Anotações de um dos mais importantes líderes nazistas dão detalhes do seu cotidiano e tornam mais claro o papel dele no Holocausto. Documentos foram encontrados em arquivo das Forças Armadas da Rússia.
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As agendas de compromissos do líder nazista Heinrich Himmler serão publicadas, confirmou nesta terça-feira (02/08) o Instituto Histórico Alemão de Moscou. Os documentos, que cobrem os anos de 1938 e 1943-45, foram descobertos em 2013 no arquivo do Ministério da Defesa da Rússia em Podolsk, nas proximidades da capital da Rússia.
As agendas, datilografadas por auxiliares, listam em detalhes os compromissos diários de Himmler e fecham uma lacuna sobre as atividades do líder nazista, depois da descoberta das agendas de 1940 e 1941-42, encontradas no início dos anos 1990 e publicadas em 1999.
Os documentos mostram um cronograma apertado de encontros com burocratas, generais nazistas, líderes estrangeiros, como Benito Mussolini, e visitas a campos de concentração, incluindo Auschwitz, Sobibor e Buchenwald.
Himmler é frequentemente considerado o número 2 de facto do regime nazista, logo após Adolf Hitler, e foi inicialmente chefe da força paramilitar nazista Sturmabteilung (SA), antes de o partido NSDAP chegar ao poder, em 1933.
No final do regime nazista, 12 anos depois (ele se suicidou em Lüneburg, em 23 de maio de 1945, quando estava sob custódia britânica), Himmler havia acumulado tantas posições – Reichsführer SS, chefe da polícia, Ministro do Interior, comandante do Ersatzheer (a parte da Wehrmacht que agia dentro da Alemanha) – que seu poder somente era superado pelo de Hitler.
Papel no Holocausto
O papel preponderante dava a Himmler o controle sobre os campos de concentração, bem como da agência de inteligência doméstica. Como nenhum outro líder nazista, além do ministro da Propaganda, Josef Goebbels, manteve anotações tão detalhadas sobre seu cotidiano, a publicação dos escritos de Himmler é vista como especialmente significativa.
"Goebbels era, na verdade, uma figura do segundo escalão", diz o historiador Matthias Uhl, do DHI, que coordena o projeto e estudou as agendas durante os últimos três anos. "É possível acompanhar minuto a minuto o dia de Himmler, e reconstruir algumas decisões importantes."
As agendas também tornam mais claro o papel de Himmler no Holocausto. "Agora é possível reconstruir o trabalho [de Himmler] na segunda metade da guerra", comenta Uhl. Os documentos mostram que Himmler passou por uma série de campos de concentração, bem como pelo gueto de Varsóvia (em 9 de janeiro de 1943) e teve um papel ativo na coordenação dos assassinatos em massa de judeus.
"E vemos como todos os seus contatos na sua rede de relações dentro do Estado e no setor econômico se ajustam para reforçar a posição dele", diz Uhl.
Discurso central
Uma das entradas mais importantes, publicada nesta terça-feira pelo Bild, pode ser encontrada no dia 4 de outubro de 1943, quando Himmler discursou num encontro de líderes da SS, às 5h30 no Hotel Ostland, em Poznan, uma cidade da Polônia ocupada.
A anotação documenta o primeiro dos famosos "discursos de Posen" (nome alemão para Poznan), um dos poucos momentos gravados em que um líder nazista fala abertamente sobre o Holocausto. Na fala, que durou três horas, e que teve uma parte lida nos Julgamentos de Nurembergue, Himmler diz: "Entre nós deve-se falar abertamente sobre isso, apesar de que jamais falaremos sobre isso em público – digo, sobre a evacuação judaica, sobre a extinção do povo judeu."
A agenda mostra que, após o discurso, Himmler participou de uma ceia com líderes da SS.
Sem dúvidas sobre autenticidade
Uhl também confirma que não há dúvidas de que as agendas são autênticas, tanto pelo conteúdo quanto pela coincidência exata com documentos similares da época. "Falsificar isso seria impossível", diz.
