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Agenda de Heinrich Himmler será publicada

Ben Knight (as)3 de agosto de 2016

Anotações de um dos mais importantes líderes nazistas dão detalhes do seu cotidiano e tornam mais claro o papel dele no Holocausto. Documentos foram encontrados em arquivo das Forças Armadas da Rússia.

Heinrich Himmler
Foto: picture-alliance/dpa

As agendas de compromissos do líder nazista Heinrich Himmler serão publicadas, confirmou nesta terça-feira (02/08) o Instituto Histórico Alemão de Moscou. Os documentos, que cobrem os anos de 1938 e 1943-45, foram descobertos em 2013 no arquivo do Ministério da Defesa da Rússia em Podolsk, nas proximidades da capital da Rússia.

As agendas, datilografadas por auxiliares, listam em detalhes os compromissos diários de Himmler e fecham uma lacuna sobre as atividades do líder nazista, depois da descoberta das agendas de 1940 e 1941-42, encontradas no início dos anos 1990 e publicadas em 1999.

Os documentos mostram um cronograma apertado de encontros com burocratas, generais nazistas, líderes estrangeiros, como Benito Mussolini, e visitas a campos de concentração, incluindo Auschwitz, Sobibor e Buchenwald.

Himmler é frequentemente considerado o número 2 de facto do regime nazista, logo após Adolf Hitler, e foi inicialmente chefe da força paramilitar nazista Sturmabteilung (SA), antes de o partido NSDAP chegar ao poder, em 1933.

No final do regime nazista, 12 anos depois (ele se suicidou em Lüneburg, em 23 de maio de 1945, quando estava sob custódia britânica), Himmler havia acumulado tantas posições – Reichsführer SS, chefe da polícia, Ministro do Interior, comandante do Ersatzheer (a parte da Wehrmacht que agia dentro da Alemanha) – que seu poder somente era superado pelo de Hitler.

Heinrich Himmler durante visita ao campo de concentração de DachauFoto: Imago/ITAR-TASS

Papel no Holocausto

O papel preponderante dava a Himmler o controle sobre os campos de concentração, bem como da agência de inteligência doméstica. Como nenhum outro líder nazista, além do ministro da Propaganda, Josef Goebbels, manteve anotações tão detalhadas sobre seu cotidiano, a publicação dos escritos de Himmler é vista como especialmente significativa.

"Goebbels era, na verdade, uma figura do segundo escalão", diz o historiador Matthias Uhl, do DHI, que coordena o projeto e estudou as agendas durante os últimos três anos. "É possível acompanhar minuto a minuto o dia de Himmler, e reconstruir algumas decisões importantes."

As agendas também tornam mais claro o papel de Himmler no Holocausto. "Agora é possível reconstruir o trabalho [de Himmler] na segunda metade da guerra", comenta Uhl. Os documentos mostram que Himmler passou por uma série de campos de concentração, bem como pelo gueto de Varsóvia (em 9 de janeiro de 1943) e teve um papel ativo na coordenação dos assassinatos em massa de judeus.

"E vemos como todos os seus contatos na sua rede de relações dentro do Estado e no setor econômico se ajustam para reforçar a posição dele", diz Uhl.

Discurso central

Uma das entradas mais importantes, publicada nesta terça-feira pelo Bild, pode ser encontrada no dia 4 de outubro de 1943, quando Himmler discursou num encontro de líderes da SS, às 5h30 no Hotel Ostland, em Poznan, uma cidade da Polônia ocupada.

A anotação documenta o primeiro dos famosos "discursos de Posen" (nome alemão para Poznan), um dos poucos momentos gravados em que um líder nazista fala abertamente sobre o Holocausto. Na fala, que durou três horas, e que teve uma parte lida nos Julgamentos de Nurembergue, Himmler diz: "Entre nós deve-se falar abertamente sobre isso, apesar de que jamais falaremos sobre isso em público – digo, sobre a evacuação judaica, sobre a extinção do povo judeu."

A agenda mostra que, após o discurso, Himmler participou de uma ceia com líderes da SS.

Sem dúvidas sobre autenticidade

Uhl também confirma que não há dúvidas de que as agendas são autênticas, tanto pelo conteúdo quanto pela coincidência exata com documentos similares da época. "Falsificar isso seria impossível", diz.

Os documentos foram encontrados no arquivo russo, marcados simplesmente com a palavra russa dnewnik, que significa diário, o que foi um dos motivos pelos quais estiveram desaparecidos durante tanto tempo. Uhl destacou que não se sabe como exatamente os documentos foram parar com o Exército Vermelho.

As anotações, totalizando mil páginas, serão publicadas em dois volumes, acrescidos de explicações e notas elaboradas por historiadores, no fim de 2017. O Bild publicou fotos e citações tiradas da agenda ao longo desta semana.

O arquivo de Podolsk contém cerca de 2,5 milhões de páginas de documentos confiscados pelo Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial. Eles estão sendo digitalizados e publicados por instituições teuto-russas.

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