Agência aponta falhas graves em controles de doping no Rio
28 de outubro de 2016
Relatório da Agência Mundial Antidoping cita contratempos com equipamentos e planejamento: atletas "simplesmente não conseguiam ser encontrados" e "houve pouco ou nenhum teste sanguíneo em modalidades de alto risco".
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A Agência Mundial Antidoping (Wada) acusou o Comitê Olímpico Internacional (COI) de "falhas graves" durante a coleta de amostras de atletas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, realizados neste ano.
O relatório de 55 páginas, publicado nesta quinta-feira (28/10) por uma equipe de analistas independentes em Montreal, afirma que os funcionários responsáveis pelos controles de doping careciam de treinamento fundamental. Além disso, aponta o texto, faltaram equipamentos para os testes, e o planejamento foi "inadequado" em vários momentos durante os Jogos.
Os analistas afirmam que vários atletas escolhidos para os controles de doping nos Jogos Olímpicos "simplesmente não conseguiam ser encontrados", enquanto houve "pouco ou nenhum teste sanguíneo em competições de modalidades esportivas consideradas de alto risco" nos Jogos do Rio.
"Isso mina o respeito e a confiança entre os atletas no programa antidoping e oferece oportunidades para competidores experientes e sem escrúpulos que gostariam de abusar do sistema para manipular o processo de controle de doping", afirma o relatório.
O documento diz ainda que "alguns destes atletas não encontrados na Vila Olímpica foram, em seguida, alocados para controles de doping fora de competições para o dia seguinte, ou orientados a realizarem testes durante competições subsequentes, mas devido a problemas logísticos [...] frequentemente foi o caso de que esses testes também não pudessem ser conduzidos". Em alguns casos, até 50% dos controles planejados tiveram de ser abortados.
O relatório afirmou também que algumas das falhas nos Jogos do Rio de Janeiro estavam fora da alçada dos organizadores, enquanto outras eram consequências de "cortes financeiros e operacionais". A Wada aproveitou a publicação do relatório para dar algumas recomendações, afirmando, por exemplo, que os responsáveis pelo controle antidoping precisam ser mais bem treinados – especialmente os "chaperones", aqueles que escoltam os atletas.
Por outro lado, a Wada elogiou os padrões do laboratório de testes no Rio de Janeiro, salientando o legado deixado para o movimento antidoping na América do Sul. "Apesar dos problemas com funcionários, restrições de recursos e outras dificuldades logísticas, aqueles encarregados da execução do programa e, em particular os voluntários, merecem imenso crédito", disse Jonathan Taylor, presidente da equipe de analistas.
As dificuldades durante os Jogos resultaram num número reduzido de controles antidoping. Em vez dos planejados 5.380 testes, foram realizados somente 4.882. E apenas cerca de 10% dos planejados testes de sangue via passaporte biológico foram cumpridos.
Apesar dos números e da avaliação insatisfatória, o COI saudou o relatório. "Foram Jogos Olímpicos bem-sucedidos com um exitoso programa antidoping", disse o médico e diretor científico Richard Budgett. Ele prometeu que as recomendações da Wada serão passadas para a nova autoridade independente de testes antidoping a ser criada antes dos Jogos de Inverno de 2018, em Pyeongchang, na Coreia do Sul.
PV/sid/rtr/dpa
Desculpas curiosas para o doping
Seja a sogra, o irmão gêmeo não nascido ou a pasta de dente: esportistas que se dopam procuram, geralmente, pôr a culpa nos outros ou contam as histórias mais miraculosas. Aqui uma seleção de explicações curiosas.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Coch
Lista negligenciada
"Tomo este medicamento desde 2006", disse a tenista Maria Sharapova, sem explicar por que ela, uma atleta saudável, precisa de um remédio cardiovascular. Desde o início de 2016, o meldonium, usado pela tenista, está na lista de doping. A explicação da atleta: "Eu não vi a lista."
Foto: picture-alliance/dpa/M.Murat
O abacate
Com 39 anos, Linford Christie (2° da esq. para dir.) já estava no outono de sua carreira, quando foi pego num exame antidoping em 1999. O agente dopante nandrolona foi encontrado no organismo do campeão olímpico de 1992. A explicação dele é interessante: ele não tomou o esteroide, mas comeu abacates. Somente Christie sabe o que essas frutas têm a ver com a nandrolona.
