Agência da ONU para palestinos reage a corte dos EUA
17 de janeiro de 2018
Após Washington congelar metade da verba destinada à UNRWA em janeiro, órgão anuncia campanha de arrecadação para garantir assistência a milhões de refugiados palestinos.
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A Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) anunciou nesta quarta-feira (17/01) o lançamento de uma campanha de arrecadação de fundos para cobrir a lacuna deixada por um corte na contribuição dos Estados Unidos.
Washington afirmou nesta terça-feira que congelou 65 milhões dos 125 milhões de dólares que deveria repassar à UNRWA em janeiro. Os EUA – que em 2016 foram os maiores doadores da organização, com 335 milhões de dólares – disseram que reformas devem ser realizadas, sem especificar quais são.
"Esta redução na contribuição ameaça uma das iniciativas de desenvolvimento humano mais bem-sucedidas e inovadoras do Oriente Médio", disse o comissário-geral da UNRWA, Pierre Krähenbühl.
Segundo ele, a agência da ONU está diante da mais dramática crise financeira de sua história. O comissário-geral afirmou que apelará a outros países doadores da UNRWA por fundos para conseguir manter as escolas e clínicas médicas para refugiados em funcionamento.
"Está em jogo o acesso de 525 mil meninos e meninas a 700 escolas da UNRWA, e o seu futuro. Estão em jogo a dignidade e a segurança de milhões de refugiados palestinos que necessitam de assistência alimentar de emergência e outros tipos de apoio na Jordânia, no Líbano, na Síria, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza", disse.
Mais instabilidade para o Oriente Médio
Krähenbühl acrescentou que, num momento em que o Oriente Médio "enfrenta múltiplos riscos e ameaças, especialmente o de uma maior radicalização", o corte na contribuição do maior doador da agência pode elevar a instabilidade na região.
Já irritados com a recente decisão do presidente americano de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, os palestinos criticaram o corte nos fundos de Washington. A manobra pode piorar a situação na Faixa de Gaza, onde a maioria dos 2 milhões de habitantes depende da ajuda da UNRWA.
No início de janeiro, Trump afirmou via Twitter que os EUA dão aos palestinos "centenas de milhões de dólares por ano e não recebem nenhuma apreciação ou respeito".
"Com os palestinos não querendo mais discutir a paz, por que deveríamos fazer esses amplos pagamentos a eles no futuro?", questionou em seguida.
Washington não vinculou o corte de fundos aos tuítes do presidente, mas justificaram a decisão afirmando que os EUA são os maiores doadores da UNRWA há décadas. Inicialmente, Trump queria cortar completamente a contribuição americana, mas críticos argumentaram que isso poderia desestabilizar ainda mais o Oriente Médio, segundo uma fonte do governo americano.
A agência da ONU para refugiados palestinos foi criada na Assembleia Geral da ONU de 1949, após centenas de milhares de palestinos fugirem ou serem expulsos de suas casas na guerra de 1948, na sequência da criação de Israel. A UNRWA afirma que atualmente presta assistência a 5 milhões de refugiados palestinos no Oriente Médio.
LPF/efe/rtr/dpa
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Nove livros para a era Trump
O novo presidente americano não lê muito. Mas, desde que ele chegou ao poder, livros sobre regimes totalitários voltam à lista de best-sellers. Conheça algumas obras que podem ajudar a entender seu estilo de governar.
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"1984"
Em "1984", George Orwell mostra ao leitor o que é viver num Estado totalitário, onde a vigilância é onipresente, e a opinião pública é manipulada pela propaganda. Desde a eleição de Donald Trump, o romance distópico voltou à lista dos mais vendidos. Mas outros clássicos, que descrevem cenários semelhantes, também se encontram cada vez mais sobre as mesas de cabeceira.
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"As origens do totalitarismo"
O ensaio de Hannah Arendt "As origens do totalitarismo" chamou bastante atenção após a sua publicação em 1951. Arendt, que havia fugido da Alemanha nazista, foi uma das primeiras teóricas a analisar a ascensão de regimes totalitários. Há poucas semanas, o livro apareceu por um curto período como esgotado no site de compras Amazon.
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Em 1962, Philip K. Dick descreveu em seu romance "O homem do castelo alto" como seria a vida nos Estados Unidos sob a ditadura de vitoriosos nazistas e japoneses após a Segunda Guerra. Em 2015 foi transmitida uma série de TV baseada vagamente no livro do escritor americano. Os cartazes de propaganda do seriado no metrô de Nova York (foto) foram motivo de controvérsia devido à sua simbologia.
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