AfD demite ex-porta-voz que sugeriu matar migrantes
29 de setembro de 2020
Christian Lüth já havia sido suspenso pelo partido antimigração alemão em abril, após se descrever como "fascista". Agora, ele protagoniza novo escândalo ao afirmar que migrantes devem ser mortos "a tiros" ou "com gás".
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O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) anunciou na segunda-feira (29/09) que decidiu demitir Christian Lüth da legenda. Ex-porta-voz do partido, ele já havia sido suspenso do posto em abril, após se descrever como um "fascista" e se gabar de sua "ascendência ariana" numa conversa privada.
Na segunda-feira, Lüth voltou aos holofotes após ser acusado de ter afirmado que "quanto pior a Alemanha estiver, melhor será para a AfD" e sugerindo que migrantes deveriam ser mortos "a tiros" ou "por gás".
As frases constam numa longa reportagem da emissora ProSieben sobre a cena de extrema direita da Alemanha. No vídeo, é possível ouvir os comentários durante a conversa entre um homem e a youtuber alemã Lisa Licentia, em fevereiro deste ano, em um bar de Berlim. O rosto de Lüth não é mostrado nas imagens. A emissora se refere a ele como um "um alto funcionário da AfD", mas no mesmo dia o jornal Die Zeit identificou o interlocutor como sendo Lüth. Os comentários foram feitos quando ele ainda desempenhava a função de porta-voz.
Durante a conversa, Licentia perguntou a Lüth se era de interesse da AfD que mais migrantes fossem para a Alemanha. "Sim. Porque a AfD tem melhores resultados."
"Discutimos isso por um longo tempo com Gauland, quanto pior para a Alemanha, melhor para a AfD", disse Lüth, em referência a um dos líderes da bancada da AfD no Parlamento alemão, Alexander Gauland. "Nós podemos atirar em todos depois. Ou usar gás, ou qualquer coisa. Não faz diferença para mim", diz o homem identificado como Lüth.
Fundada em 2013, a AfD tem como principal bandeira o combate à imigração. A legenda registrou um crescimento acentuado e se tornou a terceira maior força do Parlamento alemão depois da crise dos refugiados de 2015.
Após a divulgação da reportagem, Gauland, o colíder da bancada da AfD no Parlamento, afirmou que os comentários eram "inaceitáveis” e "incompatíveis com os objetivos e políticas da AfD". Ele também negou que tenha "endossado" os comentários, classificando a acusação como "absurda e totalmente fictícia".
Nos últimos meses, Lüth, que desempenhou o papel de porta-voz da AfD entre 2013 e 2018 e posteriormente de porta-voz da bancada do partido no Parlamento, foi colocado numa "geladeira" pela AfD. Segundo o jornal Die Zeit, ele não havia sido efetivamente demitido, apenas suspenso. Seu declínio começou em abril, quando foram reveladas mensagens de Whatsapp que ele havia trocado com uma mulher.
Nelas, além de se descrever como um "fascista", Lüth se gabava de ser "um ariano" e de ter laços familiares com Wolfgang Lüth, um célebre comandante de submarinos da Marinha da Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Nas mensagens, Christian Lüth, no entanto, descreveu o comandante como seu "avô", mas os filhos ainda vivos de Wolfgang apontaram para a imprensa que o capitão era na realidade tio-avô do ex-porta-voz.
Depois da má publicidade do caso, a AfD, segundo diversos veículos da imprensa alemã, removeu Christian Lüth do posto altamente visível de porta-voz da bancada do partido. Várias figuras da AfD já estavam insatisfeitas com o porta-voz, temendo que a simpatia que ele mostrava pelo nazismo gerasse repercussões negativas e pela sua proximidade com Gauland. Frauke Petry, uma ex-líder que rompeu com o partido, contou que a executiva da legenda sabia desde 2016 que Lüth gostava de fazer a saudação nazista em público.
Segundo a imprensa alemã, nas últimas semanas, antes da eclosão do novo escândalo, a liderança do partido vinha considerando tirar Lüth da "geladeira” e transferi-lo para algum outro posto na AfD.
JPS/ots
Os principais partidos alemães
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Verdes, Esquerda e Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com as classes trabalhadoras. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
Foto: Thomas Banneyer/dpa/picture alliance
União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não conta com diretório local. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
Foto: Peter Kneffel/dpa/picture alliance
Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance
Partido Liberal Democrático (FDP)
O Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". O partido é tradicionalmente um membro minoritário de coalizões de governo federais
Foto: Hannes P Albert/dpa/picture alliance
A Esquerda (Die Linke)
Die Linke (A Esquerda, em alemão) surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
Foto: DW/I. Sheiko
Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam por falas incendiárias, a legenda tem vários diretórios classificados oficialmente como "extremistas" pelas autoridades
Foto: Martin Schutt/dpa/picture alliance
Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) é um partido fundado em janeiro de 2024 pela mulher que lhe dá o nome, uma ex-parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda) que defende uma mistura de política econômica de esquerda e retórica social de direita. Nas suas primeiras eleições, o partido tomou boa parte do espaço que era ocupada pela Esquerda.
Foto: Anja Koch/DW
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Heimat (Pátria), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violetas, que reivindica uma política espiritualista.