AfD não expulsa político que criticou memória do Holocausto
10 de maio de 2018
Comitê de arbitragem da sigla populista de direita rejeita pedido da liderança nacional e decide manter Björn Höcke no partido. Em 2017, líder regional chamou Memorial do Holocausto em Berlim de "monumento da vergonha".
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O partido populista de direita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD) informou nesta quarta-feira (09/05) que o político Björn Höcke será mantido na legenda, mesmo após declarações polêmicas feitas por ele sobre a cultura da memória do Holocausto no país.
A decisão foi tomada pelo comitê de arbitragem da AfD no estado da Turíngia, no qual Höcke é líder regional do partido. O tribunal interno analisava um pedido de expulsão feito pelo comitê executivo federal da sigla no ano passado, que acabou sendo rejeitado.
A moção alegava que o político demonstrou "afinidade com o nacional-socialismo" durante um discurso à ala juvenil do partido em janeiro de 2017, quando chamou o famoso Memorial aos Judeus Mortos da Europa, situado no centro de Berlim, de um "monumento da vergonha".
O comitê de arbitragem, no entanto, concluiu que as declarações de Höcke não indicam lealdade à ideologia nazista e que o político não violou intencionalmente os valores do partido. Por isso, não foram encontrados motivos para que ele fosse expulso.
"O pedido de expulsão foi puramente motivado por poder político, uma vez que Björn Höcke não violou nem a Constituição nem os regulamentos da legenda", afirmou Stefan Moeller, porta-voz da AfD na Turíngia.
Alemanha em 1 minuto: Blocos lembram vítimas do nazismo
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As declarações inflamatórias de Höcke costumam ganhar destaque na imprensa alemã, mas os comentários em questão, criticando o hábito de relembrar as vítimas do nazismo, geraram controvérsias até mesmo entre os membros de seu próprio partido.
Na ocasião, ele declarou que os alemães são "os únicos do mundo a ter plantado um monumento da vergonha no coração de sua capital", referindo-se ao memorial aos judeus mortos no Holocausto. "Essas políticas estúpidas de enfrentar o passado nos paralisam – tudo que precisamos é de uma virada de 180 graus na política da memória", defendeu.
Mais tarde, Höcke tentou minimizar parcialmente sua declaração, afirmando que quis dizer apenas que a Alemanha está atolada em sua própria vergonha. A justificativa não convenceu, e a liderança nacional da AfD, então sob comando de Frauke Petry, apresentou um pedido de expulsão.
Petry, presidente nacional da sigla na época, disse que Höcke era um "fardo para o partido" em razão de seus "atos isolados não autorizados"."Essa é a conclusão de um processo que já corre há tempos" disse ela, afirmando que o discurso ultrapassou os limites da tolerância democrática.
Os atuais presidentes da AfD, por outro lado, vêm defendendo Höcke. Após a decisão do comitê de arbitragem nesta semana, o colíder Alexander Gauland afirmou apenas que cabe ao comitê executivo federal discutir se deve apelar ou não do veredito.
Fontes do partido, no entanto, disseram à agência de notícias DPA que é improvável que a liderança da AfD leve o caso ao tribunal federal de arbitragem, ou mesmo discuta sobre a questão quando se reunir no próximo mês.
Stefan Möller, porta-voz de Höcke, disse esperar que o comitê federal aceite a decisão do tribunal regional e acabe com as lutas internas do partido que definiram a "era Petry".
Alguns políticos alemães reagiram com indignação ao anúncio da AfD nesta quarta-feira. "Por que esse partido excluiria alguém cujos slogans nacionalistas, racistas, antissemitas e étnicos são nada mais que a base espiritual da AfD?", declarou o deputado social-democrata Burkhard Lischka. Segundo ele, a decisão destacou o fato de que "a AfD depende de homens como Höcke".
Desde sua fundação como um partido eurocético em 2013, a AfD vem conquistando maior êxito político após voltar seu programa para temas nacionalistas e anti-imigração. Nas eleições federais em setembro do ano passado, o partido se tornou a terceira maior força no Parlamento alemão.
