Quem pretenda cobrir a convenção do partido populista de direita tem que permitir coleta, armazenamento e uso de informações sobre seu posicionamento político, entre outras. Agência alemã de proteção de dados investiga.
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O mais novo membro do Parlamento alemão, a populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), está pedindo aos jornalistas que se registrem para cobrir sua convenção partidária de dezembro, o acesso a dados pessoais, noticiou nesta sexta-feira (27/10) o diário alemão Stuttgarter Zeitung.
Além dos requerimentos básicos, como nome e número da carteira de jornalista, ao marcar o campo "termo de concordância" no formulário os profissionais concordam com a "coleta, armazenamento e uso" de "dados pessoais".
No texto anexo, a AfD alude ao Parágrafo 9º da lei alemã de proteção de dados, o qual define "dados pessoais" como informações sobre origens raciais e étnicas, orientação politica, crenças religiosas ou filosóficas, filiação sindical, saúde ou orientação sexual. Como exemplo, porém, a legenda cita apenas "posições politicas".
Tal consentimento é obrigatório para quem queira participar da cobertura jornalística da conferência de 2 dezembro em Hanover. A AfD assegura que os dados coletados "serão apenas utilizados para fins do trabalho partidário".
Investigação em curso
A autoridade de proteção de dados em Berlim está investigando o caso, afirma o Stuttgarter Zeitung, citando uma porta-voz do órgão. Segundo esta, se a AfD pretende coletar dos profissionais outros dados pessoais não especificados no formulário, não seria correto subordinar o credenciamento para a convenção à aceitação da exigência.
Certos especialistas consideram possível que o "termo de concordância" seja antes fruto de uma confusão do que uma tentativa intencional de coletar dados dos jornalistas. A mesma formulação costuma ser usada nas inscrições para filiação partidária, onde é aceitável inquirir sobre as visões políticas do solicitante.
Engano ou não, a Associação dos Jornalistas Alemães criticou a exigência com rigor: "Trata-se de uma intrusão inaceitável nos assuntos pessoais dos jornalistas. Exigimos que a AfD remova imediatamente a declaração requerida", declarou um porta-voz ao jornal alemão.
A AfD, que tem repetidamente acusado os veículos de comunicação tradicionais de "notícias falsas", já restringiu antes a presença de jornalistas em seus eventos partidários. Nas eleições gerais de 24 de setembro, a legenda populista obteve 12,6% dos votos, tornando-se a terceira maior bancada do Parlamento alemão e o primeiro grupo de ultradireita a integrar o órgão legislativo, em mais de meio século.
AV/afp,ots
Deputados da AfD no Bundestag
Entre os 94 parlamentares eleitos para o Parlamento alemão pelo partido populista de direita há vários nomes que chamara a atenção por declarações polêmicas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Stratenschulte
Alice Weidel
Antes de ser escolhida para encabeçar a lista de candidatos da AfD, em abril de 2017, esta consultora de empresas de 38 anos era praticamente desconhecida no cenário político alemão. Ela é natural de Gütersloh e vive com a parceira e os dois filhos desta na Alemanha e na Suíça. Weidel trabalhou como analista para gestão de patrimônio no banco Goldman Sachs, em Frankfurt.
Foto: Reuters/A. Schmidt
Alexander Gauland
Até 2013, o jurista Alexander Gauland, de 76 anos, foi membro da CDU. Natural de Chemnitz, este conservador-nacionalista ficou conhecido por comentários xenófobos. Ele disse que ninguém gostaria de ter alguém como o jogador negro Jérôme Boateng como vizinho e sugeriu que a encarregada do governo para assuntos de integração, Aydan Özoguz, perdesse a cidadania alemã e fosse "descartada" na Anatólia.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Beatrix von Storch
Beatrix Amelie Ehrengard Eilika von Storch é uma advogada de 46 anos e nasceu numa família nobre, a Casa de Oldenburg, em Lübeck, no norte da Alemanha. Ela é uma das poucas mulheres da AfD no Bundestag. Esta fundamentalista cristã é contra o aborto e causou polêmica com a sugestão de atirar contra refugiados, inclusive mulheres e crianças, que tentarem cruzar a fronteira da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Murat
Wilhelm von Gottberg
Este ex-policial de 77 anos chegou a ser prefeito pela CDU no leste da Alemanha, mas deixou o partido em 2011. Ele foi por muito tempo vice-presidente da associação dos alemães que, com o fim da Segunda Guerra, foram expulsos dos antigos territórios alemães no Leste Europeu e chamou o Holocausto de "instrumento eficaz para a criminalização dos alemães e de sua história".
Foto: picture-alliance/dpa/T. Brakemeier
Petr Bystron
Este consultor de empresas de 44 anos é natural da antiga Tchecoslováquia e, até 2013, integrava o Partido Liberal Democrático. Embora seja considerado um moderado, ele é, até onde se sabe, o único político da AfD que é vigiado pelo serviço secreto interno da Alemanha. O motivo: sua proximidade com o Movimento Identitário, que defende a preservação das "identidades nacionais europeias".
Foto: picture-alliance/dpa/A. Weigel
Mariana Harder-Kühnel
Em seu site, esta advogada de Hessen defende a "proteção do cidadão, o fortalecimento da família e a restauração do Estado de Direito". Na página do escritório de advocacia de seu marido, onde ela trabalha, o currículo dela não menciona a militância na AfD.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Leif-Erik Holm
Este ex-radialista (ao centro na foto) de 47 anos é natural de Schwerin, no nordeste da Alemanha, e considerado um moderado. Ele já foi o assessor da agora também deputada federal pela AfD Beatrix von Storch. Até esta eleição, ele foi o líder da bancada da AfD em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, onde o partido é a principal força de oposição ao governo estadual.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Bockwoldt
Martin Hohmann
Este político de 69 anos, natural de Fulda, é o único deputado da AfD que já ocupou um mandato no Bundestag, na época pela CDU. Em 2003, no Dia da Unidade Alemã, ele fez um discurso que foi considerado antissemita. Como consequência, acabou excluído da bancada da CDU no Parlamento alemão e, mais tarde, do partido. Ele é frequentemente associado à ala ultradireitista da AfD.
Foto: Imago/Hartenfelser
Jens Maier
Este juiz do Tribunal Regional de Dresden tem 55 anos. Referindo-se ao polêmico deputado estadual Björn Höcke, líder da AfD da Turíngia, ele mesmo se considera "o pequeno Höcke". Maier defende o fim do que chama de "culto da culpa" dos alemães e adverte contra a "criação de povos misturados", pelo que foi repreendido pela corte onde trabalha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert
Armin-Paul Hampel
Este político de 60 anos foi jornalista da emissora pública ARD. É amigo de Alexander Gauland e, na condição de membro da cúpula nacional da AfD, votou contra a exclusão de Björn Höcke por sua crítica ao Memorial do Holocausto, em Berlim. Ele mantém ligações com organizações de ultradireita na Alemanha, como uma que é vigiada pelo serviço secreto interno.
Foto: Reuters/W. Rattay
Frauke Petry
A co-presidente e rosto mais conhecido da AfD anunciou, logo após a eleição, que não integrará a bancada dos populistas no Bundestag e, um dia depois, que deixará o partido, mas sem definir data. Esta química de formação foi casada com um pastor evangélico, com quem tem quatro filhos e de quem se separou em 2015. Ela casou de novo e teve um quinto filho. Petry é associada à ala moderada da AfD.