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Agentes infiltrados causam revolta entre torcedores alemães

11 de janeiro de 2013

Alguns estados da Alemanha admitiram usar informantes para vigiar certas torcidas organizadas. Órgãos públicos dizem se tratar de medidas de prevenção contra a violência. Os torcedores respondem com indignação.

Foto: getty

Gangues de motoqueiros, traficantes de drogas ou terroristas – normalmente são nesses contextos que as autoridades de segurança pública utilizam agentes infiltrados para obter informações. Agora entraram na mira do serviço de proteção à Constituição alemã, o Verfassungsschutz, também torcidas organizadas de futebol de três Estados.

Após um requerimento formal feito pelo Partido Pirata, o governo estadual da Renânia do Norte-Vestfália admitiu que alguns informantes são alocados em torcidas organizadas. "O objetivo não é espionar torcedores de futebol", tentou amenizar Wolfgang Beus, porta-voz da Secretaria do Interior. A meta seria evitar atos criminosos e de violência. Os estados de Baden-Württemberg e Renânia Palatinado também coletam informações por meio de agentes infiltrados.

Revolta dos torcedores

12:12 - sem voz, sem atmosferaFoto: picture-alliance/dpa

A descoberta reacendeu a discussão sobre a segurança nos estádios de futebol na Alemanha. Enquanto a maioria dos torcedores ainda se mostra suspresa, alguns representantes de torcidas organizadas não poupam críticas. "Este é um nível completamente novo. Isso vai nos levar aonde? Queremos um Estado totalmente vigiado?", indagou Rene Lau, de um grupo de advogados que representam torcedores. Philipp Markhardt, porta-voz dos movimentos ProFans e 12:12, teceu críticas pesadas. "Eu me pergunto a que ponto nosso país chegou, em que torcedores de futebol são comparados a extremistas políticos e terroristas. Será que o país não tem problemas mais sérios do que tumultos no futebol?"

O assistente social Andreas Schmidt, membro do projeto Torcedores de Colônia, avaliou o uso de informantes em torcidas como "muito negativo". "Este é mais um passo dentro da espiral da discriminação de torcedores de futebol", disse ele à DW. "As torcidas organizadas já são muito céticas perante influências externas. Tais medidas não constroem um elo de confiança", acrescentou Schmidt.

A última polêmica em torno dos torcedores tinha terminado há pouco tempo. Em dezembro do ano passado foi aprovado um novo plano de segurança, com aumento da revista dos torcedores na entrada dos estádios e a redução do contingente de ingressos para a torcida visitante.

Jan-Hendrik Gruszecki, porta-voz do 12:12, reuniu-se com o DFLFoto: picture-alliance/dpa

Para esclarecer as medidas, os diretores da Liga de Futebol Alemã (DFL, em alemão) reuniram-se na terça-feira (08/01) com representantes dos "Ultras", como são chamadas as torcidas organizadas na Europa. Iniciou-se uma aproximação cuidadosa. "A DFL deixou claro que pretende futuramente colocar os interesses dos torcedores mais em foco", acentuou Jan-Hendrik Gruszecki, também porta-voz do 12:12, movimento criado justamente para protestar contra o plano de segurança.

O uso de informantes em estádios de futebol parece não ter surpreendido só os torcedores, mas também a direção do futebol alemão. A DFL não quis comentar o caso.

Diferentes opiniões

Boatos sobre o uso de agentes infiltrados em torcidas organizadas, principalmente naquelas mais propensas à violência, sempre existiram. Ainda assim, a ira com a confirmação foi grande. O sociólogo da ciência do esporte Gunter Pilz, um dos mais renomados pesquisadores alemães nos quesitos violência e conflitos, considera a reação exagerada. "Eu não consigo entender isso como um ataque frontal contra os torcedores. A observação de elementos extremos aumenta a segurança dos próprios torcedores. Isto tem que ser diferenciado", disse Pilz.

Diretor de um instituto da universidade de Würzburg que pesquisa o comportamento e a importância social de torcidas organizadas, Harald Lange é de outra opinião. "Tais aplicações só seriam justificáveis se houvesse um real motivo de insegurança, tendo em vista as outras áreas em que informantes são alocados sistematicamente", explicou o pesquisador em entrevista à DW. "Caso esses informantes fossem pesquisar quaisquer temas referentes ao comportamento das torcidas, eu ficaria bastante irritado." O pesquisador destacou o recém-criado 12:12, "uma ação de protesto original e pacífica". A marca do movimento foi o silêncio absoluto de todas as torcidas organizadas até os 12 minutos e 12 segundo de jogo.

Melhoria na revista dos torcedores pretende acabar com a pirotecnia nos estádiosFoto: picture-alliance/dpa

Na opinião de Lange, nem o uso de pirotecnias justifica as medidas: "Caso os temas relacionados às torcidas organizadas fossem investigados desta maneira, isso seria uma enorme perda de confiança", disse o pesquisador.

Entretanto, também ficou claro que não há vigilância em âmbito nacional. Respondendo a um requerimento formal, a maioria dos estados alemães esclareceram que obtêm as informações de que necessitam sem o uso de informantes. Assim sendo, o maior receio dos torcedores parece não se confirmar.

Autor: Jens Krepela / Olivia Fritz (pv)
Revisão: Francis França

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