EK/afp/dpa/rtr/dw
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O Memorial do Holocausto
Artístico, abstrato, imponente. O monumento lembra, desde 10 de maio de 2005, que foi em Berlim que o extermínio dos judeus europeus foi planejado e organizado. Hoje, ele é uma atração turística popular.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Monumento incomum
Normalmente, monumentos celebram heróis de uma nação. O Memorial do Holocausto de Berlim é exatamente o oposto. Ele é, como afirmou o famoso escritor Martin Walser, em 2011, "o primeiro monumento construído por um povo em memória de seus crimes". A construção recebe diariamente milhares de pessoas e fica 24 por dia aberto ao público.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Kumm
Obra de arte imponente
Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas assassinaram seis milhões de judeus. O genocídio é considerado o maior crime da história. "É um enorme monumento. Ele faz juz ao crime que se destina a lembrar. E o mais incrível é que ele é uma obra de arte", disse Walser. Na foto, é possível ver, ao fundo, a Potsdamer Platz.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Como um campo ondulado
Em meados de 1998, foi apresentado o modelo para o memorial nas proximidades do Portão de Brandemburgo. Antes, houve uma concorrência. Quatro projetos foram escolhidos. Entre eles, o de um campo repleto de blocos de concreto, do arquiteto americano Peter Eisenman. O então chanceler alemão, Helmut Kohl, achou a ideia a melhor e se empenhou pela sua construção.
Foto: picture-alliance/dpa
O nascimento da ideia
A ideia para o Memorial do Holocausto nasceu em 24 de agosto de 1988, durante um painel de discussão em Berlim Ocidental. A jornalista Lea Rosh reivindicou a construção de um memorial na cidade. Sem a dedicação dela, o monumento não existiria. Ela fez do projeto seu objetivo de vida. Na foto, Rosh faz um discurso durante a inauguração simbólica das obras do monumento, em janeiro de 2000.
Foto: picture-alliance/Berliner_Zeitung
No coração de Berlim
A construção, no centro de Berlim, demorou vários anos. O monumento, de grandes dimensões, entre Reichstag, Portão de Brandenburgo e a Potsdamer Platz, é uma tarefa hercúlea. Ele foi construído em uma área de 19 mil metros quadrados, contendo 2.710 blocos de concreto, dispostos simetricamente. Todos eles ocupam a mesma área, mas têm diferentes alturas. Os custos foi de 27 milhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa
O Stonehenge de Berlim
O monumento se tornou uma atração turística. Todos os anos, centenas de milhares de turistas mergulham no mar de blocos de concreto, muitos deles judeus de diferentes países. O Memorial do Holocausto é um dos lugares mais visitados da capital alemã.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Detalhes sobre o Holocausto
Sob o campo de blocos de concreto, está um centro de informação. O museu complementa a forma abstrata da lembrança expressada pelo monumento. A exposição permanente dá nomes e rostos às vítimas, mostra destinos individuais e de famílias, suas vidas, sofrimento e morte. Não há imagens dramáticas. O terror se desenrola nas mentes dos visitantes.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Grimm
Solidão e desorientação
O quanto mais fundo a pessoa entra no labirinto ondulante, mais aumenta a sensação de desorientação existencial. O visitante perde a noção de lugar. No meio de Berlim, é possível se estar infinitamente longe de tudo. A pessoa pode se sentir solitária, ameaçada, abandonada. É uma tentativa de transmitir a sensação, em escala menor, que a maioria das vítimas do Holocausto experimentou.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Spata
O arquiteto
Peter Eisenman (82 anos), autor do memorial, se diz satisfeito que o monumento seja tão bem recebido, que crianças brinquem de se esconder, que jovens façam selfies e casais se beijem. Ele não tinha intenção de criar "um lugar sagrado". Ele também gosta do fato de que o memorial seja tão abstrato. "As pessoas não pensam nem em um campo de concentração ou sequer em algo terrível", ressalta.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Pedersen
Convite à reflexão
"Não é possível organizar a forma como as pessoas se lembram do Holocausto", diz Peter Eisenman. Alguns vêm com flores, outros rezam, se sentam nos blocos, brincam, riem ou refletem. Em Berlim, todos são livres para decidir como querem se lembrar do Holocausto. O memorial está sempre aberto e livre. A lembrança também.