto interno da Alemanha. O motivo: sua proximidade com o Movimento Identitário, que defende a preservação das "identidades nacionais europeias".
Foto: picture-alliance/dpa/A. Weigel
Mariana Harder-Kühnel
Em seu site, esta advogada de Hessen defende a "proteção do cidadão, o fortalecimento da família e a restauração do Estado de Direito". Na página do escritório de advocacia de seu marido, onde ela trabalha, o currículo dela não menciona a militância na AfD.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Leif-Erik Holm
Este ex-radialista (ao centro na foto) de 47 anos é natural de Schwerin, no nordeste da Alemanha, e considerado um moderado. Ele já foi o assessor da agora também deputada federal pela AfD Beatrix von Storch. Até esta eleição, ele foi o líder da bancada da AfD em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, onde o partido é a principal força de oposição ao governo estadual.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Bockwoldt
Martin Hohmann
Este político de 69 anos, natural de Fulda, é o único deputado da AfD que já ocupou um mandato no Bundestag, na época pela CDU. Em 2003, no Dia da Unidade Alemã, ele fez um discurso que foi considerado antissemita. Como consequência, acabou excluído da bancada da CDU no Parlamento alemão e, mais tarde, do partido. Ele é frequentemente associado à ala ultradireitista da AfD.
Foto: Imago/Hartenfelser
Jens Maier
Este juiz do Tribunal Regional de Dresden tem 55 anos. Referindo-se ao polêmico deputado estadual Björn Höcke, líder da AfD da Turíngia, ele mesmo se considera "o pequeno Höcke". Maier defende o fim do que chama de "culto da culpa" dos alemães e adverte contra a "criação de povos misturados", pelo que foi repreendido pela corte onde trabalha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert
Armin-Paul Hampel
Este político de 60 anos foi jornalista da emissora pública ARD. É amigo de Alexander Gauland e, na condição de membro da cúpula nacional da AfD, votou contra a exclusão de Björn Höcke por sua crítica ao Memorial do Holocausto, em Berlim. Ele mantém ligações com organizações de ultradireita na Alemanha, como uma que é vigiada pelo serviço secreto interno.
Foto: Reuters/W. Rattay
Frauke Petry
A co-presidente e rosto mais conhecido da AfD anunciou, logo após a eleição, que não integrará a bancada dos populistas no Bundestag e, um dia depois, que deixará o partido, mas sem definir data. Esta química de formação foi casada com um pastor evangélico, com quem tem quatro filhos e de quem se separou em 2015. Ela casou de novo e teve um quinto filho. Petry é associada à ala moderada da AfD.