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Agências ambientais dos EUA resistem a Trump

13 de fevereiro de 2017

Uma das primeiras medidas do presidente dos EUA foi tentar calar a Agência de Proteção Ambiental e o Departamento de Agricultura, proibindo-os de falar com a imprensa. Funcionários de longa data recusam-se a se render.

Ação do Greenpeace na Casa Branca, poucos dias após a posse de Trump
Ação do Greenpeace na Casa Branca, poucos dias após a posse de TrumpFoto: picture-alliance/Zuma/K. Cedeno

Entre as primeiras medidas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao assumir o cargo no dia 20 de janeiro, estava uma ordem para bloquear efetivamente quaisquer comunicações entre os funcionários da Agência de Proteção Ambiental (EPA) e do Departamento de Agricultura dos EUA com a imprensa. O governo congelou subsídios e orçamentos de contratos e proibiu os funcionários das duas entidades de fazer postagens nas páginas oficiais nas mídias sociais.

Leia mais: Trump aponta negador do aquecimento global para EPA

A reação interna foi rápida e decisiva. Cientistas do governo, muitos dos quais passaram suas vidas coletando dados sobre o aquecimento global e a contribuição dos EUA para esse fenômeno, romperam, com efeito, as barreiras digitais que Trump tentou impor. Pareceu que levou apenas alguns segundos para que surgisse o primeiro perfil "alternativo" no Twitter de uma agência governamental.

Até o momento, muitas das agências científicas que recebem financiamento do governo federal lançaram novas páginas na internet, desafiando os esforços de Washington. Foram constatados mais de 80 perfis alternativos no Twitter. Mesmo que a tentativa de amordaçar essas agências tenha sofrido alguns revezes, as contas alternativas persistem.

Medidas "não têm base na realidade"

Jamie Rappaport Clark começou sua carreira como funcionária pública federal no governo do ex-presidente Ronald Reagan, nos anos 1980, e se tornou diretora do Serviço Americano de Pesca e Vida Selvagem durante a presidência de Bill Clinton.

"As decisões que ele [Trump] está tomando, assim como as ordens executivas que voam para todos os lados, para mim não têm base na realidade de como um governo trabalha", afirmou Clark. Atualmente, ela é presidente e CEO da organização ambientalista Defenders of Wildlife (Defensores da Vida Selvagem).

Juntamente com diversas outras pessoas ligadas às agências ambientais, ela se diz incrédula em relação à forma como Trump tem lidado com essas questões. Ela utiliza as palavras como "imprudência", "absurdo", e "infantilidade" para descrever a situação a que esses órgãos estão sendo submetidos.

O indicado de Trump para liderar a EPA, Scott Pruitt, processou diversas vezes a agência na função de procurador-geral de OklahomaFoto: Reuters/J. Roberts

Eric Schaeffer, que foi diretor do Escritório de Processos Civis da EPA durante 12 anos, nos mandatos dos presidentes Clinton, George H.W. Bush e George W. Bush, compartilha do mesmo sentimento de Clark sobre a forma como o atual governo lida com os dados ambientais.

Ele, porém, analisa que isso poderá possibilitar à oposição a chance de ganhar terreno em relação ao governo. "Às vezes essas crises nos dão uma chance de reconquistar um patamar moral mais alto", observou o atual diretor da ONG Environmental Integrity Project (Projeto de Integridade Ambiental).

Caça às bruxas

Apesar de a mordaça ter sido parcialmente anulada, o indicado de Trump para chefiar a EPA, Scott Pruitt, aguarda votação no Senado americano para ser confirmado no cargo. Durante sua carreira, ele combateu as regulamentações da agência, tentando anulá-las. Os funcionários da EPA o acusam de ser declaradamente contra a ciência.

Considerando o desprezo de Pruitt pelo órgão e seu histórico de renegar as mudanças climáticas – além dos aparentes esforços do governo de Trump de identificar os cientistas do clima –, alguns temem que ocorra uma caça às bruxas.

No entanto, mesmo com a provável confirmação de Pruitt no cargo, Schaeffer e Clark dizem não ter dúvidas de que funcionários da EPA farão todo o possível para assegurar que as vozes dos cientistas sejam ouvidas, haja o que houver.

"Esse desprezo pelo papel das agências governamentais sairá pela culatra, sem dúvida. [Os funcionários] se veem na obrigação de agir em nome do povo americano", diz Clark.

Schaeffer acredita que novas tentativas de amordaçá-los resultarão apenas no vazamento de informações. Segundo ele, isso ocorre "quando as pessoas se sentem realmente frustradas, quando estão sendo abusadas ou acham que estão sendo ordenadas a fazer alguma coisa ilegal".   

Rebelião ambientalista

"Não vejo meus colegas seguindo Trump até a beira do abismo", disse Clark. "Deverá haver muita conversa de bastidor. O medo de uma retaliação é real, mas essas pessoas ficarão enfurecidas e magoadas o suficiente para fazer denúncias."

Clark disse ainda que torce de longe por seus ex-colegas enquanto eles criam portais de internet e perfis alternativos em redes sociais. "Eles já estão se rebelando", observou. 

Ao descrever agências ambientais como a EPA e seus funcionários, Schaeffer ressaltou que se tratam de especialistas e pessoas que dedicaram suas vidas a determinados temas, ganhando menos do que poderiam no setor privado. "Se alguém os insultar, o que acha que irá acontecer?", questionou.

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