Os documentos foram encontrados no arquivo russo, marcados simplesmente com a palavra russa dnewnik, que significa diário, o que foi um dos motivos pelos quais estiveram desaparecidos durante tanto tempo. Uhl destacou que não se sabe como exatamente os documentos foram parar com o Exército Vermelho.
As anotações, totalizando mil páginas, serão publicadas em dois volumes, acrescidos de explicações e notas elaboradas por historiadores, no fim de 2017. O Bild publicou fotos e citações tiradas da agenda ao longo desta semana.
O arquivo de Podolsk contém cerca de 2,5 milhões de páginas de documentos confiscados pelo Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial. Eles estão sendo digitalizados e publicados por instituições teuto-russas.
Ruínas da Segunda Guerra – memoriais da paz
Em vários locais da Alemanha são mantidas partes de edificações destroçadas pela violência bélica. Elas recordam o poder devastador das armas e quanto a paz é preciosa.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Wolf
Testemunhas eloquentes
Difícil acreditar: em 1945, numerosas cidades alemãs estavam tão destruídas como, hoje, partes do Iraque ou da Síria. Destroçadas por bombardeios e nunca mais reconstruídas, ruínas em meio às metrópoles do país ainda prestam testemunho eloquente dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Em sua maioria, trata-se de edificações sacras, como a Igreja Memorial do Imperador Guilherme, em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hiekel
Novo e antigo
Inaugurada em 1895, no estilo neo-romântico, a Igreja Memorial do Imperador Guilherme (Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche) sucumbiu a um ataque aéreo dos Aliados em 23 de novembro de 1943. Apenas a ruína da torre principal, com 71 metros de altura, foi preservada como memorial. Os quatro prédios que a rodeiam ficaram prontos em 1961, e hoje todo o complexo arquitetônico é tombado.
Foto: picture alliance/akg-images
Do culto à cultura
A história da Igreja do Convento Franciscano no bairro berlinense de Mitte remonta ao ano 1250. Em consequência da Reforma Luterana, em 1539 o convento foi fechado. E, em 3 de abril de 1945, o fogo choveu do céu. As ruínas da igreja foram protegidas, como único prédio da época a sobreviver à Segunda Guerra. Restaurada, desde 2004 ela abriga exposições, apresentações teatrais e concertos.
Foto: gemeinfrei/imago/F. Berger
Memorial no Reno
Destruída e jamais recuperada, a Igreja de Santo Albano fica na parte histórica da cidade renana de Colônia. Na foto veem-se os restos do coro. A antiga nave, hoje descoberta, serve de memorial para os mortos da guerra. Em seu centro, uma escultura evocativa apela pela paz: "Pai e mãe de luto", de Ernst Barlach, com base num desenho de Käthe Kollwitz.
Foto: CC BY-SA 3.0/Raimond Spekking
Sobrevivente solitária
A pouca distância de Santo Albano está Santa Colomba, uma das mais antigas igrejas paroquiais de Colônia. Sua pedra fundamental foi lançada em 980. Após a destruição quase total em 1943, além de uns poucos resquícios dos muros externos, datando do fim da Idade Média, restou apenas uma figura de Nossa Senhora, em meio aos escombros.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Gambarini
Destaque no museu
Para abrigar essa estátua da Virgem construiu-se no mesmo local, já em 1947-50, uma capela octogonal. Desde então ela é, para os colonianos, a "Madona dos Escombros". Em 1956-57, a capela marista foi ampliada em capela sacramental quadrilateral. Em 2007, a Igreja de Santa Colomba foi totalmente integrada ao edifício do novo Museu Episcopal Diocesano.
Foto: CC BY-SA 3.0/Elke Wetzig
Esplendor barroco perdido
Datando do século 12, o Palácio Zerbst, na Saxônia-Anhalt, era residência dos príncipes de Anhalt-Zerbst. Reformas no século 17 lhe deram uma estrutura em três alas, e passou a constar entre as principais edificações barrocas da Alemanha central. Em criança, a princesa Sofia Augusta Frederica de Anhalt-Zerbst ia visitar lá os seus parentes. Ela seria coroada em 1762 Catarina 2ª, czarina da Rússia.
