AfD perde pela 1ª vez sua bancada em um Legislativo estadual
9 de maio de 2022
Partido de ultradireita alemão ficou abaixo da cláusula de barreira e perdeu sua representação no estado de Schleswig-Holstein. CDU foi a grande vencedora do pleito, e SPD teve mau resultado.
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O estado alemão de Schleswig-Holstein, no norte do país, realizou no domingo (08/05) as eleições para seu Legislativo, e o resultado trouxe uma má notícia para o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD). Pela primeira vez em sua história, a legenda perdeu a representação que detinha em um Legislativo estadual.
Vigora na Alemanha a regra da cláusula de barreira. Para ter assentos no Legislativo, seja dos estados ou federal, um partido precisa receber no mínimo 5% dos votos. A AfD em Schleswig-Holstein teve 4,4% e ficará ao menos pelos próximos cinco anos fora do parlamento local. Na eleição passada, em 2017, o partido tinha conquistado 5,9% por votos e cinco cadeiras.
Em uma entrevista na noite de domingo, Aminata Touré, candidata pelo Partido Verde, descreveu a saída da AfD do parlamento estadual como "espetacular". Em seguida, ela escreveu no Twitter: "Schleswig-Holstein conseguiu! Os nazistas estão fora!"
A AfD é um partido anti-imigração e nacionalista, e alguns setores da legenda são acusados de ter ligações com neonazistas e extremistas de direita. Uma ala do partido, chamada "Der Flügel", está sob vigilância do Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV).
Alguns analistas políticos apontam que a guerra na Ucrânia teria reduzido o apoio à legenda, que tem laços com a Rússia e com o presidente Vladimir Putin. A AfD também é contra a imposição de sanções contra Moscou e ao envio de armas para Kiev. Segundo pesquisas, algumas das pessoas que apoiaram a AfD em 2017 neste ano votaram na União Democrata Cristã (CDU), no Partido Liberal Democrático (FDP) ou ficaram em casa no dia da eleição.
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CDU foi a grande vitoriosa
O partido que se saiu melhor nas eleições de Schleswig-Holstein, estado que faz fronteira com a Dinamarca, foi a CDU. A legenda recebeu 43,3% dos votos, 11 pontos percentuais a mais do que no último pleito.
O estado é hoje governado por uma coalizão entre a CDU, o FDP e os verdes. O atual governador, Daniel Günther, da CDU, que está no cargo desde 2017, deverá seguir no comando do Executivo. A CDU terá 34 dos 69 assentos do parlamento, e precisará apenas de mais um partido para alcançar a maioria e montar uma coalizão.
Em segundo vieram os verdes, com 18,3% dos votos, mais de cinco pontos percentuais a mais do que na eleição passada, e terão 14 assentos.
Já o Partido Social-Democrata (SPD), legenda do atual chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, perdeu 11 pontos percentuais em relação ao último pleito e recebeu 16% dos votos, o suficiente para ter 12 assentos.
O resultado ruim do SPD foi interpretado como um sinal de desaprovação à gestão Scholz, que está há cinco meses no cargo e sofre críticas que o acusam de ter tido uma resposta lenta à guerra na Ucrânia e uma comunicação pouco eficiente.
O próximo teste do governo Scholz será neste domingo, quando a Renânia do Norte-Vestfália, estado no oeste da Alemanha e mais populoso do país, realiza as suas eleições. O estado é atualmente governado pela CDU, mas pesquisas sugerem uma disputa acirrada com o SPD.
bl/ek (DW, ots)
Os principais partidos alemães
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Verdes, Esquerda e Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com as classes trabalhadoras. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
Foto: Thomas Banneyer/dpa/picture alliance
União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não conta com diretório local. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
Foto: Peter Kneffel/dpa/picture alliance
Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance
Partido Liberal Democrático (FDP)
O Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". O partido é tradicionalmente um membro minoritário de coalizões de governo federais
Foto: Hannes P Albert/dpa/picture alliance
A Esquerda (Die Linke)
Die Linke (A Esquerda, em alemão) surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
Foto: DW/I. Sheiko
Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam por falas incendiárias, a legenda tem vários diretórios classificados oficialmente como "extremistas" pelas autoridades
Foto: Martin Schutt/dpa/picture alliance
Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) é um partido fundado em janeiro de 2024 pela mulher que lhe dá o nome, uma ex-parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda) que defende uma mistura de política econômica de esquerda e retórica social de direita. Nas suas primeiras eleições, o partido tomou boa parte do espaço que era ocupada pela Esquerda.
Foto: Anja Koch/DW
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Heimat (Pátria), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violetas, que reivindica uma política espiritualista.