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Afeganistão

Matthias Klein (rr)18 de junho de 2007

Em entrevista à DW-WORLD.DE, a especialista em Afeganistão Citha D. Maass explica por que não se pode evitar a ocorrência de vítimas civis na luta contra o Talibã.

Estratégia do Talibã é jogar população contra tropas da IsafFoto: AP

As Forças Armadas americanas confirmaram nesta segunda-feira (18/06) a morte de sete crianças durante um bombardeio aéreo contra uma escola religiosa no oeste do Afeganistão, suspeita de abrigar combatentes da Al Qaeda.

Um porta-voz dos EUA caracterizou a situação como "muito lamentável" e as tropas da operação Liberdade Duradoura se desculparam pelo ocorrido, mas reiteraram a culpa de rebeldes extremistas.

A DW-WORLD.DE falou a respeito com a especialista em Afeganistão Citha D. Maass.

DW-WORLD.DE: Em um recente ataque aéreo das Forças Armadas americanas no Afeganistão, sete crianças foram forçadas a permanecer em um edifício como "escudos humanos". Existem provas da existência de estratégias como esta por parte do Talibã?

Dr. Citha D. Maass: Naturalmente, não existem provas, mas, nos últimos meses, fomos freqüentemente informados de que o Talibã emprega essa tática. Trata-se, com certeza, de uma parte fundamental de sua tática. Isso representa um enorme dilema para as tropas da Otan, a Isaf [Força Internacional de Assistência ao Afeganistão], já que elas não podem dizer às crianças que saiam e aos Talibãs que continuem lá dentro.

Há pouco tempo, a Otan anunciou que pretende reduzir o total de membros da população civil que se torna vítima de lutas armadas. Como isso será possível?

Não se pode evitar completamente a ocorrência de vítimas civis nesse tipo de tática guerrilheira. Sempre é preciso levar em conta as proporções. Vale a pena pagar este preço ou é melhor evitar? É mais provável que seja dada ordem de ataque aéreo quando se tem informações seguras de que se trata de Talibãs realmente importantes do que quando se tem informações seguras de que se trata apenas de simpatizantes. Pois, quanto mais vítimas civis houver, mais a população se voltará contra as tropas da Isaf.

O que isso significa em detalhes? O que acontece, quando se sabe que há vítimas civis?

Isso faz parte da tática do Talibã: gerar desgosto e raiva na população. O que, então, se traduz em manifestações contra as tropas da Isaf ou em protestos contra cidadãos civis que lá estão para ajudar na reconstrução do país. Uma saída poderia ser tentar esclarecer a população, mas isso só é possível em uma escala relativamente pequena. No final das contas, o Talibã provavelmente acabará na melhor posição.

Isso significa que a tática do "escudo humano" põe consideravelmente em perigo a operação dos soldados internacionais?

Sim. É esse o objetivo dessa tática guerrilheira, que funciona assimetricamente. De um lado, estão as tropas altamente equipadas da Isaf e, de outro, guerrilheiros como os do Talibã, que querem dar alfinetadas através de "escudos civis" ou de atentados suicidas. Eles tentam desestabilizar as tropas da Isaf e jogar a população contra as tropas internacionais.

De acordo com diplomatas da Otan, os principais responsáveis por vítimas civis são soldados da operação Liberdade Duradoura. Pode-se dizer que a Isaf age com mais prudência?

Em princípio, a Isaf tem outro mandato, outra maneira de agir. Devemos observar especialmente no sul – é esta a questão primordial –, o modo como as duas unidades cooperam. As tropas da Isaf não possuem apoio aéreo, o que significa que, ao cair numa emboscada, têm que pedir ajuda. E a ajuda vem dos americanos, que, por sua vez, atuam sob o mandato da operação Liberdade Duradoura.

Não se pode dizer quem age de que maneira, é simplesmente um procedimento cooperativo, que define que ataques aéreos são feitos por aviões da operação Liberdade Duradoura. Se uma tropa da Isaf cair numa cilada, é natural que ela tente se libertar, está na natureza da coisa, e aí se dá a ligação das tropas.

Nas suas próprias palavras, não se pode evitar completamente a ocorrência de vítimas civis. Seria preciso levar em conta as proporções. Isso não é cinismo, quando o que está em jogo é a vida de seres humanos?

Não, a Isaf percebeu que, com essa tática, o Talibã só pretende jogar a população contra as tropas internacionais. Por isso, se tornou cada vez mais cuidadosa. Mas, em princípio, isso é algo inevitável, que faz parte da tática guerrilheira. Eu não falaria em cinismo de forma alguma, pois estou certa de que, em cada caso específico, os soldados avaliam muito bem se é possível atacar ou não. Sendo que às vezes o objetivo do ataque é proteger as tropas internacionais e outras vezes, atacar combatentes do Talibã que tenham se fechado, por exemplo, numa escola religiosa.

O secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, disse em entrevista à Deutsche Welle que a Otan se encontra "numa categoria moral diferente" que a do Talibã. Será que os cidadãos afegãos também vêem as coisas dessa forma?

Duvido. Especialmente no sul do país, economicamente enfraquecido por anos de seca, onde as pessoas lutam para sobreviver. Categorias morais simplesmente não funcionam aí.

Citha D. Maass é especialista em Afeganistão no Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP). Ela trabalha no grupo de pesquisa sobre a Ásia e investiga, entre outras coisas, os problemas do processo de consolidação no Afeganistão e a atuação da Alemanha no país.

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