Foto: picture-alliance/AKG
Ainda há esperança
Em abril de 1945, o Palácio Zerbst foi atingido por bombas aliadas e totalmente consumido no incêndio subsequente. Sua preciosa decoração interna se perdeu. A reconstrução teria sido possível, mas foi rejeitada por motivos políticos. Somente a ruína da ala leste escapou à demolição, e uma associação de amigos cuida para que seja mantida. Sua meta é a restauração fiel da parte exterior da ala.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Wolf
De "bunker" a igreja
Apesar de não ser uma ruína, este "hochbunker" (abrigo de superfície) em Düsseldorf é mantido como memorial. Para fins de proteção, no início dos anos 1940 ele fora camuflado como igreja. A partir de 1949, foi então transformado de fato em casa de culto. O prédio tombado, que também funciona como local de exposições, é arquitetonicamente ímpar, sendo considerado a igreja mais segura do mundo.
Foto: CC BY-SA 3.0/Ilion
Usina memorial
Este antigo abrigo de superfície em Hamburgo-Wilhelmsburg é igualmente único no mundo. Enquanto, após o fim da guerra, grande parte dessas edificações sucumbiram ao tempo, ele foi amplamente saneado e transformado num "Energiebunker". Equipado com painéis fotovoltaicos e uma usina regeneradora dotada de armazenador de calor, o colosso de concreto fornece eletricidade e calefação à população.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Altura fatídica
As origens da Igreja de São Nicolau de Hamburgo remontam a 1195. Após um incêndio em 1842, foi consagrada no local, 32 anos mais tarde, uma casa de culto totalmente nova, em estilo neogótico. Por um tempo, sua torre de 147 metros foi a construção mais elevada do mundo. Porém, em 23 de julho de 1943, sua altura provou-se fatídica, ao servir de ponto de orientação para os bombardeiros dos Aliados.
Foto: gemeinfrei
Hamburgo-Gomorra
Somente a torre e os porões abobadados resistiram. Ao fim da Segunda Guerra, o Senado hamburguês decidiu não reerguer a Igreja de São Nicolau. Suas ruínas permanecem até hoje como ferida aberta, dedicadas "às vítimas da guerra e da ditadura entre 1933 e 1945". Nos porões criou-se um centro de documentação, com a mostra permanente "Gomorra 1943 – A destruição de Hamburgo na guerra aérea".
Foto: picture-alliance/dpa
Sobrevivência por um triz
Em 1945 jazia em destroços, em Dresden, a famosa Frauenkirche, a igreja protestante de Nossa Senhora. Após sobreviver aos devastadores ataques aéreos de 13 e 14 de fevereiro, no dia seguinte a cúpula de pedra dessa chamada "pérola do Barroco" desmoronou. A Alemanha Oriental não tinha verbas para reerguê-la, e por muitos anos as ruínas jazeram como memorial contra a guerra e a destruição.
Foto: Hulton Archive/AFP/Getty Images
Esperança contra a devastação
Com a Reunificação, iniciou-se em 1996 a reconstrução da Frauenkirche, concluída em 2005. O financiamento do projeto de 180 milhões de euros envolveu 16 associações de amigos no país e no exterior, assim como doações de todo o mundo. As pedras da edificação original foram integradas nos novos muros. A igreja reerguida tornou-se, assim, um símbolo de esperança e do entendimento entre os povos.
Foto: DW/Holm Weber
Recomeço a partir dos escombros
Já em 1947, a Igreja da Ressurreição de Pforzheim, sul da Alemanha, foi a primeira construída no país, no pós-Guerra. Como material de construção, 30 mil tijolos das casas circundantes foram desenterrados, coletados e meticulosamente limpos. Além de sinalizar um recomeço, ela serviu de modelo para 46 "igrejas de emergência" nas cidades alemãs destruídas na Segunda Guerra.