Foto: picture-alliance/Sven Simon
A dieta
Um fato inédito na Espanha: um esquiador de cross-country ganhou três medalhas de ouro para os ibéricos nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002. Johann Mühlegg se juntou à equipe espanhola após um desentendimento com a federação alemã. Ele foi pego devido ao hormônio EPO. Sua explicação: "Nos últimos cinco dias, fiz uma dieta especial, somente com proteínas e carboidratos". Ou seja, sem EPO.
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O uísque
Inicialmente como auxiliar precioso à sombra de Lance Armstrong (dir.), o ciclista Floyd Landis (esq.) se tornou, de repente, vencedor da Volta da França após a saída de Armstrong: em 2006, Landis foi testado positivamente para testosterona. Após um colapso total, ele retornou de forma espetacular. Na ocasião, o ciclista disse que havia tomado muito uísque, mas depois admitiu o doping.
Foto: picture-alliance/dpa
A potência
Adrian Mutu só tinha boas intenções. Em 2004, o então atacante do Chelsea consumiu cocaína, mas naturalmente não para aumentar a sua perfomance em campo, mas para satisfazer o parceiro. "Só fiz isso para elevar minha potência sexual". A Corte Arbitral do Esporte (CAS) reagiu com indiferença às histórias de cama de Mutu e lhe condenou a multa de 17,2 milhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa
O suco
Numa coletiva de imprensa convocada às pressas, Martina Hingis anunciou a sua despedida do tênis em 2007, devido a dores nas costas e a um teste positivo. No campeonato de Wimbledon, ela foi pega por cocaína. Doping? Não, Hingis viu uma conspiração em curso. "Alguém a colocou no meu suco."
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O espaguete
O atleta de bobsled britânico Lenny Paul foi pego em 1997 com um nível elevado de nandrolona – um clássico entre as substâncias dopantes. A sua desculpa para o teste positivo foi menos habitual: "eu comi espaguete à bolonhesa, a carne era de bovinos tratados com hormônios". Também o ciclista Alberto Contador usou o bife contaminado para explicar o seu caso.
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A bombinha de asma
A ciclista Ivonne Kraft foi testada positivamente em 2007. A substância encontrada: fenoterol. Kraft a teria supostamente inalado: "A bombinha de asma da minha mãe estourou. Estava do lado e respirei toda a nuvem de spray." Uma coincidência muito infeliz.
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A sogra
Quase como do nada, Raimundas Rumsas subiu ao pódio da Volta da França. Enquanto os especialistas se mostravam surpresos, Edita, esposa de Rumsas, era pega na alfândega com diversas substâncias dopantes. O casal Rumsas afirmou que os medicamentos seriam para a sogra enferma do profissional do ciclismo.
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O romance
O ciclista Mario de Clercq era considerado, em 2003, um dos melhores na sua profissão. Então, foram encontrados com ele registros sobre medicamentos, planos de treinamento e tabelas de hematócrito (quantidade de hemácias no sangue). De Clercq negou veementemente o doping, alegando que tudo seria usado nas pesquisas para o romance que estaria escrevendo.
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A pasta de dente
Uma das histórias de doping mais contadas foi a do atleta alemão Dieter Baumann. O campeão olímpico de 1992 foi testado positivamente em 1999 e tentou vender a versão de uma pasta de dente manipulada. O renomado especialista em doping Werner Franke considera a ousada teoria como digna de credibilidade. Mas os dois ainda continuam devendo as devidas provas.
Foto: picture-alliance/dpa
O irmão gêmeo não nascido
Nos Jogos Olímpicos de 2004, o ciclista Tyler Hamilton conseguiu sua maior proeza: medalha de ouro na corrida contra o relógio. Então veio o choque: teste positivo para doping sanguíneo. "As hemácias estranhas no meu corpo foram produzidas pelas células estaminais do meu irmão gêmeo que morreu antes de nascer." Uma história fantástica, que posteriormente o próprio Hamilton afirmou ser mentira.
Foto: picture alliance / dpa
O presente sexual
Em maio de 1992, o velocista americano Dennis Mitchell (dir.) ganhou a medalha de ouro por equipe. Seis anos mais tarde, ele foi testado positivamente para testosterona. O atleta justificou o achado com quatro garrafas de cerveja e muito sexo. "Era o aniversário da garota. Ela merecia algo especial."
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Bombons e chá
Cuidado com as guloseimas provenientes de familiares: em 2004, o ciclista italiano Gilberto Simoni foi pego por cocaína. Segundo ele, isso não tinha nada a ver com doping. "Minha mãe me enviou bombons do Peru que estavam embrulhados em folha de coca." Numa outra declaração, ele colocou a culpa no chá da tia.