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AfD abraça o radicalismo em campanha eleitoral

25 de maio de 2021

Partido populista de direita alemão decide, por ampla maioria, ir para as eleições gerais de setembro sob a liderança de sua ala mais radical. Na agenda, um discurso abertamente contra UE, máscaras e imigrantes.

Alice Weidel e Tino Chrupalla em entrevista
Alice Weidel e Tino Chrupalla encabeçam chapa da AfD para as eleições alemãs Foto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance

A ala mais extremista do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) prevaleceu e conseguiu apontar, nesta terça-feira (25/05), os dois nomes que encabeçarão a chapa da legenda nas eleições gerais deste ano.

Em setembro, a Alemanha realiza eleições gerais que definirão quem será o sucessor de Angela Merkel, que já anunciou que não concorrerá após 16 anos no poder. A AfD, hoje maior bancada de oposição no Parlamento, tem cerca de 10% das intenções de voto.

Os escolhidos para liderar a AfD na disputa foram Tino Chrupalla, atual copresidente da legenda, e Alice Weidel, líder da bancada do partido no Parlamento. Eles tiveram 70% de apoio de seus correligionários, numa votação online.

Chrupalla e Weidel fazem parte da ala mais à direita da AfD, leal a Björn Höcke, um político incendiário que faz campanha contra o isolamento social, o uso de máscaras, defende uma linha dura no assunto imigração e quer a saída alemã da União Europeia.

Em seu livro, por exemplo, Höcke encampou ideias da ideologia de extrema direita, como a chamada "grande troca populacional", uma teoria da conspiração que sustenta que governos europeus, com a cooperação das "elites", conspiram para trocar a população branca por imigrantes de países árabes, muçulmanos ou africanos.

Höcke também defendeu no livro que imigrantes e refugiados que vivem na Alemanha devem ser expulsos do país, e que "não será sempre possível fazer isso sem a força e sem criar cenas que não são bonitas".

Guinada ainda mais à direita

O resultado mostra que a influência da Der Flügel ("a ala”, como é conhecida a facção) ainda é enorme, apesar de ter sido ordenada sua dissolução oficial depois que o Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV, serviço secreto interno alemão) colocou o grupo na lista de entidades extremistas sob observação do órgão.

Com a escolha, afirmam observadores, a AfD assumiu a aposta de acomodar sua base extremista, atualmente centrada em Höcke, correndo o risco de assustar os eleitores conservadores mais centristas que almeja.

Atualmente em cerca de 10%, as intenções de voto na AfD estão abaixo do resultado obtido em 2017, quando, com 13% de apoio das urnas, foi o terceiro partido mais votado. Desde então, seus correligionários estão imersos em divisões sobre o quão radical a legenda deve ser. E, nesta queda de braço, a ala mais radical prevaleceu.

Tradicionalmente, apenas partidos com reais chances de elegerem o chanceler federal indicam de antemão seu candidato para o cargo. A eleição do chanceler federal alemão é indireta e realizada pelo Bundestag (Parlamento). Com a indicação de um nome antes do início da campanha, os partidos deixam claro para os eleitores quem eles indicarão para a eleição indireta no Bundestag caso venham a liderar uma coalizão de governo.

Negacionismo pandêmico

Durante a pandemia, a AfD frequentemente tentou capitalizar o descontentamento popular sobre as medidas de restrição. Alguns membros do partido chegaram a se unir a manifestações antivacina e antilockdown no país.

Na convenção realizada em abril, os delegados do partido apoiaram uma resolução com o slogan "Alemanha, mas normal", evocando o retorno a uma suposta norma ou normalidade alemã.

No tema pandemia, o manifesto inclui o repúdio ao que o partido chamou de "políticas de medo", como o lockdown, e à "obrigação do uso de máscara", medida que comprovadamente evita a propagação do coronavírus.

Durante a convenção, o tema da liberdade individual foi um foco recorrente. Os correligionários observaram com orgulho que 570 deles se reuniram pessoalmente em Dresden, ao contrário de outros partidos alemães, que insistiram em eventos online neste ano – o que é cientificamente recomendado para minimizar a propagação de um vírus que matou quase 90 mil pessoas na Alemanha.

Além da rejeição às máscaras, os membros do partido concordaram em uma plataforma que se opõe a pressionar as pessoas para obter testes, vacinas ou aderir a aplicativos de rastreamento e participar de programas de  "passaportes de vacinação".

Plataforma anti-UE

A AfD decidiu, além disso, por uma plataforma solidamente anti-UE para as eleições de setembro.

"Consideramos necessária a saída da Alemanha da União Europeia e o estabelecimento de um novo grupo econômico e de interesse europeu", afirmou o partido em uma resolução.

É a primeira vez que o partido pede tão claramente uma saída da Alemanha da UE em uma plataforma eleitoral. 

O partido anti-islã e anti-imigração votou também a favor da proibição total da entrada de parentes de refugiados já aceitos na Alemanha.

Os membros da legenda concordaram em manifestar-se contra "qualquer reunificação familiar para refugiados", revisando a diretriz anterior que havia solicitado que tais reuniões fossem permitidas somente em circunstâncias excepcionais.

Histórico

Embora a AfD seja hoje o maior partido de oposição no Parlamento, sua chegada ao poder é tida como improvável neste ano. Para nomear um chanceler federal, uma legenda ou várias unidas precisam ter maioria absoluta dos votos, e todos os partidos já descartam se aliar à extrema direita.

A AfD começou como um partido eurocético (contra a moeda única) e ganhou um impulso político durante a crise migratória de 2015. Mas isso também atraiu muitos membros mais alinhados a políticas identitárias.

Brigas internas irromperam, e membros foram removidos – alguns se envolveram na negação do Holocausto ou demonstraram simpatia aberta a formas de extremismo. Para muitos dentro da legenda, o slogan "Alemanha, mas normal" é um sinal de que o partido está voltando aos valores conservadores.

O partido atingiu seu auge nas últimas eleições na Alemanha, em 2017, quando garantiu cerca de 13% dos votos, entrando no Parlamento pela primeira vez como maior partido de oposição.

Mas a AfD perdeu apoio à medida que a Alemanha se recuperava da pandemia do coronavírus. E ultimamente o partido vem sendo assombrado por divisões internas e acusações de vínculos com grupos neonazistas.

As pesquisas mais recentes apontam para um apoio de 10% para a AfD. À frente nas pesquisas de opinião está a chapa CDU/CSU de Merkel, com 27,5%, seguida pelo Partido Verde, que registrou 24% das intenções de voto.

rpr/cn (DPA, ots)

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